Acúmulo de coisas demais pode sinalizar sofrimento emocional
A palavra-chave aqui não é desorganização, mas vínculo emocional. Para muitos, guardar objetos representa muito mais do que utilidade: é uma forma de preservar memórias, criar uma falsa sensação de segurança ou mesmo tentar preencher vazios emocionais. Psicólogos explicam que o acúmulo pode surgir como resposta a traumas, perdas ou mudanças repentinas.
Quando o acúmulo começa a ocupar espaços essenciais da casa — impedindo circulação, uso de móveis ou tornando a limpeza difícil — o comportamento ultrapassa o limite do hábito excêntrico e pode indicar transtornos como a acumulação compulsiva (ou hoarding).
O apego ao passado interfere no presente
Guardar coisas demais do passado pode ser uma forma de manter viva uma fase da vida que já passou. Isso é comum após divórcios, mortes de entes queridos ou aposentadorias. Mas quando esse apego impede que a pessoa viva o presente com leveza, algo precisa ser reavaliado. A memória não está no objeto, mas na experiência — e é possível preservar a lembrança sem guardar a tralha.
Medo do futuro também entra em jogo
Outro gatilho recorrente é o medo do “e se”: e se eu precisar disso? E se um dia faltar? Esse pensamento ansioso leva ao acúmulo preventivo, mesmo de itens quebrados, duplicados ou obsoletos. A pandemia, por exemplo, acentuou esse tipo de comportamento em muita gente — com estoques de papel higiênico, álcool em gel e até pacotes de macarrão.
A questão aqui não é planejamento, mas exagero. Acumular coisas demais como forma de se proteger do imprevisível pode acabar criando justamente o oposto: um ambiente caótico e opressor.
Quando procurar ajuda psicológica?
Segundo especialistas, o momento de ligar o alerta é quando:
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O acúmulo compromete o uso da casa.
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Há sofrimento emocional diante da ideia de descartar algo.
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As relações familiares começam a ser afetadas.
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Existe vergonha ou isolamento social por causa da desordem.
Nesses casos, é recomendável procurar um psicólogo com experiência em transtornos de ansiedade ou comportamento compulsivo. A psicoterapia ajuda a entender as raízes do apego, ressignificar objetos e reconstruir a sensação de segurança sem depender do acúmulo.
Minimalismo não é a única saída, mas pode inspirar
Não é preciso virar adepto radical do minimalismo, mas refletir sobre o que realmente faz sentido ter pode ser libertador. Uma dica dos terapeutas é começar aos poucos: escolher um canto da casa por semana, estabelecer um critério simples (como “não usei nos últimos dois anos”) e manter o foco no bem-estar que o espaço livre vai trazer.
Lembrar que o desapego é um processo, não uma tarefa de fim de semana, também ajuda a manter o ritmo sem gerar culpa. E se for difícil fazer isso sozinho, vale contar com ajuda profissional — de um psicólogo ou até de um organizador especializado.
O impacto na saúde mental vai além do que se imagina
Viver cercado de coisas demais interfere no humor, na produtividade e até no sono. O excesso visual gera estresse constante, mesmo que inconsciente. É como se o cérebro nunca conseguisse relaxar completamente. Já o ato de organizar — ou de doar o que não serve mais — pode gerar uma sensação genuína de alívio e controle da própria vida.
A casa não é só onde a gente mora, mas um reflexo do que está dentro. Quando o espaço se entulha, pode ser um sinal de que algo dentro de nós também está precisando de atenção, respiro e cuidado.