Ex-governadores consideram insuficientes medidas da União contra o impacto da enchente no RS

Convidados para discutir a convergência política e social no tradicional “Tá na Mesa” da Federasul, quatro ex-governadores e uma ex-governadora apontaram caminhos para a recuperação do Rio Grande do Sul após o impacto da enchente que atingiu o estado. Em uma breve entrevista coletiva que antecedeu o evento, o quinteto avaliou que as medidas tomadas pela União até o momento para reconstrução das áreas afetadas são insuficientes. Ao longo do encontro, também criticaram os termos da dívida do Rio Grande do Sul com a União e exigiram mais ações por parte do governo federal para ajudar os municípios atingidos pela tragédia.

Quem começou a análise na conversa com os jornalistas foi Germano Rigotto (MDB), que entende ser necessário mais celeridade nas políticas públicas de habitação e também apontou urgência na reabertura do Aeroporto Internacional Salgado Filho.

“O governo federal é que tem recursos para ajudar o estado em momentos como este. Se ações já foram adotadas, outras tantas terão que ser realizadas. A área habitacional é uma delas, principalmente com responsabilidade da União, mas também do Governo do Estado e dos governos municipais. Atualmente, há cerca de seis mil pessoas vivendo em abrigos. Outra questão é que esse aeroporto não pode ficar fechado e sem operar por tanto tempo. O estado fala em 3 bilhões e 200 milhões de reais de prejuízo, mas é muito mais do que esse montante”, concluiu Rigotto.

Na sequência, a ex-governadora Yeda Crusius (PSDB) enalteceu o trabalho voluntário dos gaúchos na crise e afirmou que o governo federal parece não ter a real dimensão do impacto das enchentes no Rio Grande do Sul.

“Depende simplesmente do orçamento federal que está lá destinado, amarrado e mortificado. Um recurso que precisamos no nosso pacto federativo para começar a ser considerado”, observou.

Em seguida, o ex-governador Jair Soares (PP) afirmou que o governo do estado precisa tentar chancelar empréstimos por meio da União para minimizar os impactos da enchente.

“O último empréstimo financeiro que o Rio Grande do Sul recebeu, de 110 milhões de dólares, foi utilizado principalmente em infraestrutura. Deixo esta ideia do governo estadual buscar a chancela do governo federal para que Piratini possa fazer um empréstimo. Na época, foi de dois bilhões de reais, mas hoje acredito ser necessário um pouco mais e a única maneira de o estado sair a fim de uma reconstrução adequada para o que ele precisa”.

José Ivo Sartori (MDB) chamou a atenção também para a união da sociedade gaúcha, mas entende que o governo federal precisa de mais ações no enfrentamento aos problemas decorrentes das enchentes.

“Na verdade, todas as questões de calamidade seriam responsabilidade do governo federal. Isso está na Constituição, mas é hora de discutir muito a importância que deve ter a questão federativa brasileira”, sintetizou Sartori.

Encerrando a coletiva, o ex-governador Pedro Simon (MDB) apontou a necessidade de discutir de forma mais profunda a dívida do estado com a União, que chega a 100 bilhões de reais.

“A dívida continua aumentando e não há chance de acabar. Eu acho que agora é o momento, agora é o contexto para o debate. Então, isso é uma questão fundamental que o governo tem que reconhecer”, apontou Simon.

Rigotto complementou a fala de Simon, defendendo o perdão da dívida com o governo federal, ao ser questionado pela Acústica FM sobre como essa demanda seria viável politicamente e tecnicamente, tendo em vista que outros estados da federação também possuem um enorme passivo com a União.

“Agora, nesse momento, eu digo: perdão da dívida não significa entrar dinheiro no caixa. Três bilhões de Reais saem anualmente dos cofres do estado, apenas por um período que não ocorreu por uma revisão no Supremo Tribunal Federal”, ressaltou.

Período em que os convidados do Tá na Mesa governaram

Jair Soares (PP, 1983-1987), Pedro Simon (MDB, 1987-1990), Germano Rigotto (MDB, 2003-2006), Yeda Crusius (PSDB, 2007-2010) e José Ivo Sartori (MDB, 2015-2018).

Os ex-governadores Alceu Collares (PDT, 1991-1994), Antônio Britto (então MDB, 1995-1998), Olívio Dutra (PT, 1999-2002) e Tarso Genro (PT, 2011-2014) foram convidados para o evento, mas justificaram ter outros compromissos que os impediram de comparecer.

Airton Lemos

Sou repórter. Jornalista há 13 anos, formado pela Ulbra.

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