Homem sobrevive a naufrágio após seis horas boiando no RS

“Nasci de novo”. Assim, o empresário do ramo da metalurgia Nilson Pohlmann tenta definir o seu sentimento depois de ver a morte de perto, ao ficar boiando na Lagoa Mirim, no município de Jaguarão, na última quinta-feira. Por seis horas, as águas doces, empurradas pelo vento, levaram o seu corpo até a terra firme. Autoridades e imprensa local davam o simpático senhor como morto, mas ele sobreviveu para contar a história.

Nilson, o irmão Nilvo e mais um amigo subiram um rio para pescar, com uma tranquilidade habitual. O tempo era bom, sol alto das 11 horas da manhã. O dia foi proveitoso, mais importante que os peixes pescados só as conversas e contos de pescadores ocasionais que eram. Por volta das 18 horas, o imprevisto, quando estavam na Lagoa Mirim. “A lancha estragou, não ia mais. Estava escurecendo e tivemos que chamar mais dois amigos para ajudar”, relembra Nilson. O vento formava ondas de cerca de um metro, segundo o empresário. A água começou tomar conta do interior da embarcação que virou. A solução foi lançar a âncora para não perder o barco. “Só dava para avistar uma parte do barco, o resto estava imerso. Coloquei o colete salva-vidas e não consegui amarrar, mas nem percebi na hora”, conta, quase como se tivesse decorado, pois já contou a história algumas vezes desde então.

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A ideia era voltar nadando até a margem. Todos conseguiram, menos Nilson. “Pensei em voltar e me segurar no barco, quando me dei conta, a água já estava me levando”. E assim foi. O empresário foi carregado pelas águas a base de orações. Ele só pensava na esposa Sônia e nas filhas Michelle e Bruna, apenas com a iluminação da lua crescente que criava feixes no seu caminho. “Não perdi a calma no início. Se visse uma pedra, me seguraria, mas não havia”. Em certos momentos, porém, a possibilidade da morte chegava aos pensamentos de Nilson, a cada hora solitária que passava. “Pedi muito a Deus”, repete o empresário náufrago algumas vezes durante a entrevista. A súplica se materializou quando os pés começaram a tocar no fundo do rio. A viagem imposta chegara ao fim. Já passava da meia-noite, era quase 1 hora da madrugada e Nilson pôde, enfim, pisar o chão, já em Rio Branco, cidade uruguaia.

Uma das filhas e o genro que moram em Caxias do Sul, já estavam em direção de Jaguarão para reconhecer o corpo. Uma rádio de Montevidéu, capital uruguaia vizinha da região, já noticiava o óbito. Cansado, Nilson, somente de calção e colete, passava frio. Foi vencido pelo sono. “Precisei, mas temia que ninguém me visse”. Amanheceu e o empresário atravessou a mata em busca de alguém. Helicópteros sobrevoavam o local, mas o procuravam na água e não em terra firme. “Um pescador me encontrou, já era umas 10 da manhã de sexta-feira, e falou que estavam atrás de um turista morto. E eu disse: esse sou eu!”, sorri Nilson.

A volta para casa, em Novo Hamburgo, foi em uma longa, mas esperada viagem durante todo o último sábado. Na bagagem, a saudade da família e a certeza de que, aos 64 anos, recebeu uma nova chance. “Nem sei o que vou fazer primeiro, quando chegar”, se emociona o empresário, interrompendo a frase com o choro de quem tem um novo dia de aniversário para comemorar daqui por diante.

Redação de Jornalismo

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