Nos últimos três anos, 231 crianças e adolescentes ficaram órfãos no Rio Grande do Sul após perderem suas mães vítimas de feminicídio. Os dados são da Polícia Civil, que divulgou o levantamento no Mapa dos Feminicídios, produzido pela Divisão de Proteção e Atendimento à Mulher (Dipam).
Entre 2022 e 2024, 265 mulheres foram assassinadas no estado em crimes motivados por gênero. Mais de 200 delas eram mães. Ao todo, 456 filhos perderam as mães, sendo pelo menos 231 menores de idade.
A dor não é só dos números, mas das histórias. Em Viamão, Vagner Ribeiro perdeu a mãe, Letícia, em 2019. Ela foi morta a facadas pelo companheiro. Ele, aos 20 anos, assumiu a criação das duas irmãs mais novas, de 11 e 13 anos.
Seis anos depois, em abril de 2025, Juliana Jansen Ribeiro foi morta em Camaquã. O companheiro, Adegildo Boeira Duarte, é o principal suspeito e está preso. Segundo a família, ele ameaçava Juliana com frequência e controlava sua vida. Agora, os seis filhos dela estão sob a guarda da irmã, Shaiane.
Sem apoio, famílias enfrentam luto e desamparo
A violência deixa marcas profundas. Em 59 dos 265 casos, os autores dos feminicídios também morreram, em geral, por suicídio. Nessas situações, as crianças perdem pai e mãe de uma só vez.
Apesar da gravidade, o país ainda não estruturou uma rede de apoio para esses órfãos. Em 2023, foi sancionada uma lei federal que prevê pensão de um salário mínimo para filhos de mulheres vítimas de feminicídio. No entanto, a lei nunca foi regulamentada.
No RS, nenhuma criança recebeu o benefício até agora. A Defensoria Pública da União tem acionado a Justiça para garantir o direito em alguns estados. Pernambuco e Paraná já tiveram decisões favoráveis.