A última onça-pintada em liberdade no Rio Grande do Sul foi vista novamente. O registro aconteceu na noite de quarta-feira (14), no Parque Estadual do Turvo, em Derrubadas, na fronteira com a Argentina. Quem flagrou o animal foi o biólogo e guarda-parques Carlos Neimar Kuhn, de 42 anos.
O felino, um macho chamado Yaboti, tem cerca de 10 anos e é conhecido pelos pesquisadores da região. O nome dele vem da reserva florestal do lado argentino do Rio Uruguai, por onde costuma circular.
Registro reforça importância da preservação
Carlos Kuhn, que trabalha há oito anos como guarda-parques, nunca tinha visto a onça pessoalmente. O encontro foi a uma distância segura e ocorreu de forma tranquila. O profissional é treinado para esse tipo de situação.
A aparição de Yaboti mostra o papel essencial do parque na proteção de espécies ameaçadas. O monitoramento do animal normalmente é feito por câmeras instaladas em pontos estratégicos. Antes disso, o último registro havia ocorrido em 28 de abril.
Yaboti percorre livremente uma vasta área de mata nativa entre os dois países. No lado argentino, usa como corredor ecológico a Reserva da Biosfera Yaboti e o Parque Provincial Moconá, que juntos somam mais de 17 mil hectares. Mesmo com o Rio Uruguai no caminho, a travessia não é um desafio. A onça-pintada é uma excelente nadadora e consegue cruzar o rio com facilidade.
População da espécie está ameaçada
Há alguns anos, estimava-se que quatro onças-pintadas viviam na região. Hoje, apenas Yaboti é avistado em liberdade no estado. Especialistas acreditam que os demais animais possam ter sido alvos da caça ilegal, embora exista a possibilidade de que tenham migrado definitivamente para o lado argentino.
A espécie é solitária, territorial e tem hábitos noturnos. Sua presença é essencial para o equilíbrio ecológico. A Secretaria do Meio Ambiente do RS (Sema) considera o deslocamento do animal entre os países um exemplo claro da importância da cooperação internacional na preservação da espécie. A onça-pintada está classificada como ameaçada de extinção.
No Parque Estadual do Turvo, há um projeto em andamento para repovoar a espécie em ambiente natural. A proposta, desenvolvida com apoio do Ibama e da Divisão de Unidades de Conservação (DUC/Sema), pretende introduzir uma fêmea para estimular a reprodução.
Antes disso, serão necessários estudos técnicos e genéticos. O objetivo é criar condições reais para consolidar uma nova população de onças-pintadas no território gaúcho.