Um levantamento feito pelo Cpers Sindicato escancarou a realidade enfrentada pelas escolas da rede estadual do Rio Grande do Sul. Conforme a pesquisa “Radar”, divulgada no mês passado, faltam ao menos 1.634 profissionais na educação pública do estado, entre professores, funcionárias e especialistas.
A situação é descrita pelo sindicato como crítica e contradiz a versão oficial do governo de Eduardo Leite (PSDB). O estudo foi realizado entre fevereiro e abril, por meio de formulários preenchidos por escolas e visitas presenciais da Caravana do Cpers, que percorreu todos os 42 núcleos da entidade.
Disciplinas sem professores e obras paradas
Inglês lidera a lista de disciplinas com déficit de docentes, com 58 vagas em aberto. Depois aparecem Matemática (45), Educação Física (34) e Língua Portuguesa (27). Há ainda ausência de professores em áreas como Física, Geografia e Biologia.
Além da falta de pessoal, 472 das 886 escolas ouvidas apontaram problemas estruturais graves. As queixas mais comuns envolvem rede elétrica deficiente, infiltrações, telhados danificados, problemas hidráulicos e muros com risco de queda. Em 274 unidades, há obras que foram iniciadas, mas nunca finalizadas. Em muitas escolas, a rede elétrica sequer suporta o uso de equipamentos como computadores e aparelhos de ar-condicionado.
Salas com altas temperaturas e profissionais adoecidos
A pesquisa também tratou do impacto das altas temperaturas nas escolas. Quase 400 instituições disseram não ter condições adequadas para manter as aulas em dias de calor intenso. Em 117 escolas, não há sequer ventiladores; em outras 143, eles existem apenas em alguns espaços. O cenário se repete com o ar-condicionado: 242 escolas não têm e 92 possuem apenas em algumas salas.
A presidente do Cpers, Rosane Zan, lamenta a sobrecarga dos profissionais. Segundo ela, a categoria enfrenta não só baixos salários e acúmulo de funções, mas também um ambiente marcado pelo adoecimento e pela falta de perspectiva. “Hoje, muitos jovens não querem mais ser professores ou funcionários de escola”, afirmou.
Rosane também critica a “plataformização” do ensino, que, segundo ela, transforma o trabalho do professor em preenchimento de planilhas, dificultando o preparo das aulas. “A escola pública está sendo ocupada por interesses de mercado”, disse.
O que diz o governo estadual?
A Secretaria da Educação (Seduc) respondeu que já investiu mais de R$ 180 milhões na recuperação de escolas afetadas pelas enchentes de 2024 e que realiza monitoramento diário para repor servidores. Segundo a pasta, editais de contratação temporária são lançados para cobrir aposentadorias e exonerações.
Sobre a infraestrutura, a Seduc informa que 393 obras foram concluídas em 351 escolas, com um investimento total de R$ 117,2 milhões. E que a média anual de recursos destinados à manutenção saltou de R$ 18 milhões (entre 2018 e 2022) para R$ 47 milhões (entre 2023 e 2024).