No último dia 8 de maio, o mundo relembrou os 80 anos da vitória dos Aliados sobre os regimes nazifascistas de Alemanha e Itália na Segunda Guerra Mundial. E, embora muitas vezes esquecida, a participação do Brasil nesse conflito foi significativa, indo muito além do envio da Força Expedicionária Brasileira (FEB) à Europa.
Mesmo antes do embarque dos mais de 25 mil integrantes da FEB para a Itália, em 1944, o país já colaborava com os Aliados. Desde a defesa do litoral contra submarinos alemães até a organização de comboios no Atlântico Sul, a contribuição brasileira envolveu a sociedade civil, militares e o setor industrial. Segundo especialistas, esse esforço ainda não recebeu o reconhecimento que merece.
Para o capitão de fragata Carlos André Lopes, a memória popular dá foco quase exclusivo à FEB e aos “pracinhas” que lutaram em solo italiano. Mas, para ele, é essencial lembrar também dos operários da indústria, da Marinha e da Força Aérea Brasileira (FAB), que atuaram intensamente na proteção do território nacional e no fornecimento logístico para os Aliados.
Guerra declarada após ataques no litoral
A decisão do Brasil de entrar na guerra foi tomada após ataques de submarinos alemães ao longo da costa brasileira. Em agosto de 1942, 607 brasileiros morreram em apenas cinco dias, vítimas de torpedos. Isso fez com que o então presidente Getúlio Vargas declarasse guerra à Alemanha e à Itália em 31 de agosto do mesmo ano.
A Marinha do Brasil foi responsável por escoltar navios mercantes entre portos brasileiros e o Caribe, garantindo o abastecimento de insumos e combustível. Ao todo, 3.164 navios foram protegidos em 575 comboios, com uma taxa de sucesso de 99%. Já a FAB, criada em 1941, cooperou com a Marinha na vigilância aérea e na luta antissubmarino, com apoio dos Estados Unidos.
Durante o conflito, o Brasil perdeu mais de 1.400 pessoas no mar, entre civis e militares, um número superior aos mortos da FEB na Itália. Três navios foram perdidos, incluindo o cruzador Bahia, que afundou após o fim da guerra com 332 mortes.
O front italiano e o simbolismo da FEB
A FEB chegou à Itália em agosto de 1944, quando o governo de Mussolini já havia caído. A missão brasileira era ajudar os Aliados no combate ao exército alemão. Embora a Itália fosse considerada uma frente secundária, a presença dos brasileiros permitiu que tropas americanas e britânicas fossem realocadas para frentes estratégicas como a Normandia.
Segundo o historiador Cláudio Lucchesi, o envio da FEB foi uma decisão do próprio governo brasileiro, interessado em fortalecer as Forças Armadas e garantir um lugar de destaque na geopolítica pós-guerra.
Apesar da importância do Brasil na Segunda Guerra Mundial, muitos especialistas apontam que o país ainda não valoriza devidamente esse capítulo da sua história. A atuação de militares é muitas vezes ignorada ou confundida com contextos políticos posteriores, como o regime militar.
Para Lucchesi, é necessário separar a história militar da política dos militares. E mais que isso, compreender que o heroísmo vivido naquele período foi de toda a sociedade brasileira. O reconhecimento, segundo ele, precisa ser coletivo, envolvendo civis e militares que contribuíram para defender a soberania nacional.