Duas agências de turismo no Rio Grande do Sul estão sendo investigadas por supostamente não honrarem pacotes vendidos a clientes. Os relatos, concedidos ao G1 em entrevista, dão conta de que consumidores pagaram pelas viagens, mas tiveram as reservas canceladas por falta de pagamento por parte das empresas.
Além do prejuízo financeiro, os turistas tiveram que arcar com gastos extras para não perder as viagens. A Polícia Civil já bloqueou contas bancárias de uma das agências.
A apuração foi realizada em matéria especial de Giovani Grizotti, da RBS.
Decepção em Bonito
A pensionista Maria Fritsch, a filha Verônica e uma amiga planejaram uma viagem para Bonito (MS), mas o passeio virou frustração. O grupo comprou um pacote de R$ 7 mil na Feldens Viagens, de São Leopoldo. Um dia antes do embarque, descobriram que as reservas tinham sido canceladas.
Segundo Maria, a agência até chegou a confirmar a reserva, mas não realizou o pagamento, e o sistema cancelou tudo automaticamente. Para não perderem a viagem, decidiram comprar novas passagens às pressas, gastando mais R$ 10 mil.
“A gente confiou porque já tínhamos viajado com eles”, lamentou Maria. “Terrível. A gente se programa, guarda dinheiro, e na hora ninguém te dá retorno”, desabafa Verônica.
Acusações e sumiço
Uma ex-funcionária da agência relatou que o problema se repetia. Segundo ela, as reservas eram feitas, mas não pagas no mesmo dia, o que causava o cancelamento automático.
“Tu envia uma confirmação de reserva, mas se ela não é emitida no sistema, expira às 23h59 do mesmo dia”, explicou.
A Feldens Viagens tem ao menos quatro boletins de ocorrência registrados e 20 reclamações não respondidas em sites especializados. A sede da empresa estava vazia quando a reportagem foi até o local. A informação é de que os donos teriam se mudado para os Estados Unidos.
Mais de 30 vítimas em outra agência
Outra empresa, a DAC Servidores de Viagens e Turismo, de Porto Alegre, também está sendo investigada. O técnico Jean Roberto Saldanha comprou um pacote de R$ 7,5 mil para Porto Seguro (BA), mas a viagem foi cancelada sem reembolso.
A delegada Luciane Bertoletti informou que mais de 30 vítimas já registraram queixas contra a DAC. Segundo ela, a empresa já sabia que não conseguiria cumprir os contratos.
Jean relata, também ao G1, que, ao pedir o dinheiro de volta, ouviu da dona da empresa que isso não seria possível, já que as contas estavam bloqueadas. A Polícia Civil conseguiu o bloqueio judicial das contas para tentar garantir o ressarcimento dos clientes.
Rita Vasconcelos, da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV/RS), recomenda cautela. Ela orienta que os consumidores desconfiem de promoções muito baratas, pesquisem a reputação da empresa e leiam avaliações antes de fechar negócio.
O que diz a Feldens Viagens?
A Feldens Turismo se defendeu das acusações. Em nota, a empresa alegou que foi prejudicada pelas enchentes de maio no RS e pela paralisação do aeroporto Salgado Filho. Disse ainda que uma operadora nacional com a qual trabalhava ficou insolvente e não honrou compromissos com os clientes.
A empresa afirma que chegou a pagar parte das viagens com recursos próprios, o que teria causado um desequilíbrio financeiro. Garantiu que alguns clientes já foram reembolsados e outros ainda serão.
A Feldens também destacou que muitas reclamações se referem a reembolsos de companhias aéreas e hotéis, serviços que, segundo a nota, não são de responsabilidade direta da agência. E reforçou que não houve má-fé, mas sim dificuldades causadas por um desastre natural e falhas de terceiros.