Um viajante francês do século XIX fez duras observações sobre o comportamento dos homens e a posição das mulheres no Rio Grande do Sul. Arsène Isabelle, que passou por Porto Alegre em 1834, registrou suas impressões em um livro lançado no ano seguinte na França.
O francês esteve na capital gaúcha pouco antes do início da Revolução Farroupilha. Em sua obra Voyage a Buenos-Ayres et a Porto-Alègre, descreveu a sociedade da época com um olhar atento — e crítico. Segundo ele, os porto-alegrenses eram muito ciumentos, assim como os brasileiros do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco.
No entanto, apontou que o ciúme no Rio Grande do Sul não era tão extremo quanto em outras regiões do Brasil. Isso, segundo Isabelle, por conta da proximidade com os povos castelhanos, como os uruguaios e argentinos.
Mulheres sob controle e vestidas de forma incomum
Isabelle lamentou a falta de liberdade das mulheres gaúchas, que segundo ele ainda viviam sob o “jugo” de maridos “enfadonhos” ou até “tiranos domésticos”. Para o francês, essa realidade só mudaria com uma transformação cultural profunda. Ele previa que, no futuro, as mulheres da província teriam os mesmos direitos que as de Montevidéu e Buenos Aires.
Apesar das críticas, o viajante reconheceu qualidades nas mulheres que conheceu: “joviais, bonitas, amáveis e até graciosas”, escreveu. Segundo ele, bastaria permitir que elas passeassem mais e participassem da vida social masculina para melhorar esse cenário.
Outro ponto que chamou atenção do autor foi o modo como as mulheres montavam a cavalo. Mesmo sob forte vigilância dos maridos, elas não hesitavam em cavalgar como os homens, usando bombacha por baixo dos vestidos e uma longa sobrecasaca, geralmente feita de chita florida ou listrada.
Embora Arsène Isabelle não tenha alcançado a mesma fama que seu conterrâneo Auguste de Saint-Hilaire, deixou um retrato valioso da sociedade gaúcha no início do século XIX. Suas observações lançam luz sobre os costumes da época e antecipam debates que só viriam a ganhar força muitos anos depois.