Um dos maiores golpes contra aposentados do INSS veio à tona após o depoimento de uma ex-funcionária de telemarketing. Ela trabalhava em um call center envolvido no esquema e falou ao portal Metrópoles sob anonimato, com medo de sofrer retaliações.
Segundo a ex-atendente, o grupo desviava dinheiro diretamente da folha de pagamento de aposentados e pensionistas. Os descontos, segundo ela, eram feitos sem autorização real dos beneficiários.
De acordo com a ex-funcionária, os atendentes eram orientados a mentir para os segurados. A estratégia era afirmar que os próprios aposentados tinham autorizado o desconto por telefone ou WhatsApp.
“A gente seguia um roteiro. Quando o aposentado questionava, dizia que ele mesmo tinha aceitado, sem perceber”, contou. Ela trabalhava para um dos dois call centers envolvidos: Callvox e Truetrust, ambos com sede em Brasília.
As duas empresas são ligadas ao lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”. A Polícia Federal estima que o grupo desviou até R$ 6,3 bilhões desde 2019. Mais de 9 milhões de pessoas teriam sido afetadas.
Promessas falsas de reembolso
Quando os idosos reclamavam dos descontos, os atendentes prometiam devolver o valor em 10 dias. Depois, passaram a falar em 20 ou até 30 dias. Mas, segundo a ex-funcionária, o dinheiro raramente voltava.
O golpe se intensificou em 2023, quando entidades como a CBPA começaram a lucrar alto com o esquema. Sozinha, a CBPA arrecadou R$ 57,8 milhões em apenas um ano.
Uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) mostrou que 97% dos entrevistados não autorizaram os descontos. Além disso, a maioria das entidades envolvidas nem sequer tinha documentação válida para atuar junto ao INSS.
Com a revelação do escândalo, o então ministro da Previdência, Carlos Lupi, e o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, deixaram os cargos. A AGU já pediu o bloqueio de R$ 2,5 bilhões em bens das entidades.
O governo também anunciou que vai devolver R$ 293 milhões aos prejudicados. Os pagamentos começam em 26 de maio e vão até 6 de julho.
Fique de olho no extrato
Especialistas orientam os beneficiários do INSS a conferirem seus extratos de pagamento com frequência. Qualquer desconto estranho deve ser denunciado imediatamente.
O alerta é claro: mesmo com as investigações em andamento, ainda há risco de novos golpes sendo aplicados.