O Rio Grande do Sul deve enfrentar uma queda considerável na área plantada de trigo este ano. O motivo? As secas do último verão, que ainda impactam os agricultores, e o endividamento dos produtores rurais. A previsão foi feita por Hamilton Jardim, diretor e coordenador da Comissão do Trigo e Culturas de Inverno da Farsul.
Jardim estima que a área cultivada de trigo em 2024 será de 1,1 milhão de hectares, bem abaixo dos 1,35 milhão do ano passado. “Se chegar a esse número, será muito”, alertou. Segundo ele, a redução reflete o aperto financeiro dos agricultores, provocado principalmente pela quebra na safra da soja e pela falta de renegociações de dívidas.
Outros desafios no campo
Além das perdas recentes, os preços da soja seguem baixos, dificultando o acesso ao crédito. A ausência de seguro agrícola e os juros altos no Pronamp também pesam nas contas dos produtores. “A oleaginosa é a principal fonte de renda para o produtor, mas está desvalorizada”, explicou Jardim.
O dirigente criticou a falta de incentivos à cultura do trigo no país. “O trigo ainda é um alimento que o Brasil importa muito. Poderia ser diferente se houvesse mais apoio e políticas do governo”, afirmou.
Decisão difícil para o produtor
Mesmo que medidas para alongar o prazo das dívidas rurais fossem adotadas, Jardim acredita que o impacto seria pequeno. “O produtor precisa decidir agora, porque a janela de plantio já começou e muitos já desistiram”, comentou. Ele também apontou que o preço do trigo no Mercosul está em baixa, o que agrava o cenário.
Segundo dados da Emater/RS-Ascar, no ano passado o Estado colheu 3,75 milhões de toneladas de trigo, em uma área de 1,322 milhão de hectares e com produtividade média de 2.839 quilos por hectare.
Canola cresce, mas não como o esperado
A canola deve apresentar aumento na área plantada este ano, mas abaixo da expectativa inicial. Segundo o presidente da Abrascanola, Vantuir Scarantti, a estiagem e a descapitalização dos produtores reduziram os planos de expansão.
“Ainda estimamos um crescimento de 20%, o que é considerado normal, mas esperávamos mais”, comentou. Em 2023, o Rio Grande do Sul cultivou 179 mil hectares, representando 96,11% da produção nacional.
Scarantti informou que a semeadura da canola está a pleno vapor, com 60% das áreas já plantadas. “Quem conseguiu plantar está aproveitando um bom momento, tanto em termos de produtividade quanto de preços”, destacou.
Apesar do avanço, o dirigente frisou que o cenário pode mudar até o fim da semeadura e da colheita. “Ainda temos mais de 20 dias dentro da janela de plantio e de negócios, pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc)”, ressaltou.