A semana começou com muitas visitas de leitores à Feira do Livro de Porto Alegre. Quem passeou pelas bancas pôde notar a presença de clássicos de autores renomados como Ray Bradbury (Fahrenheit 451), Friedrich Nietzsche (Assim Falou Zarathustra), Dan Brown (O Código da Vinci) e Nicholas Sparks (Diário de uma Paixão). O que esses escritores têm em comum, além da fama e das legiões de admiradores ao redor do mundo? Todos estão disponíveis nos tradicionais balaios de saldos e promoções, com suas obras sendo oferecidas por preços acessíveis, a partir de R$ 20.
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A oportunidade de levar para casa best-sellers e clássicos da literatura a preços módicos é uma tradição consolidada ao longo das sete décadas de existência da feira. Não importa o estilo, eles estão lá, à espera de um leitor. Praticamente todas as bancas reservam um espaço para as promoções, o que torna ainda mais interessante a exploração de obras e autores específicos.
Atualmente, os já habituais livros usados duelam por espaço com exemplares novos, adquiridos especialmente para o evento. Uma estratégia dos livreiros é a compra de lotes maiores, que permitem uma margem melhor de negociação. “A gente traz uma literatura mais acessível, comprando grandes volumes para poder repassar ao cliente preços mais em conta. Chegamos a obter 55% de desconto, algo que não se acha nem nas distribuidoras”, explica Rodrigo Quevedo, da Amo Livros.
Já os sebos apostam na qualidade do material à venda. Tradicionais pontos de comercialização de livros e revistas da capital, as lojas têm como diferencial a possibilidade de adquirir coleções inteiras ou obras raras por valores abaixo do praticado no mercado. “Possuímos um acervo muito grande e alguns livros já têm um preço mais atrativo durante o ano. Dessa forma, é melhor fixar um valor que chame a atenção no período da feira do que mantê-los no estoque”, afirma Ana Wilk, sócia da Ladeira Livros – que oferece descontos em 20% dos exemplares em exposição.
Desafio dos R$ 100
A melhor forma de mostrar o potencial da feira é fazendo como a grande maioria das pessoas que visita o evento: comprando. Com tantos livros custando tão pouco, esta reportagem não estaria completa sem propor um processo de curadoria baseado na relação custo-benefício. Sendo assim, a missão definida foi a de comprar o maior número de exemplares com o orçamento fixado em R$ 100.
Ao contrário do que se possa imaginar, foi uma tarefa fácil. Com o dinheiro estipulado, foram adquiridos cinco livros: Frankenstein, de Mary Shelley; Contos de Fadas, dos Irmãos Grimm; Drácula, de Bram Stoker; Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis; e uma versão bilíngue de A Metamorfose, de Franz Kafka. A oferta na Praça da Alfândega é tamanha que todos os exemplares comprados são novos. Caso a opção fosse por livros usados, seria possível adquirir um pacote com as seis primeiras obras de Dan Brown traduzidas para o português, um combo com cinco livros de Nicholas Sparks – incluindo os bastante procurados Querido John e Um Amor para Recordar – ou montar uma coletânea reunindo Jô Soares (O Xangô de Baker Street), Edgar Allan Poe (A Queda da Casa de Usher), David Coimbra (Canibais, Paixão e Morte na Rua do Arvoredo), Victor Hugo (Os Miseráveis) e F. Scott Fitzgerald (O Grande Gatsby).
O livro precisa circular
Para grande parte dos leitores, um livro usado é um livro que carrega consigo duas histórias: a que está impressa em suas páginas e a que demonstra o carinho que ele recebeu – ou não – ao longo do tempo. Frequentadora do evento há mais de 30 anos, Lenora do Prado só compra em sebos. “É possível ter acesso aos mesmo livros, gastando menos. Além da questão do preço, é bacana ver que uma obra foi bem cuidada”, ressalta a comerciária aposentada.
A posição de Lenora é compartilhada por Alesandra Nicolini, outra consumidora de saldos e promoções. “O que mais importa é se o livro está em bom estado, não se ele já pertenceu a alguém. Como o poder de compra está cada vez mais reduzido, o preço é um atrativo que convoca as pessoas a descobrir o que há nessas caixas”, avalia a professora de língua portuguesa da Escola Técnica Parobé.