O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) quebrou o silêncio e minimizou o plano de golpe de Estado apontado pela Polícia Federal no inquérito que indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 36 pessoas. Segundo Mourão, é algo “sem pé nem cabeça”. A declaração ocorreu ontem no podcast “Bom Dia, Mourão”.
Mourão foi vice-presidente de Bolsonaro entre 2019 e 2022.Dos 37 indiciados, 25 eram militares.
Conforme o ex-vice-presidente, para que uma tentativa de golpe aconteça, é necessário ter o apoio de uma parcela expressiva das Forças Armadas, que serviriam para proteger uma mudança constitucional.
“Temos um grupo de militares, pequeno, a maioria militares da reserva que, em tese, montou um plano sem pé nem cabeça, que eu não consigo nem imaginar como uma tentativa de golpe”, disse o senador em seu podcast “Bom dia com Mourão”, três dias após a Polícia Federal deflagrar a Operação Contragolpe.
Ele classificou como “absurdo” o plano de uma organização criminosa para assassinar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Vejo uma fanfarronada. E a partir daí, dentro da busca incessante de envolver o presidente Bolsonaro, de envolver o general Braga Netto, o general Heleno (…). Arma-se esse cenário todo, joga-se quase que um pó de pirlimpimpim e aí, shazam: saem 37 pessoas nesse pacote indiciadas”, acrescentou.
Mourão também afirmou que o atentado em Frente ao STF, provocado por Francisco Wanderley Luiz, autor do atentado ao Supremo Tribunal Federal (STF) é um caso isolado. Ele ainda defendeu a anistia aos envolvidos em atos golpistas de oito de janeiro. Confirma trechos das declarações de Mourão
Fachin em Porto Alegre
Ontem, após uma aula magna em Porto Alegre, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin ( Leia aqui) classificou como graves os indícios apurados no inquérito da Polícia Federal (PF) que aponta envolvimento de 37 pessoas na trama golpista.
Segundo Fachin, os indícios revelados até agora demonstram uma gravidade que é real e tudo deve ser visto nas etapas devidas, da forma adequada, com respeito ao devido processo, ampla defesa e todas as garantias que a Constituição e as leis preveem aos indiciados, acusados e depois para os réus, se vier uma ação penal.
Ao ser questionado sobre um possível abalo nas instituições, em razão da suspeita de envolvimento do ex-presidente Jair Bolsonaro na trama golpista, Fachin afirmou que a democracia brasileira é resiliente
A denúncia
A avaliação na PGR é que uma eventual denúncia no caso do inquérito do golpe vai ficar para 2025. Isso porque, apesar de uma contar com uma grande estrutura de apoio, “um bom trabalho não se faz sem análise cuidadosa e criteriosa do material colhido — o que exige tempo”, como integrantes da PGR dizem ouvir do próprio Gonet.
Poderão participar desta análise os integrantes da Assessoria Jurídica Criminal (AJCRIM) no STF e do Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos (GECAA) – que tem um coordenador ligado diretamente ao gabinete do PGR e mais oito procuradores auxiliares.
Em relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (21), a Polícia Federal apontou a existência de 6 núcleos de golpistas que se articularam para derrubar à força o Estado Democrático de Direito.
Esses núcleos são:
Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral: responsável pela disseminação de mentiras sobre as urnas eletrônicas para descredibilizar o processo eleitoral.
Núcleo Responsável por Incitar Militares: elegia alvos para ampliar os ataques pessoais contra militares em posição de comando que resistiam às investidas golpistas.
Núcleo Jurídico: fazia assessoramento e elaboração de minutas de decretos com argumentos jurídicos e doutrinários que atendessem aos interesses golpistas. Elaborou, por exemplo, minutas de atos inconstitucionais, como a proposta encontrada na casa de Anderson Torres.
Núcleo Operacional de Apoio: executava medidas para manter as manifestações em frente aos quartéis militares que se formaram após o resultado das eleições, incluindo a mobilização, logística e financiamento de militares das forças especiais, os “kids pretos”, em Brasília..
Núcleo de Inteligência Paralela: coletava dados e informações que pudessem auxiliar a tomada de decisões sobre o golpe de Estado e monitorava o deslocamento e localização do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, do presidente recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva e de seu vice Geraldo Alckmin.