Neste sábado (14), durante uma entrevista na Rádio Acústica FM, os terapeutas Daniel Mariano e Maria Inês Evangelista debateram sobre o tema: “Relacionamentos amorosos – salvam ou matam?”. Em meio a um diálogo que transitou desde as raízes da nossa formação familiar até os dilemas dos relacionamentos na era digital, os especialistas apresentaram reflexões profundas sobre como o que vivenciamos na infância pode ecoar e influenciar nossas escolhas e vínculos ao longo da vida.
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Raízes familiares
Segundo os terapeutas, os relacionamentos amorosos iniciam-se muito antes do primeiro namoro ou do casamento: eles são moldados desde a infância:
“O ser humano é formado pelos exemplos que recebe em casa, na família – aquela figura de referência que representa o afeto, a autoridade e o cuidado”, afirma Daniel Mariano, comparando o cultivo de um relacionamento à metáfora de uma flor que precisa ser regada constantemente.
Quando o ambiente familiar é sólido e afetuoso, a criança tem a base necessária para desenvolver autoestima e fazer escolhas saudáveis na vida adulta. Por outro lado, a convivência com conflitos, críticas excessivas ou mesmo a ausência de limites pode marcar e transformar, de forma negativa, a maneira como uma pessoa se relaciona no futuro.
A Influência dos exemplo e a busca por referências
Em muitos casos, a infância é o cenário de uma aprendizagem tácita: a criança absorve comportamentos, atitudes e modos de lidar com as emoções a partir do vivido no núcleo familiar. Daniel Mariano ressalta que, se o ambiente familiar adoece – seja por violência, falta de diálogo ou ausência de modelos positivos – a criança tende a replicar esses padrões, buscando referências em locais alternativos, como escolas ou até nas redes sociais.
Maria Inês Evangelista complementa que, não obstante existirem exemplos positivos fora do ambiente doméstico, a substituição da figura dos pais por outras referências nem sempre compensa a ausência de uma base afetiva e segura.
Impacto da Era Digital
Outro ponto fundamental debatido foi o efeito das mídias sociais na formação emocional dos indivíduos. Hoje, as crianças e adolescentes estão expostos, desde jovens, a uma miríade de informações e modelos nem sempre filtrados ou saudáveis. O acesso irrestrito à tecnologia pode, inclusive, interferir na tolerância à frustração, promover comportamentos imitados dos pais – que muitas vezes também estão presos à dependência digital – e comprometer o desenvolvimento de habilidades socioemocionais essenciais.
Assim, a substituição da presença e da autoridade dos pais por referências digitais torna-se um risco potencial, contribuindo para o surgimento de relacionamentos instáveis e desprovidos do apoio necessário.
Namoro e casamento
Transitando para a vida adulta, os especialistas ressaltam que os padrões aprendidos na infância continuam a marcar as relações amorosas. Em tempos onde o namoro se mostra cada vez mais volátil e rápido, a falta de um período mais longo de conhecimento mútuo pode conduzir a escolhas precipitadas.
O que se inicia com uma paixão intensa pode, sem o devido investimento emocional e respeito às individualidades, transformar-se em conflitos profundos. Mariano, por exemplo, ilustra que um relacionamento saudável exige não só o amor, mas sobretudo – limites bem estabelecidos, diálogo e a disposição de trabalhar as fragilidades pessoais.
Ao dizer “salvam ou matam”, os terapeutas fazem uma analogia à dualidade dos relacionamentos: em sua melhor forma, eles podem ser verdadeiros alicerces de apoio, crescimento e transformação; quando mal conduzidos, podem se transformar em armadilhas que “matam” a sensibilidade, comprometem a saúde emocional e, em casos extremos, conduzem a resultados devastadores.
Papel dos Pais
Um dos pontos centrais da entrevista foi a necessidade de um olhar atento não só à vida dos filhos, mas também à própria história familiar dos pais. Para construir relacionamentos amorosos saudáveis, é vital que os adultos compreendam que os comportamentos e atitudes que reproduzem podem ter raízes em modelos de criação inadequados ou incompletos.
Nesse contexto, o papel dos profissionais da área – seja na terapia individual, de casal ou familiar – ganha destaque como um elemento transformador, capaz de ajudar a ressignificar experiências e estabelecer novos padrões de relacionamento.
A discussão promovida por Daniel Mariano e Maria Inês Evangelista convida cada leitor a refletir sobre sua própria história e os modelos que perpetua em seus relacionamentos. Em um mundo marcado por constantes transformações e pela influência avassaladora do digital, o equilíbrio entre cuidado, limites e afeto torna-se indispensável para que o amor cumpra, verdadeiramente, sua função de salvar, e não de destruir. Assim, a pergunta “salvam ou matam?” deixa de ser uma dicotomia e se transforma em um convite para o autoconhecimento, para a busca da qualidade dos vínculos e para a construção consciente de relações que, acima de tudo, alimentem a vida – e não a apaguem.