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Setembro Amarelo: campanha contra o suicídio inicia nesta quarta

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Pelo oitavo ano consecutivo, a Associação Brasileira de
Psiquiatria (ABP) promove, em parceria com o Conselho Federal de Medicina
(CFM), a campanha Setembro Amarelo, cujo tema este ano é “Agir salva
vidas”. A ação foi iniciada no Brasil em 2014 e visa a reduzir os índices
de suicídio. A iniciativa se estende por todo o mês de setembro, tendo como
data principal o dia 10 deste mês, quando se comemora o Dia Mundial de Prevenção
ao Suicídio.

O presidente da ABP, Antonio Geraldo da Silva, disse à
Agência Brasil que o tema foi escolhido porque trata de forma direta a questão
mais importante da campanha, que é agir pode salvar vidas. “Ao ajudar com ação
efetiva de buscar assistência médica, você pode fazer a diferença na vida de
quem está sofrendo com ideação suicida”, afirmou o especialista. Segundo ele, o
suicídio é um tema que sofre com o preconceito. “Ainda existe muito tabu e só
com informação correta conseguimos conscientizar as pessoas de que o suicídio
pode ser evitado. Precisamos informar a todos como ajudar, porque agir salva
vidas”, reiterou.

O relatório Suicide Worldwide in 2019, publicado pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, revelou que naquele ano mais de 700
mil pessoas morreram por suicídio, o que representa uma a cada 100 mortes. No
Brasil, são aproximadamente 13 mil pessoas por ano. Antonio Geraldo da Silva
disse que, em geral, no mundo, o número de mortes por suicídio caiu mas, nas
Américas, a taxa subiu 17%. Por isso, campanhas como o Setembro Amarelo são tão
importantes.

De acordo com a ABP, a maioria dos suicídios está
relacionada a distúrbios mentais. “Nós sabemos que cerca de 98% dos casos de
suicídio estão relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a
depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias.”

A Assembleia Legislativa, a exemplo de outras instituições, participará no próximo mês da campanha Setembro Amarelo – mês de prevenção ao suicídio –, por meio da iluminação cênica da fachada do Palácio Piratini entre os dias 1º e 10 de setembro. O Plenário também aprovou recentemente o PL 206/2020, de autoria da deputada Franciane Bayer (PSB), que institui o Dia Estadual de Prevenção ao Suicídio em 10 de setembro.

Prevenção

O presidente da ABP afirmou que é possível prevenir o
suicídio. Existem muitos sinais que alertam para a possibilidade de tentativa
de suicídio por parte de uma pessoa como, por exemplo, ficar mais recluso,
falar muito sobre sumir, não ter mais esperança, mudar o comportamento
repentinamente.

“O mais importante é dizer às pessoas que não duvidem de
quem ameaça cometer suicídio. Costumo dizer que, nesse caso, o cão que ladra,
morde. Não podemos arriscar; a pessoa está sofrendo, por isso dizemos que agir
salva vidas, no sentido de encaminhar para um serviço de saúde, um médico
psiquiatra, marcar a consulta e ir junto, não deixar a pessoa sozinha, fazer com
que ela sinta que você está ao lado dela”. O médico destacou também que se deve
ter em mente que a doença mental é como o diabetes, a hipertensão. Ela tem
tratamento, tem controle, e a pessoa pode voltar a ter qualidade de vida. Esses
são os caminhos para evitar o suicídio, afirmou.

Segundo o presidente da ABP, ainda não há dados que mostrem
se a pandemia de covid-19 aumentou o número de suicídios. Ele lembrou,
entretanto, que desde março de 2020 vem alertando as autoridades sobre a quarta
onda da covid, que é a das doenças mentais. A esse respeito, a ABP trabalha com
três cenários, que incluem o desenvolvimento de doença mental em quem nunca
apresentou sintoma, retorno dos pacientes aos atendimentos psiquiátricos após
recidiva de sintomas que já estavam em remissão e agravamento dos quadros
psiquiátricos de quem ainda estava em tratamento.

Substâncias químicas

O professor de pós-graduação em psiquiatria da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio) Jorge Antonio Jaber Filho
disse que um quarto dos suicídios acontece em usuários de substâncias químicas.
“O simples fato de uma pessoa fazer uso de drogas já a coloca no grupo de
risco”, advertiu. Isso significa que de cada quatro pessoas que usam drogas,
uma conseguirá se matar. “A estatística mostra que de cada 100 pessoas, 17 já
pensaram em suicídio, três tentaram e uma acaba numa emergência hospitalar. É
um fato que deve ser levado em consideração: que as substâncias químicas,
álcool inclusive, maconha, cocaína, ecstasy’, LSD, anabolizantes e cafeínicos
(bebidas com alto teor de cafeína) estão relacionados entre as drogas que
causam  maior possibilidade de uma pessoa
se suicidar”.

Jaber Filho afirmou que o fator que mais predispõe ao
suicídio é a depressão. Cerca de um terço dos suicídios no Brasil ocorre em
pessoas que sofrem de depressão e um quarto das pessoas que tenta o suicídio
usou drogas. Trabalho realizado dentro de um serviço psiquiátrico em 2019
mostrou que um quarto dos pacientes internados havia tentado o suicídio e foi
transferido de hospitais de emergência médica, geralmente da rede pública.

Alterações

O psiquiatra explicou que o fato de uma pessoa usar
substâncias químicas provoca, com frequência, alterações nos seus sentimentos,
gerando ansiedade e muita tristeza, geralmente após a cessação do efeito das
drogas. “Essas pessoas também têm alterações do pensamento. Ou seja, a pessoa
que usa drogas tem um pensamento às vezes muito eufórico, acredita que tudo vai
dar certo. Mas, passado o efeito, tem um pensamento muito ligado à ruína
pessoal, à percepção de que sua vida não está indo bem, de que nada dá certo
com ela. Geralmente, as pessoas atribuem esse pensamento de ruína às condições
externas políticas, econômicas e sociais que, realmente, têm alguma
importância, mas que são determinantes para tentativas de suicídio em pacientes
que usam drogas”. Quem não usa drogas tem menos chance de procurar o suicídio
em condições sociais adversas, argumentou.

Para Jorge Jaber Filho, usuários de drogas têm maior
tendência de abusar desses produtos em momentos difíceis da vida”. Mas se
abandonarem o uso das drogas, sairão desse grupo. Já os dependentes químicos,
em geral, não têm cura, mas têm acesso a tratamentos médicos e a grupos de
mútua ajuda que revertem essa possibilidade, ajudando-os a ficarem em
abstinência. “É possível, sim, haver recuperação”. Explicou que o dependente
químico é um usuário de substância química que perdeu o controle de sua vida
sob o efeito da droga. Já o usuário pode não ter qualquer problema com o uso da
droga, mas em algum momento – a perda de um grande amor, de uma pessoa querida
– predispõe ao abuso da substância naquele período. E se a pessoa continuar com
um sofrimento muito grande, pode tentar o suicídio também.

Lesões

Não só o suicídio, mas os casos de lesões autoprovocadas têm
sido uma preocupação constante na Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e
do Adolescente, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
(MMFDH). O secretário Maurício Cunha disse, em áudio, à Agência Brasil que o
órgão acompanha com atenção os dados do Ministério da Saúde sobre essas
questões desde 2010, por meio do Sistema de informação de Agravos de
Notificação (Sinan).

Lembrou que, em 2019, foi aprovada a Lei 13.819/2019, que
instituiu a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio. Os
casos que envolvem crianças e adolescentes passaram a ser de notificação
compulsória, inclusive ao Conselho Tutelar. “A gente sabe que o suicídio, em
qualquer faixa etária, é motivo de grande alarme. Mas é bem mais preocupante
observar essa tendência de aumento em crianças e adolescentes. E é com o
objetivo de prevenir e reduzir esses números que a campanha Setembro Amarelo
vai mobilizar o Brasil inteiro”.

Maurício Cunha lembrou que, este ano, há uma nova
circunstância desafiadora que é o contexto da pandemia. O isolamento social
levou um elevado número de pessoas a desenvolver problemas emocionais,
incluindo aí depressão, colocando crianças e adolescentes mais suscetíveis para
esse tipo de violência autoprovocada. “Inclusive, em muitos casos, ela acaba
ficando à mercê de abusadores e violadores de direitos nas suas próprias
casas”. Por isso, o secretário avaliou ser possível que haja aumento grande do
número de casos de automutilação, de tentativas de suicídio e até da consumação
do suicídio, “infelizmente”, durante a pandemia.

Para prevenir e evitar esse quadro, ele defendeu a
necessidade de que toda a sociedade, escolas, unidades de saúde, estejam
alertas e preparadas para reconhecer sinais e tomar as devidas providências com
rapidez e segurança. O secretário comentou que a identificação de transtornos
mentais e seu tratamento são matérias de competência do Ministério da Saúde,
mas a Política de Atendimento à Criança e Adolescente é interdisciplinar e
multissetorial, envolvendo vários órgãos: a sociedade civil que, junto com o
governo, desenvolve ações de acolhimento, escuta e apoio a crianças,
adolescentes e suas famílias no que diz respeito a lesões autoprovocadas e
ideação suicida.

A secretaria tem apoiado a campanha Acolha a Vida e a Semana
de Valorização da Vida, prevista para a última semana de setembro. Serão
realizadas transmissões ao vivo pela internet e feitas campanhas de mobilização
“para que, de fato, a gente possa trazer o tema à tona e levar a sociedade à
reflexão acerca de toda essa importante questão que envolve a saúde e a vida
das nossas crianças e adolescentes”, observou Cunha.

OMS

Dados da OMS estimam que a cada 40 segundos uma pessoa morre
por suicídio no mundo. No que se refere às tentativas, uma pessoa atenta contra
a própria vida a cada três segundos. Em termos numéricos, calcula-se que em
torno de 1 milhão de casos de mortes por suicídio são registrados por ano em
todo o mundo. No Brasil, os casos passam de 13 mil por ano, podendo ser bem
maiores em decorrência das subnotificações.

Maiores informações sobre a campanha Setembro Amarelo® 2021
podem ser acessadas no endereço eletrônico www.setembroamarelo.com.