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Boate Kiss: o lado jornalístico da tragédia – jornalistas relatam bastidores de incêndio que matou 242 pessoas

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

A Acústica FM e o portal Coletiva.net transmitiram na noite
desta quinta-feira (25) ‘Boate Kiss: o lado jornalístico da tragédia’. O programa trouxe
detalhes da tragédia da Boate Kiss, que vitimou 242 pessoas em Santa Maria, sob
uma ótica diferente. Jornalistas que trabalharam na cobertura do fato trouxeram
suas visões e experiências vividas na noite de 27 de janeiro de 2013, assim
como o luto e revolta das famílias e os fatos que sucederam a tragédia.

Danton Júnior, do Correio do Povo, disse que jamais imaginou
que presenciaria uma tragédia desta magnitude.

“Eu nunca imaginava que iria presenciar um evento destes.
Este número de mortes, costumamos ouvir em atentados terroristas, coisa
distante, em outros países. Eu não imaginava que ali em Santa Maria pudesse
acontecer uma coisa dessas.”.

O jornalista disse que presenciou situações que o marcaram e
que ele acabou não divulgando.

“Eu lembro de ver uma mãe desesperada, e uma religiosa
chegou para ela e disse: “olha, Virgem Maria também passou por isto”. Isto foi
uma coisa que marcou muito.”, disse.

Ele também destacou a dor dos familiares.

“A pior coisa que podemos presenciar como repórteres é ver
um pai ou uma mãe perdendo um filho. Eu já presenciei isto algumas vezes, em
outras situações, e é uma situação onde tu começa a se questionar se deveria
estar ali mesmo, e aí tu multiplica isto em 240. Eram 240 pais, 240 mães
chorando pelos seus filhos.”, relatou.

Flávio Ilha, jornalista que na época trabalhava no jornal O Globo, definiu a cobertura da tragédia da Kiss como uma das mais dolorosas de
sua vida.

“O velório coletivo foi uma das experiências mais
traumáticas que eu já tive como repórter. Eu já cobri muita coisa, mas o
velório coletivo no ginásio foi algo muito triste. Eram caixões, um do lado do
outro, com todas as famílias velando seus mortos, desesperadas, todos jovens.
Ver aqueles jovens todos, no auge de suas vidas, com sonhos a realizar, a
maioria deles universitários, com uma carreira pela frente, realmente foi muito
marcante.”, relatou.

Ilha também destacou o trabalho colaborativo dos jornalistas,
que trocavam informações entre si.

Gabriela Lerina, do SBT, definiu a situação como “um horror”.
Ela afirmou que inicialmente, antes de chegar em Santa Maria, não tinha noção
do real tamanho do ocorrido.

“Eu não tinha ideia do que viria pela frente.”, disse.

A jornalista relatou o momento em que os pais viam os nomes
dos filhos na lista dos mortos.

“Muitas vezes eu larguei o microfone para ajudar uma mãe que
estava ouvindo o nome de um filho que tinha perdido. Foi uma coisa horrorosa
que me marca muito até hoje.”, relatou.

Gabriela também destacou a dificuldade de manter o
profissionalismo em meio a uma tragédia daquela proporção. Segundo a profissional, jornalistas optaram em não mostrar algumas cenas, em
respeito a dor das famílias.

“Tinham muitas pessoas morrendo ao mesmo tempo. Foi muito
marcante.”, afirmou.

Nilson Vargas, jornalista do Grupo RBS, é natural de Santa
Maria e estava na cidade no momento em que ocorreu o incêndio. Emocionado, ele afirmou
que é muito mais “fácil” escrever sobre o ocorrido, pautar matérias, do que
falar sobre o que ele presenciou naquela noite.

“É muito difícil para mim. Eu vi a tragédia se montando na
minha frente. Meu primeiro contato com a tragédia foi no meio da madrugada, por
volta das três ou quatro da manhã, quando enxerguei, do lugar que eu estava, o
fogo.”.

Ele afirmou que não entrou na boate “por um detalhe”. O
jornalista foi impedido por um amigo policial que estava na porta da Kiss.

“Ele me puxou e disse: “tu não entra, porque tu não vai sair”.
Eu ainda resisti, pensei e acabei não entrando. Aí eu me afastei, atravessei a
rua, olhei pra trás e vi os corpos. Naquele momento
eu vi nove corpos, nove lençóis no estacionamento do mercado que fica na
frente.”, relatou.

Por ser natural de Santa Maria e ter acompanhado todos os
momentos da tragédia, Vargas alegou dificuldade em separar o profissional do
pessoal.

“Foi e é muito pesado para mim, falar. Mas eu estou de novo na
linha de frente da cobertura, tentando manter a neutralidade e acompanhando o
que vai acontecer neste julgamento.”, concluiu o jornalista.

O julgamento do caso da Boate Kiss começa no dia 1° de dezembro,
no Foro Central de Porto Alegre. O júri popular deve durar de dez a quinze
dias.

Assista o programa na íntegra: