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Programa de certificação da lã gaúcha estimula mudança cultural na esquila

Foto: Gabriel Becco/Divulgação
Foto: Gabriel Becco/Divulgação

Assim como os
uruguaios possuem a Grifa Verde, os produtores de lã gaúchos podem receber o
selo de certificação da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco).
Para isso, devem seguir algumas práticas que irão garantir um produto sem
incidência de contaminantes que desvalorizam a produção. Desde que iniciou, já
foram certificados cerca de 500 quilos de lã Merino, quase 7 toneladas de lã
Ideal e mais de 7,5 toneladas de lã Corriedale.
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Entre os objetivos do programa da Arco está melhorar a qualidade da lã colhida
nas propriedades, promover a valorização da lã produzida no estado, estimular a
utilização diversificada da lã e divulgar as propriedades do produto. Uma das
ações do programa para isto, é o credenciamento das comparsas de esquilas pela
Arco através de cursos, uma parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem
Rural (Senar-RS). Sérgio Muñoz, inspetor técnico da entidade responsável pelo
programa de certificação, relata que, atualmente, é preciso contratar comparsas
do Uruguai. “Eles são os melhores no método tally-hi”, afirma.
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Com a chegada da primavera, começa a fase de colheita da lã no Rio Grande do
Sul. É nesta época que os maiores especialistas em esquila de ovinos chegam ao
Estado com as  comparsas uruguaias, contratadas por temporada, para
realizarem a colheita da produção gaúcha. Foram os uruguaios que introduziram,
em 1972, a técnica surgida na Austrália, entre os anos de 1948 e 1950. O
tally-hi é hoje uma das formas indicadas para quem busca a certificação da lã
dentro do programa da Arco. Conforme Muñoz, o método de colheita da lã é
fundamental para receber a certificação da associação. No caso do tally-hi, a
ovelha não é amarrada e ele se torna um grande aliado do bem estar animal. “Com
a ovelha solta, ela não passa por stress”, garante o criador que, desde 2009
utiliza esta forma de esquila em sua propriedade. “Sou o único em Herval a usar
a técnica. É uma questão de mudança cultural”, afirma.
Como a lã certificada é a que não contém contaminantes, ou seja, sai do laneiro
pronta para ir para a indústria, Muñoz conta que, quando viu a esquila tally-hi
pela primeira vez, pensou que o produtor perdia dinheiro. “Após retirar as lãs
de desborde e contaminadas com urina, sobra 70% do velo aproximadamente.
Contudo a comercialização é feita 90% em cima do velo e o resto de subprodutos,
ou seja, pata, área de urina, virilha, barriga, em torno de 20% a 25%”, conta.
No entanto, o produtor explica que de um total de mil quilos com 800 quilos de
velo, o comprador paga como se fossem 900 quilos a preço de velo e o restante a
preço de subprodutos de lã certificada.
Muñoz lamenta, porém, a falta de mão de obra especializada no Brasil para que o
método tally-hi se propague e, com ele, mais produtores alcancem a certificação
da lã, pois a procura pelo programa da Arco é grande. “O Uruguai é exportador.
Lotam um avião com 250 esquiladores que vão para a Europa, passam alguns meses
trabalhando e voltam com 60 mil euros no bolso”, comenta. Segundo ele, a Arco
possui cinco esquiladores credenciados e que não dão conta do volume de
trabalho. “Por causa da esquila pré-parto, já temos 40 toneladas de lã
certificada e nem começamos a temporada. Podemos chegar a 100 toneladas este
ano”, garante. Se houvesse profissionais capacitados, o produtor estima que
poderiam ser certificadas pela associação de 300 a 500 toneladas de lã ao ano.
Em termos de rentabilidade, Sergio Muñoz destaca que o esquilador recebe por
ovelha e não por peso de lã. Atualmente, são pagos R$ 10,00 por animal. “Uma
comparsa com uma tesoura esquila, em média, 80 ovelhas por dia. Nossos
esquiladores podem chegar a 100. Já no Uruguai, é comum que esquilem até 250
ovelhas/dia”, conta o produtor. Por curiosidade, Muñoz falou sobre um concurso,
onde apenas é retirado o velo e o profissional não perde tempo buscando a
ovelha, em que o campeão mundial esquilou 760 ovelhas, em um único dia.  
Glossário
Esquilla – o mesmo que tosquia, ato de retirar a lã da ovelha com o uso de uma
tesoura. Hoje, feito com equipamentos elétricos, mas anteriormente, feito à
martelo, termo usado para quem pratica a tosquia com tesoura manual.
Comparsa – grupo de profissionais que realizam a esquilla. Pode ter uma ou mais
pessoas operando máquinas/tesouras, um embolsador para recolher e acondicionar
a lã e quem opera na mesa, no caso do método tally-hi, para as aparas.
Merino Australiano, Ideal e Corriedale – raças de ovinos produtoras de lã.
Também produzem lã as raças Romney Marsh e Border Leicester, não citadas na
reportagem.
Laneiro – local onde se guarda a lã.


Texto: Ieda Risco/AgroEffective