Search
[adsforwp-group id="156022"]

Homens negros são principais vítimas da violência armada no Brasil

Foto: Ilustração | Pixabay
Foto: Ilustração | Pixabay

Homens negros são 3,5 vezes mais propensos a serem
assassinados por arma de fogo que os não-negros, de acordo com estudo divulgado
pelo Instituto Sou da Paz. Com o objetivo de monitorar os impactos da violência
armada no país, com foco na mortalidade, a pesquisa aponta que, de 2012 a 2020,
mais de 254 mil homens negros foram assassinados no Brasil vítimas de arma de
fogo, o que corresponde a 75% do total de 338 mil mortes. 

Receba todas as notícias da Acústica no seu WhatsApp tocando aqui!   

Desenvolvida com base em dados do Ministério da Saúde, a
pesquisa se concentra na análise dos óbitos masculinos, que constituem a
maioria das vítimas de violência armada no país. Os homens correspondem a
cerca de 94% das mortes causadas por armas de fogo, em 2020. Desses, 81% eram
negros.

A pesquisadora e coordenadora de projetos do Instituto Sou
da Paz, Cristina Neme, argumenta que o armamento é um fator de risco para
crimes violentos. Para ela, os maiores índices de violência armada contra
homens negros refletem a vulnerabilidade a qual esta parcela da população está
submetida. Em 2020, a taxa de homicídios por armas de fogo nas regiões
metropolitanas foi de 51,0 a cada 100 mil homens negros, um aumento de 10% em
relação ao ano anterior.  

“Dos anos 2000 para cá, a arma de fogo é o principal
instrumento utilizado nos homicídios: 70% ou mais dos homicídios registrados no
país, desde então, são praticados com arma de fogo. Essa proporção é ainda
maior na população negra, na população masculina. A gente pode dizer que essa
taxa de homicídio, muito superior para os homens negros, é uma consequência
extrema de um racismo estrutural que se apresenta de forma sistêmica na nossa
sociedade e que aparece em vários indicadores, não apenas no indicador de violência”,
pontua a pesquisadora. 

De acordo com Instituto de Geografia e Estatísticas (IBGE),
a proporção de pessoas pobres no Brasil, em 2021, era de 18% entre os brancos e
praticamente o dobro entre os pretos (34,5%) e entre os pardos (38,4%). Além
disso, a população negra tem os maiores índices de desemprego e informalidade,
além de receberem, em média, pouco mais da metade que os brancos, R$1.764 e
R$3.099, respectivamente. 

Racismo no Brasil

A Constituição Federal de 1988 traz em seu texto que o
racismo é “crime inafiançável e imprescritível”. A pena pode chegar a cino anos
de reclusão. Nos casos de injúria, caracterizada pela ofensa à dignidade devido
à raça, cor, etnia, religião, idade ou deficiência, a pena é de 1 a 3 anos de
reclusão. 

Entretanto, apesar da legislação, as estatísticas de
diferentes institutos de pesquisa indicam que ainda existe uma ampla
desigualdade racial no Brasil. O coordenador do Centro de Estudos de Segurança
e Cidadania (CESEC) e doutor em ciências políticas, Pablo Nunes, afirma que os
altos números de violência contra a população negra são fruto do racismo
estrutural. Para ele, este processo faz parte das desigualdades produzidas pela
sociedade.

“O racismo estrutural, em termo gerais, é um sistema que dá
uma espinha dorsal para a sociedade e que garante aos brancos os privilégios
desse cenário de desigualdade e aos negros relega o ônus desse processo de
divisão da sociedade. Existe no centro da explicação o histórico de que corpos
negros, pessoas negras não tenham direitos e também possam figurar como as
vítimas desse tipo de violência”, argumenta o coordenador. 

Em 2021, de acordo com dados do Fórum de Segurança Pública,
o Brasil registrou 13.830 casos de injúria racial e 6.003 casos de racismo. No
mesmo ano, as pessoas negras representavam 67,5% da população prisional
brasileira. Na última década, 408.605 pessoas negras foram assassinadas, o que
corresponde a 72% do total de homicídios registrados no período. 

Arma de fogo no Brasil

Ainda segundo o estudo do Instituto Sou da Paz, em 24 dos 26
estados brasileiros, desconsiderando o Distrito Federal, as armas de fogo são o
principal instrumento de agressão nas regiões metropolitanas. A cada quatro
homicídios, três envolvem o objeto. 

O Anuário de Segurança Pública, divulgado no último mês de
junho, aponta que o Brasil registra um total de 4,4 milhões de armas em estoque
particular, a cada três registradas, uma está em situação irregular. De 2018 a
2022, os Registros Ativos de Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CAC)
cresceram 473,6%. 

O número reflete a política de flexibilização do acesso a
armas adotada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, segundo o estudo Armas
de Fogo e Homicídios no Brasil, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O
documento estima que, se não houvesse o aumento de armas de fogo a partir de
2019, mais de 6,3 mil homicídios teriam sido evitados, a estimativa indica que
quanto maior a difusão de armas, maior a taxa de homicídios. 

“Desde 2019, a legislação instituída pelo governo Bolsonaro
tem avançado fortemente no afrouxamento e descontrole de armas de fogo e
munição. Foram publicados mais de 40 atos normativos que descaracterizaram
totalmente o Estatuto do Desarmamento (ED), permitindo com que o cidadão comum
tivesse acesso a armas de fogo de alto potencial ofensivo, sem haver qualquer
exigência de comprovação de efetiva necessidade”, diz o informe, publicado este
ano. 

Em relação à letalidade policial, o Anuário mostra que,
entre 2013 e 2021, foram  41.171 mortes. Os negros são 84,1% das vítimas,
o que corresponde a 4,5 por 100 mil habitantes.