Search
[adsforwp-group id="156022"]

Pluralidade e inclusão são temas de seminário para servidores da Fase

Foto:Jürgen Mayrhofer/Ascom SSPS
Foto:Jürgen Mayrhofer/Ascom SSPS

Cerca de 100 servidores da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase) participaram do seminário Pluralidade e Inclusão no Serviço Público, na sede central da instituição, nesta segunda-feira (10/4). Além deles, 56 servidores de unidades do interior também assistiram ao evento, de forma on-line. A iniciativa foi promovida pela Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo (SSPS), órgão ao qual a Fase é vinculada. 

Receba todas as notícias da Acústica no seu WhatsApp tocando aqui! 

O seminário reuniu especialistas a fim de reconhecer o contexto atual das diferentes minorias no Brasil e das políticas públicas sobre diversidade, além de debater ações inclusivas que podem ser implementadas no local de trabalho. Dentre os assuntos abordados estiveram a diversidade no ambiente de trabalho, a juventude, os estereótipos raciais, o feminino na arte e na cultura visual e os canais de denúncia.  

Durante a abertura do evento, o titular da SSPS, Luiz Henrique Viana, ressaltou a importância de se promoverem eventos que possam gerar mudanças positivas na perspectiva dos servidores. “É necessário que possamos reconhecer o contexto da diversidade que temos no nosso meio, na família, na cidade, no Estado para que passemos a conviver naturalmente com ela”, destacou Viana. “Essa iniciativa acrescenta muito ao ambiente no qual vivemos e ao trabalho que realizamos. Nosso objetivo é este: que os direitos possam incluir mais pessoas no serviço público do Estado.” 

O presidente da Fase, José Stédile, destacou que o reconhecimento da existência da discriminação é um passo fundamental para combatê-la. “É por isso que saudamos, com muita alegria, este evento, que trata de diversidade, respeito e igualdade. Tenho certeza que isso chegará aos adolescentes com quem trabalhamos”, disse Stédile. 

Diversidade e ambiente de trabalho 

No primeiro painel do evento, sobre diversidade e ambiente de trabalho, a coordenadora da Divisão da Diversidade e Combate à Intolerância, Glória Crystal, e o diretor do Departamento de Diversidade Sexual, Dani Morethson, ambos da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH), apresentaram questões sobre gênero e sexualidade, além de abordar os impactos da LGBTfobia. 

A palestra foi realizada de modo a promover o diálogo com os servidores presentes, para que eles pudessem fazer questionamentos sobre os assuntos. Glória, que é uma mulher travesti, compartilhou parte de sua história para destacar que a falta de informação fomenta a discriminação, e aí torna-se necessário promover a diferença. 

“Quando fiz a transição, com quarenta e poucos anos, consegui colocar para fora essa figura feminina, a Glória, e estou feliz. Mas ainda passo por situações constrangedoras quando as pessoas ficam em dúvida se me chamam de ‘ela’ ou ‘ele’”, relatou Glória. “Já ultrapassei a expectativa de vida das travestis no Brasil, que era de 35 anos e agora é de 27. Tento fazer, a cada dia, algo que possa mudar a vida das minhas iguais.”

Com a abordagem de aspectos sobre a diversidade presente na sociedade, Dani falou sobre a importância de se disponibilizar informações como forma de combater a LGBTfobia. “Quando tratamos o preconceito, mostramos um conhecimento que transforma. Não é vergonhoso dizer que não sabe lidar com essas questões, mas é importante adquirir informação”, destacou o diretor. 

Diversidade e juventude 

Para abordar a temática da diversidade e da juventude, o palestrante foi o coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) no Rio Grande do Sul, Paulo Daniel, que trabalha com jovens que vivem em áreas de vulnerabilidade social. Paulo apresentou um panorama da história e a atuação da Cufa, gestora do Centro da Juventude (CJ) Cruzeiro, que faz parte do Programa de Oportunidades e Direitos (POD). O POD é uma parceria do governo do Rio Grande do Sul, por meio da SJCDH, e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).  

O programa tem como foco a prevenção e atende jovens de 15 a 24 anos, em áreas com alto índice de criminalidade. Nos CJs, o público tem acesso a atividades educacionais, como cursos profissionalizantes e de idiomas, além de reforço escolar. Os jovens também têm a possibilidade de serem encaminhados para o mercado de trabalho, participarem de eventos culturais e esportivos e receberem acompanhamento psicossocial.   

Paulo relatou vivências do público atendido pela organização e ressaltou a importância da identificação de potencialidades dos jovens para que eles possam ocupar diferentes lugares na sociedade. Além disso, contou como a sua trajetória pessoal o auxilia a desenvolver um trabalho com empatia e atenção para essa parcela da população.  

“Minhas experiências pessoais me ajudaram a estar muito mais próximo desses jovens. Quando quebramos uma barreira e passamos a enxergá-los como indivíduos, como seres humanos, e não só como objetos do projeto, o resultado é melhor e imediato”, afirmou Paulo. 

Racismo estrutural na sociedade 

No primeiro painel do período da tarde, para tratar do racismo estrutural na sociedade, a diretora de Políticas Socioeducativas da SSPS, Gabriela Cruz, abordou as suas vivências como mulher negra e assistente social, ressaltando a importância de se falar sobre racismo e outras questões existentes na vida cotidiana da população. Ela também destacou a necessidade de olhar para o outro com igualdade, mas respeitando as especificidades e realidades de cada um. 

“Vivemos um Brasil extremamente racista, principalmente aqui na região sul. Não sou eu que estou dizendo, é o Atlas da Violência, é o Ministério dos Direitos Humanos, é a nossa Delegacia de Combate à Intolerância. Essas práticas são cotidianas. Precisamos superar a herança da escravidão, que ainda persiste na sociedade”, disse Gabriela. 

A assistente social Adriani Faria também compartilhou a sua história para abordar questões ligadas ao racismo. “Sou uma defensora dos direitos humanos. Isso está enraizado na minha atuação. Atuo pela justiça e, principalmente, pela autonomia e pelo empoderamento da população negra, em especial. E só me senti incentivada a estar dentro da academia porque saí de Pelotas, vim para Porto Alegre e conheci pessoas negras que estavam na universidade. Elas foram minhas referências e me potencializaram, porque, infelizmente, na minha família eu não tive isso”, relatou Adriana. 

Estereótipos do feminino na arte e na cultura visual 

A jornalista e historiadora da arte Rosane Vargas apresentou uma série de obras de arte, fotografias e campanhas publicitárias que reforçam estereótipos femininos, com aspectos que são atravessados por questões sociais e de raça. As imagens exibidas, segundo Rosane, fortalecem uma ideia e um imaginário antigos a respeito de mulheres, mas que ainda repercutem na sociedade atual. 

A pesquisadora destacou que o sexismo impõe determinada noção de masculinidade aos homens e certa visão de feminilidade às mulheres, definindo os lugares sociais, econômicos e políticos. “A realidade na nossa sociedade é que o sexismo é potencializado por homens. Então, o sexismo, muitas vezes, parte de um aspecto heteronormativo”, explicou Rosane. “É um homem que segue uma norma, e tudo aquilo que é considerado inferior e inapropriado são as mulheres, as mulheres trans, os homens trans, os homens gays. O sexismo ataca a dignidade de um grupo muito grande de pessoas.”  

Canais de denúncia  

No último painel do evento, a ouvidora-geral do Estado, Viviane Migliavacca, e o diretor de departamento, Rogério Grade, apresentaram o funcionamento da Ouvidoria-Geral do Estado. A Ouvidoria é o elo entre o Estado e o usuário de serviços públicos e é uma unidade que promove a participação da população, respondendo às manifestações. Além disso, viabiliza o controle da administração pública com as informações que são trazidas diretamente pelos cidadãos. 

“Quando chega à Ouvidoria, o cidadão já passou por várias ligações e, às vezes, está cansado. Por isso, precisamos ter sintonia para fazer um bom atendimento. Temos que ser o grande detector da informação de onde estão os problemas, onde estão os gargalos do Estado, onde podemos melhorar ou mesmo onde está funcionando”, explicou Viviane.

A ouvidora também falou sobre o Canal Denúncia, que é uma instância de controle público e de participação social na qual são recebidos relatos de atos ou condutas contrários à ética ou à lei praticados no âmbito do Poder Executivo estadual. Além disso, foram apresentadas aos servidores iniciativas como o Serviço de Informação ao Cidadão e a Comissão Mista de Reavaliação de Informações do Rio Grande do Sul.