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Sindilat-RS lança projeto para qualificar controle do leite no Estado

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Após mais um ano de denúncias envolvendo fraudes no leite, o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Rio Grande do Sul (Sindilat-RS) lançou o projeto Metodologia de Coleta Automática de Amostras de Leite. A iniciativa – realizada em parceria com a Embrapa Clima Temperado, a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação do Estado e a Cooperativa Sul-Riograndense de Laticínios (Cosulati) – promete qualificar o controle de procedência e transporte do leite no Rio Grande do Sul. O sistema, lançado nesta quinta-feira (17), durante evento na Embrapa Terras Baixas, vem sendo desenvolvido há dois anos e começa a ser posto em prática em janeiro de 2016, quando as primeiras avaliações começarão a ser feitas.

Há três meses, cinco caminhões de transporte da Cosulati utilizam os equipamentos responsáveis por medir o volume de leite retirado dos tanques de resfriamento, a temperatura, o horário e o local onde a coleta foi feita, além de separar uma amostra para análise preliminar da qualidade do laticínio sem a intervenção do transportador como ocorre hoje. Com custos que variam de R$ 60 mil a R$ 150 mil, dependendo da complexidade da tecnologia escolhida pela empresa de transporte, o método garante a segurança do processo e praticamente elimina a possibilidade de adulteração, principalmente nas propriedades com produção superior a cem litros por dia, volume a partir do qual a análise é possível.

Segundo a pesquisadora da Embrapa e coordenadora do projeto de certificação, Maira Zanela, em janeiro o instituto de pesquisa inicia a fase de pré-avaliação da metodologia, quando serão levantados dados sobre uniformidade das amostras, grau de interferência de porções coletadas em uma propriedade na análise das outras e desempenho de volume. Essa etapa deve durar três meses e preceder o período de avaliação efetiva, programado para 12 meses. Durante esse estágio, a Embrapa vai analisar cerca de 20 mil amostras para definir o impacto de variáveis, como condições das estradas, clima e a real eficácia dos diferentes equipamentos na coleta e processamento de informações.

 

Tecnologia em evidência para toda a cadeia

Apesar do alto investimento, a adoção da nova tecnologia de amostragem e monitoramento do leite é vista como garantia de mais segurança tanto pelos produtores como por quem faz o transporte. É o caso do motorista Zilmar Chollet, 71, há mais de dez anos na atividade. Além de certificar a qualidade do produto final, o sistema vai evitar distorções na hora de prestar contas à indústria. Hoje, se o volume de leite entregue para produção for muito diferente do indicado na propriedade, quem paga parte da diferença é o transportador. “O equipamento vai dar mais confiança ao produtor e segurança à indústria. É bom.” 

No caminhão onde Chollet trabalha foi instalado um equipamento mais simples, que mede apenas o volume e a vazão de leite. O dispositivo exige menos investimento se comparado aos mais completos e o motorista confirma a intenção do dono do veículo em adquirir o mecanismo. “Se a gente comparar, os prejuízos que temos hoje com o método tradicional pagam em dois anos a compra do sistema. Vale a pena.” Assim como ele, o motorista Alessandro Rediss, 38, há oito na rota do leite, aceitou fazer parte do projeto. No caso dele, o equipamento instalado é mais completo e caro, no entanto, Rediss também pretende adotar a ideia dependendo da proposta de compra.

 

Investimento

Sem custos definidos – além da aquisição do equipamento, há ainda os gastos com manutenção e assistência -, a nova metodologia de amostragem e rastreamento está em fase de testes e só deve ser aplicada efetivamente no próximo ano. Mesmo assim, o sistema já é visto com bons olhos pela Cosulati, por exemplo, devido ao ganho em qualidade e a possibilidade de certificação alimentar associada. Para o diretor-executivo da cooperativa, Raul Amaral, a parceria firmada com a Embrapa e o Sindilat vai beneficiar diretamente o consumidor, o que é importante para a cadeia leiteira como um todo.

Segundo Amaral, as condições das estradas na Zona Sul serão a principal barreira ao projeto e devem exigir adaptações. Já o presidente do Sindilat, Alexandre Guerra, vê na iniciativa um caminho para combater futuras fraudes como as que macularam a história do leite gaúcho em 2013, 2014 e 2015. Conforme ele, a ideia é proteger os investimentos realizados pelos associados na qualidade dos produtos que oferecem. Após a validação do projeto – papel da Embrapa -, o sindicato vai buscar junto aos governos federal e estadual a desoneração tributária, reduzindo custos.

 

Pesquisa

Cada um dos cinco caminhões de transporte de leite da Cosulati recebeu um tipo diferente de sistema, produzido por uma das cinco empresas de tecnologia ligadas ao projeto. Todos os equipamentos incluem medidores de vazão embarcados, mas só alguns possuem coletores de amostra. Dos resultados obtidos pela Embrapa depende a regulamentação e os pedidos de isenção fiscal para os importados e vantagens para os nacionais, o que vai permitir a produção em série. Além de representantes locais, empresas de outras regiões do Estado vieram conhecer a metodologia. Se tudo der certo, a intenção é espalhar o sistema – considerado um divisor de “leite” pelo presidente do Sindilat – por todo o país.

 

Lei do Leite

Na próxima terça-feira, a Assembleia Legislativa gaúcha deve votar o projeto de lei intitulado Lei do Leite. A proposta regulamenta a produção, transporte e venda de leite no Rio Grande do Sul e vem tramitando em regime de urgência desde novembro. Se aprovada, a lei vai facilitar a fiscalização e punição de possíveis fraudes no setor, algo até então quase impossível devido a ausência de normas. O texto da lei prevê ainda o cadastramento dos transportadores de leite pela indústria e posterior informação à Secretaria da Agricultura. Além disso, caso sejam identificadas irregularidades o responsável vai estar sujeito a multa.

A ideia é coibir problemas como os identificados pela operação Leite Compensado, deflagrada pelo Ministério Público em 2013. Na época, denúncias indicavam a adulteração de cem milhões de litros de leite produzido no Estado. Os fraudadores acrescentavam produtos químicos ao leite cru para mascarar o sabor e a adição de água, usada para aumentar o volume do produto. Segundo as investigações, os suspeitos – a maioria da região central e norte do Estado – utilizavam leite com até sete dias de prazo entre a ordenha e a coleta, quando a instrução normativa 62 indica prazo máximo para a coleta até o recebimento e processamento pelos postos de resfriamento de 48 horas.