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À espera de adotantes, cavalos que foram vítimas de maus-tratos estão em abrigo mantido pela EPTC

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Com os olhos sangrando, um cavalo foi abandonado num talude do Arroio Dilúvio, no meio de uma madrugada, em Porto Alegre. O socorro veio por intermédio de Denísio Correa, 56 anos, acionado pela EPTC. Sem demonstrar ser arredio, o matungo seguiu o cheiro da ração e entrou no caminhão preparado para levá-lo ao Abrigo de Animais de Grande Porte, no Bairro Lami, no Extremo-Sul de Porto Alegre.

Durante dois meses, Ceguinho, nome que recebeu ao ser encontrado ferido, reaprendeu a viver sem enxergar. Para isso, reforçou ainda mais a audição e o olfato. Ele nunca viu Denísio. E nem é preciso. Basta sentir a presença do cuidador para o cavalo parar o que está fazendo e se aninhar nos braços do amigo.

De um momento de dor, nasceu uma amizade que já dura três anos. Renegado pelos adotantes entre os demais cavalos que estão no abrigo da EPTC, Ceguinho tornou-se “patrimônio”, como Denísio fala com carinho. É o mais antigo a permanecer na área.

– Se deparar com um animal abandonado, já é uma coisa ruim. Quando o encontrei, parecia chorar sangue. Coisa mais triste saber que tem gente capaz de fazer uma maldade destas. Ele teve que aprender até a achar o lugar para beber água. Me apeguei demais a ele – desabafa Denísio, que por ter nascido no Uruguai é mais conhecido como Castelhano.

Carinho

Há três anos, Denísio assumiu a responsabilidade pelo abrigo num contrato com a EPTC de prestação de serviços até 2017, com possibilidade de renovação. Neste período, auxiliou o órgão no resgate de 1.035 animais recolhidos a partir de denúncias de maus-tratos e de abandono – foram 411, em 2013, 305, em 2014, e 319, em 2015. Os animais que chegam ficam em uma área rural de 27 hectares, entre figueiras centenárias e vasta pastagem.

– Eles chegam aqui debilitados, à espera de um carinho. Passam por uma avaliação com a veterinária da prefeitura, tomam remédio de vermes, são casqueados e têm os ferros retirados. Voltam a viver soltos no campo, a ter uma vida normal para um cavalo –comenta Denísio, que afirma ter se criado ao lado dos cavalos.

Peninha é o mais novo hóspede

É assim que Peninha, o mais recente a chegar ao abrigo, deverá se sentir quando se recuperar. Encontrado na semana passada, com o couro grudando nos ossos, próximo ao Porto Seco, na Zona Norte da cidade, o velho pangaré de cerca de 20 anos, batizado com este nome por ter o pelo branco e estar mais leve que uma pena, mal conseguia ficar em pé quando chegou ao abrigo. Pastou quase 24h sem parar.

– Quando me viu, parecia pedir socorro. Estava quase morto – recorda Denísio.

A expectativa é de que Peninha se recupere nas próximas semanas, como ocorreu com Ceguinho. Aliás, o cavalo que não enxerga tem atenção, inclusive, dos companheiros de campo. Quando não está cercado pelos outros cavalos, ele é guiado por Denísio, que larga o que está fazendo para atendê-lo. Carregando-o por uma corda frouxa, o cuidador costuma levá-lo ao cocho de água e à sombra da figueira onde Ceguinho gosta de descansar.

– Assim como os outros cavalos, o que ele mais gosta é de um carinho sobre as crinas. Depois de tudo o que passou, Ceguinho merece. É meu amigo – resume, emocionado, Denísio.

Cavalos precisam de adotante

Depois de plenamente recuperados e identificados com microchip, os equinos podem ser adotados por pessoas e por entidades juridicamente reconhecidas, por meio de Termo de Compromisso firmado entre a EPTC e o Ministério Público/RS. Hoje, há 58 animais à espera de um adotante.

Conforme o coordenador da equipe de fiscalização de veículos de tração animal da EPTC, Tiago Oliveira, em 2015 foram realizadas 70 adoções. Uma vez por ano, os cavalos adotados são averiguados pelo órgão.

– Precisamos de mais adotantes para conseguirmos liberar espaço para outros cavalos. Como estamos em pleno andamento do programa Todos Somos Porto Alegre (lançado pela prefeitura há quase três anos com a intenção de reduzir gradativamente o número de veículos de trações animal e humana na Capital), ainda receberemos mais cavalos ao longo deste ano – calcula Tiago.

Denúncias de maus-tratos

* Ligue para o 118 ou 156.

* A EPTC apenas recolhe cavalos abandonados ou vítimas de maus-tratos se eles estiverem soltos.

* Se o animal estiver amarrado dentro de uma propriedade e ficar constatada a situação de abandono, a EPTC aciona o Batalhão Ambiental da Brigada Militar.