Após o resultado das eleições do domingo, alunos de duas escolas em Porto Alegre foram alvos de insultos por preconceito de classe.
No primeiro caso, duas alunas do Ensino Médio do Colégio Farroupilha, escola particular de Porto Alegre, sofreram ofensas por colegas ao comemorar a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no grupo do WhatsApp das turmas do terceiro ano.
Os insultos foram feitos no domingo (30), logo após o resultado das urnas confirmarem a vitória de Lula sobre Jair Bolsonaro
Entre os xingamentos estão expressões como “chinela” e “nojenta”, entre outros insultos. Uma das Bolsistas há 10 anos do Farroupilha, também foi humilhada pelos colegas, que escreveram: “Vamos cortar tua bolsa”, “Vai embora do Farroupilha, petista”, “Aqui não é teu lugar” e “Quando tu não conseguir emprego, não vou ser eu que vou fazer caridade e ser tua patroa”.
Nesta sexta-feira (4), a instituição de ensino emitiu nota afirmando que repudia qualquer tipo de intolerância ou discriminação. A reportagem da Acústica FM obteve autorização dos pais de uma das estudantes que revelou sofrer discriminação há muito tempo por ser bolsista
O preconceito dos alunos não bolsistas com os bolsistas é recorrente. Eu estudo desde 2014 lá no Farroupilha e eu acredito que todos alunos que têm bolsa percebem essa exclusão. É bem perceptível que temos um tratamento diferente e com essa eleição deu as caras muito mais. O conflito começou com discussão política de fato, mas aí extrapolou de muitas maneiras para realmente nos ofender com ódio de classe”.
A aluna afirma ainda que os professores sempre deram apoio aos estudantes bolsistas, mas sente falta de uma posição mais firme da instituição colégio Farroupilha
“ Eu sinceramente não acredito que eles não saibam que aconteça esse tipo de preconceito. Apesar de toda a gratidão que eu tenho pelo colégio Farroupilha eu sinto que eles ignoram essa questão. Como a gente acaba vendo isso desde criança, eu convivo com isso desde os oito anos, e quando a gente cresce não tem segurança em chegar na direção e informar o que está acontecendo, porque nós sabemos que eles nunca tomaram uma ação, por que tomariam agora?, questionou a aluna.
A gravação de uma live também viralizou durante a semana, provocando o afastamento temporário de dois estudantes envolvidos em ofensas contra outros alunos eleitores de Lula na Escola Israelita. A direção informou que só tomou conhecimento da live com os xingamentos nesta sexta-feira, 4, quando o colégio passou a ser marcado nos vídeos e a receber cobranças por um posicionamento.
A live foi gravada após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno, no domingo, 30. Declarações preconceituosas contra eleitores e simpatizantes de Lula foram feitas pela autora da gravação, fora da instituição, na companhia de outros estudantes.
No vídeo, alunos do Colégio Israelita de Porto Alegre ofendem nordestinos e debocham de quem ganha auxílio emergencial. Uma onda de protestos nas redes sociais pediu a expulsão dos adolescentes
O Ministério Público do Rio Grande do Sul vai investigar os dois casos e cobra explicações das escolas. A promotora Regional da Educação de Porto Alegre, Ana Cristina Ferrareze
“Na área da Educação, pedimos aos colégios que nos informem oficialmente a identificação dos adolescentes em tese envolvidos nestes casos e quais medidas foram ou serão aplicadas. Depois da manifestação formal dos colégios, serão realizadas audiências extrajudiciais. Mas temos certeza de que atitudes como essas, que são graves, que nos chocam, devem ser punidas. As condutas dos adolescentes precisam ser responsabilizadas também pela área do ato infracional, bem como investigadas as condutas dos pais ou responsáveis”, ressalta a promotora de Justiça Ana Cristina Ferrareze.
Confira a íntegra da Nota do colégio Israelita
O Colégio Israelita Brasileiro traz a público seu firme repúdio a manifestações com teor discriminatório e preconceituoso praticadas por alunos desta instituição. Nos solidarizamos com todas as pessoas que foram e se sentiram ofendidas.
Estas ações em nada refletem nossos princípios filosóficos e nossa prática pedagógica. Nenhuma escola é uma ilha. Estamos inseridos em uma sociedade que se encontra em parte contaminada por dinâmicas disfuncionais. Mas vamos agir.
O discurso de ódio não será tolerado. Dentro da legislação e dos nossos regulamentos, serão aplicadas as penalidades cabíveis. No entanto, muito mais do que punir, sabemos que nosso papel é educar e formar seres humanos capazes de colaborar para a evolução da sociedade.
O CIB, ciente da gravidade do momento que estamos atravessando, compromete-se a usar da melhor maneira as ferramentas que possui para pôr em prática um programa ativo de resgate das boas relações e da ética. Estas ferramentas são nossos valores, nossa capacidade educadora, nossa crença na tolerância e na convivência entre diferentes.
Estamos atentos. Estamos mobilizados. Em conjunto com nossa comunidade escolar, temos certeza que faremos nossa parte para superar esta situação e que aprenderemos todos com ela.”
A íntegra a nota do Colégio Farroupilha:
O Colégio Farroupilha repudia discursos ou ações que disseminem qualquer tipo de intolerância, violência ou discriminação e espera a mesma postura de todos que fazem parte da comunidade escolar. A conduta inaceitável de alguns estudantes não representa os valores da instituição e, por isso, houve a imediata aplicação das penalidades previstas no Código de Conduta e Convivência da escola.
Lamentamos que o atual momento de tensionamento vivenciado pela sociedade reflita no ambiente escolar. Nessa perspectiva, nos comprometemos a trabalhar fortemente para que a boa convivência, o respeito às diferenças e a ética sigam priorizados em nossa prática pedagógica.