O Rio Grande do Sul terá, novamente, uma das maiores liberações de crédito pelo Banco do Brasil (BB) para o Plano Safra. A instituição financeira, responsável por 61,2% de todo o crédito agrícola do País, anunciou a garantia de R$ 12,2 bilhões ao setor no Estado para a temporada 2016/2017, parte considerável do total de R$ 101 bilhões que serão emprestados pelo banco em todo o Brasil. O valor é cerca de 10% maior do que o concedido aos produtores na safra passada, quando atingiu R$ 11,1 em empréstimos concretizados.
A expansão no crédito é descrita como praticamente linear pela direção do BB, já que, na safra 2015/2016, também foi registrado um aumento de 10% nos empréstimos aos produtores. O número, porém, não é estanque. “Não significa que vá parar por aí, vamos buscar ainda mais”, projetou o gerente de mercado de agronegócios do BB no Estado, João Paulo Comerlato. O executivo ressaltou que na última safra a liberação inicial também foi ultrapassada, totalizando a assinatura de 200 mil contratos no Rio Grande do Sul, o que classificou como “um fato histórico”.
Do total liberado pelo BB para o Estado, R$ 2,782 bilhões serão destinados à agricultura familiar, R$ 2,141 bilhões aos médios produtores, e R$ 7,287 bilhões à agricultura empresarial. Quanto à utilização dos recursos, R$ 10,5 bilhões devem financiar o custeio e a comercialização da safra, enquanto R$ 1,7 bilhão irão para os investimentos diversos.
A instituição financeira aderiu, também, a duas das principais novidades do Plano Safra nesta temporada, anunciadas pelo governo ainda em maio. Uma delas é a criação de uma linha para os chamados recursos “extrateto”, para produtores que superam o limite máximo de crédito com juros subsidiados. Para estes casos, serão emprestados recursos captados por meio de Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), a juros de 12,75% ao ano.
“Até então, esses produtores precisavam buscar esses recursos no mercado comum, a mais de 20%”, argumenta Comerlato. O banco estima que essa linha, que deve oferecer 14% de tudo que for captado em LCAs a partir de agora, alcance R$ 6 bilhões. A outra novidade é que, nos créditos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), haverá redução de 5,5% para 2,5% nos juros para as culturas que integram a cesta básica, como arroz, feijão, milho e cebola, além de produção de base orgânica e práticas sustentáveis de manejo. Investimentos em estruturas como estufas e sistema de irrigação, além de correção do solo e geração de energia de fontes renováveis por meio do Pronaf Mais Alimentos também terão a mesma redução na taxa de juros.
“Não somos parceiros de ocasião, mas parceiros de vida do agricultor”, declarou o superintendente do BB no Rio Grande do Sul, Edson Bündchen. “Está sendo escrita, com nossa ajuda, a agenda positiva do agronegócio, que impulsiona a economia gaúcha e do Brasil nesse momento de crise”, continuou o executivo. Bündchen ainda lembrou que a carteira de agronegócio da superintendência gaúcha é a maior da instituição no País, com cerca de R$ 18 bilhões.
No plano nacional, também divulgado hoje, o Banco do Brasil disponibilizará R$ 101 bilhões divididos em R$ 14,6 bilhões para agricultura familiar, R$ 15,3 bilhões para médios produtores e R$ 61,1 bilhões para agricultura empresarial. Também serão destinados R$ 10 bilhões para empresas. Os recursos fazem parte dos R$ 185 bilhões subsidiados pelo governo federal para a safra 2016/2017.
Governo estadual e entidades consideram anúncio dentro do esperado
Presente ao anúncio na superintendência do Banco do Brasil (BB) em Porto Alegre, o secretário da Agricultura, Ernani Polo, saudou o crescimento nos valores destinados a todas as faixas de produtores. “Todos os níveis têm sua importância, do pequeno ao grande produtor, e as linhas apresentadas dão condições de que todos possam evoluir”, analisou Polo. O secretário saudou também algumas iniciativas, como a taxa de juros de 2,5% também ao produtor familiar de milho em empréstimos de até R$ 20 mil, por atenderem a uma necessidade do Estado.
O secretário da Farsul, Francisco Schardong, classificou os valores e as taxas de juros como importantes “em meio ao momento econômico que vivemos”, segundo ele. Schardong ressaltou, porém, que nem todos os produtores conseguirão ter acesso às linhas, por pendências de outras safras. “É importante que os produtores tenham boa gestão, não pegando dinheiro só por pegar”, comenta o dirigente.
A inadimplência dos agricultores gaúchos, porém, seria a menor do País, segundo o superintendente do BB para o Estado, Edson Bündchen. A taxa estaria em torno de 1% na carteira agrícola do banco. “Seremos intransigentes na busca por cada centavo que emprestarmos. Temos a menor inadimplência, mesmo com uma das agriculturas mais complexas do País”, afirmou Bündchen.
A principal crítica ficou por conta dos poucos recursos destinados ao programa Moderfrota, voltado a tratores e máquinas agrícolas. Em todo o Brasil, serão liberados R$ 3,8 bilhões pelo BB, valor que causa apreensão ao presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul (Simers), Cláudio Bier. “Temos empresas do setor que faturam, sozinhas, mais do que isso”, relativizou Bier. O dirigente afirmou que espera que a promessa da diretoria nacional do banco, de que, se necessário, liberará mais recursos no decorrer da safra, se cumpra. Bier projeta uma retomada do setor já nesse segundo semestre.