O país do futebol novamente saiu de uma edição dos Jogos Olímpicos sem a sonhada medalha de ouro. Em compensação, a delegação brasileira em Londres estabeleceu o novo recorde de 17 medalhas conquistadas numa única Olimpíada, liderada por uma nova força.
Sete das dezessete medalhas brasileiras foram conquistadas pelos esportes de luta. Além dos pódios, foram diversas semifinais e quartas-de-finais alcançadas por nossos lutadores. Se Anderson Silva, Junior Cigano, José Aldo e outros monstros já botam medo nos estrangeiros no MMA, Sarah Menezes, Esquiva Falcão e Diogo Silva, dentre outros, mostram que a base de lutas está no sangue do brasileiro.
O boxe não foi o esporte mais premiado pelos atletas nacionais em Londres, mas a mudança de patamar coloca a nobre arte como o esporte mais vitorioso da delegação brasileira.
Ainda nos dias de hoje, é comum ouvirmos no Brasil dizerem que o boxe está morrendo. Papo furado. Pelo que foi visto na última Olimpíada, a nobre arte está mais viva do que nunca no país – e com promessa de crescimento.
Até o começo dos Jogos Olímpicos de 2012, a participação do boxe no quadro de medalhas histórico do Brasil resumia-se ao bronze conquistado por Servílio de Oliveira na Cidade do México, em 1968. Quarenta e quatro anos depois, nossos pugilistas não só acabaram com o jejum como ainda escreveram belas páginas na história do esporte.
Primeiro foi a vez de Adriana Araújo. A baiana conquistou a medalha de bronze na categoria peso leve (até 60 quilos) na primeira vez que as mulheres puderam competir na modalidade em uma edição olímpica. Ela foi derrotada pela russa Sofya Ochigava, que acabou perdendo a decisão da medalha de ouro para a genial irlandesa Katie Taylor. O resultado de Adriana mostrou que o título mundial conquistado por Roseli Feitosa, em 2010, não foi obra do acaso, mas sim de um trabalho sério feito no país, com apoio da ex-armadora da seleção de basquete, a lendária Magic Paula.
O segundo brasileiro a subir no pódio do boxe foi o capixaba Yamaguchi Falcão Florentino. Filho do lendário ex-boxeador e lutador de vale tudo Touro Moreno, Yamaguchi foi derrotado na semifinal pelo russo Egor Mekhontcev, campeão mundial em 2009 e que acabou com a medalha de ouro da categoria meio-pesado (até 81 quilos).
Como se já não bastassem os resultados acima, coube ao irmão de Yamaguchi o momento mais inesquecível da campanha das lutas em Londres. O peso médio (até 75 quilos) Esquiva Falcão Florentino chegou à decisão da medalha de ouro da categoria – foi o primeiro brasileiro a alcançar tal feito na história olímpica. Em luta emocionante e muito equilibrada, o brasileiro foi derrotado pelo japonês Ryota Murata por 14-13, graças à dedução de dois pontos no últimoround por provocar demais o clinch. A reclamação da falta de punição para o japonês, que também agarrou o oponente e insistiu em golpes atrás da cabeça, acabou ofuscada pela espetacular medalha de prata do capixaba, que já conquistara um bronze no último mundial.
Vale ainda ressaltar a campanha de Robenílson de Jesus, que só parou nas quartas-de-final diante do número um do mundo, o cubano Lázaro Álvarez. A chave de Robenílson estava tão dura que Álvarez sequer chegou na final, terminando com uma medalha de bronze. Já Everton Lopes, campeão mundial em 2011 e principal esperança brasileira, foi eliminado nas oitavas-de-final contra o duríssimo Roniel Iglesias, campeão mundial em 2009 e que acabou com o título da categoria meio-médio (até 64 quilos).
Judô: fábrica nacional de medalhas segue a pleno vapor
As três medalhas de bronzes de 2008 foram repetidos em Londres. Porém, desta vez nossos judocas quebraram a incômoda série de 20 anos sem uma medalha de ouro olímpica no esporte. E de um modo inédito.
A maior emoção da disputa aconteceu logo no primeiro dia de competições oficiais dos Jogos Olímpicos de Londres. Os judocas brasileiros conquistaram medalhas na categoria mais leve do judô. Felipe Kitadai, bronze na categoria até 60 quilos, abriu caminho para o histórico título de Sarah Menezes na categoria até 48 quilos. A medalha de ouro de Sarah foi a primeira do judô feminino brasileiro e a segunda conquistada por uma mulher em um esporte individual (a primeira foi Maurren Maggi, no atletismo, em 2008).
Pulando para as categorias mais pesadas, mais duas medalhas de bronze colocaram o judô no topo dos esportes mais laureados pelo Brasil na história das Olimpíadas. A jovem meio-pesado Mayra Aguiar, de apenas 21 anos, foi derrotada na semifinal pela arquirrival, a americana Kayla Harrison, que terminou com o ouro. Mayra em seguida passou pela holandesa Marhinde Verkerk na disputa da medalha de bronze. Já o peso pesado Rafael Silva tombou diante do russo Alexander Mikhaylin nas quartas-de-final, mas voltou na repescagem e bateu o sul-coreano Sung-Min Kim na disputa do bronze.
Além das medalhas, o peso médio Tiago Camilo chegou perto de se tornar o primeiro judoca da história a conquistar três medalhas olímpicas em três categorias diferentes. Ele perdeu na semifinal para o sul-coreano Dae-Nam Song, que acabou campeão. Abatido com a derrota, Tiago não conseguiu passar pelo grego supercampeão Ilias Iliadis na disputa do bronze e terminou em uma honrosa quinta colocação.
Taekwondo: medalha inédita no masculino mais uma vez bate na trave
Em 2004, Diogo Silva perdeu a disputa da medalha de bronze e acabou a competição na quinta posição. Repetiu a campanha em 2012, mas agora de um modo ainda mais espetacular.
Lutando na categoria até 68 quilos, a mais forte do taekwondo masculino, Diogo fez combates épicos e registrou alguns dos grandes momentos dos Jogos. Ele bateu o uzbeque Dmitry Kim em luta apertada na fase preliminar. Na sequência, dominou boa parte do confronto contra o jordaniano Mohammad Abulibdeh, mas teve que suportar a pressão final do oponente para se classificar à semifinal. Foi quando o brasileiro quase matou a torcida do coração.
Diogo perdia a luta para o iraniano Mohammad Bagheri por 5-1 quando faltavam menos de dez segundos para o final. Com dores no tornozelo, que vinham das lutas anteriores, o brasileiro precisou receber atendimento médico. A luta foi reiniciada faltando seis segundos para o estouro do tempo, quando o paulista de São Sebastião se aproveitou da mudança na pontuação do taekwondo para empatar a luta com um sensacional chute alto rodado, que pegou no rosto do iraniano a reles três segundos para o final.
Na disputa da medalha de bronze, contra o americano Terrence Jennings, novamente Diogo estava atrás do placar nos segundos finais da luta e mais uma vez empatou a contenda. Quando parecia que veríamos mais um Golden Score, Jennings acertou um chute alto no rosto do brasileiro literalmente no estouro do cronômetro. O chute foi tão no momento exato que nem no replay em câmera superlenta é possível determinar se o cronômetro já havia zerado quando o pé do americano atingiu o rosto de Diogo.
Luta olímpica: luta dura contra fortíssima escola russa mostra caminho para 2016
A luta olímpica brasileira não chegou nem perto do pódio nos Jogos de 2012. Joice Silva, única representante brasileira nos tapetes londrinos, lutando na categoria até 55kg, foi derrotada logo na estreia. Como sua algoz não conseguiu avançar à final, Joice não pode voltar para disputar a medalha de bronze na repescagem. Ainda assim, não faltaram motivos para orgulho.
Por conta do sorteio da chave, Joice ficou de bye na primeira rodada e estreou já nas oitavas-de-final. A adversária foi Valeriia Zholobova, da fortíssima escola russa. A brasileira venceu o primeiro round por 2-0, mas perdeu o seguintes por 1-0. No terceiro, o placar permaneceu inalterado até o final, quando a brasileira ignorou o conselho de tentar a prorrogação e partiu para o ataque ao ver uma brecha. Resultado: acabou contragolpeada e foi eliminada da disputa do título. Zholobova venceu mais uma luta, mas caiu diante da supercampeã Saori Yoshida na semifinal e tirou Joice da repescagem.
Além da brasileira ter encarado de igual para igual uma atleta da principal potência da luta olímpica mundial, outro detalhe dá esperança de uma participação histórica em 2016. Por ser o país-sede da próxima Olimpíada, o Brasil tem direito a vagas em todas as categorias, em todos os esportes. Isto significa que a equipe de luta será a mais numerosa da história (sempre que enviamos atletas na modalidade, nunca fomos representados por mais de dois).
Como o trabalho de base vem sendo muito bem feito, os brasileiros já conquistaram alguns resultados históricos, como o vice-campeonato no Mundial Júnior obtido por Aline Ferreira. Sem a pressão dos duríssimos torneios pré-olímpicos, nossos atletas têm tudo para desempenhar um papel digno no Rio de Janeiro, daqui a quatro anos.