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Brasil terá ensino de computação na Educação Básica a partir de 2023

Foto: Ilustração | Pixabay
Foto: Ilustração | Pixabay

O ensino de computação foi inserido na Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) das escolas de Educação Básica de todo o Brasil a partir de
normas publicadas no Diário Oficial da União (DOU) no dia 3 de outubro.
Participaram da elaboração do documento professores de todos os Estados do
Brasil.

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As discussões sobre a temática tiveram o envolvimento
permanente da Sociedade Brasileira de Computação, do Fórum de Licenciatura em
Computação (ForLic) e do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB).

O documento defendendo a inserção da computação na BNCC
descreve que, no cotidiano humano contemporâneo, os dispositivos de computação
operam em praticamente todos os serviços essenciais, dos utensílios do lar às
atividades laborais, na saúde, na agricultura, nos automóveis e na crescente
automação, trazendo enormes desafios sociais e econômicos.

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Majoritariamente, a informação que a humanidade possui e
utiliza está armazenada digitalmente. O mundo é cada vez mais dependente de
tecnologias digitais. É nesse contexto que se insere a necessidade de preparar
os estudantes brasileiros para se relacionarem com a computação e com a
tecnologia.

MEC aprova parecer que define normas sobre o ensino de
computação na Educação Básica.

Entendendo o contexto

Pesquisas realizadas em diversos locais do mundo demonstram
os efeitos positivos e as possibilidades da inserção de conteúdos de computação
na Educação Básica. Uma pesquisa publicada na revista European Schoolnet em
2014 indica que na Europa, em 13 países de 20 entrevistados, a programação de
computadores faz parte dos componentes curriculares obrigatórios, desde a
Educação Infantil até o 9º ano do Ensino Fundamental. 

Na Inglaterra havia o componente curricular de Informática
como obrigatório nas escolas, no qual eram trabalhados aplicativos como
editores de texto, planilhas eletrônicas, apresentações de slides, entre
outros. Mais recentemente esse cenário mudou, especialmente na Europa, sendo os
conteúdos mais genéricos de informática substituídos por ensino da computação,
estruturada pelo tripé Ciência da Computação, Tecnologia da Informação e
Letramento Digital.

No Brasil, em 2018 o MEC aprovou a Base Nacional Comum
Curricular, que é composta por 10 competências, das quais três estão
diretamente relacionadas ao desenvolvimento do pensamento computacional pelo
estímulo das habilidades para resolução de problemas e computação, sendo elas:
Competência 2 – Pensamento científico, crítico e criativo; Competência 5 –
Cultura digital; e Competência 7 – Argumentação. A BNCC orienta toda a
construção do sistema de ensino do Brasil, e as normas para a inserção da
computação no conjunto de conteúdos são um complemento ao documento já seguido
em todo o Brasil, por mais de 178 mil escolas.

A computação na BNCC

O movimento para, de fato, inserir a computação na Educação
Básica no Brasil não parou, desde que foi iniciado há cerca de uma década. Por
muitos anos a

SBC vem se manifestando e demonstrando, por meio de
pesquisas, a importância da inserção da computação na Educação Básica.

Diante disso, no final de 2021 um grupo de professores da
área, juntamente com representantes da SBC, se reuniu para discutir o assunto e
construir as normas da computação para a Educação Básica, contendo as
habilidades, objetivos e exemplos de atividades para a sua inserção em nível
nacional desde a Educação Infantil. As normas foram publicadas no Parecer
CNE/CEB nº 3/2022, aprovado em 7 de abril de 2022. O documento foi aprovado
pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) em fevereiro de 2022.

Aproximação com o tema

A professora doutora em Informática na Educação Maria
Claudete Schorr, que atua no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências
Exatas (PPGECE) e nas áreas de computação e engenharias na Universidade do Vale
do Taquari – Univates, esteve, ao longo dos últimos meses, envolvida com a
iniciativa.

A professora Maria Claudete é doutora em Informática na
Educação e foi uma das representantes do Rio Grande do Sul no processo. “Como
atuei por 14 anos no ensino da computação na Educação Básica e sempre fui
defensora dessa proposta, me aproximei de pessoas que também a defendiam. Fui
convidada para atuar no final de 2021, quando os Grupos de Trabalho foram
criados, e fiquei em meu grupo como uma das representantes da SBC”, explica.

As pesquisas da docente na área resultaram na dissertação
“Robótica educativa: um recurso para o estudo de geometria plana no 9º ano do
Ensino Fundamental”, defendida no PPGECE da Univates, e na tese de doutorado
“Pcomp-Model: desenvolvendo o pensamento computacional na Educação Básica para
auxiliar na aprendizagem de algoritmos e programação do Ensino Superior”,
defendida no Programa de Pós-Graduação em Informática na Educação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

“Como se tratava da criação das habilidades, objetivos e
exemplos de atividades de computação plugada e desplugada para todos os anos da
Educação Básica, foi necessário criar vários grupos de trabalho, e eu tive a
oportunidade de participar do GT da Educação Infantil”, relata a professora.

“Esse movimento é muito importante para os nossos
estudantes, tendo em vista que, além de aprender a ler, escrever e calcular, os
estudantes deste novo século precisam saber computação”, descreve. “Quando digo
computação, não me refiro a usar uma determinada linguagem de programação, mas,
sim, saber usar os conceitos da computação, que envolvem o raciocínio lógico,
abstração, algoritmos, resolução de problemas, interpretação, entre outros”,
complementa a docente.

Com a aprovação pelo CNE, a assinatura do ministro da
Educação e a publicação no DOU na última semana, o ensino da computação fará
parte do currículo das escolas de Educação Básica do Brasil, por meio da BNCC.
A docente projeta que, a partir de 2023, as escolas adotarão o ensino da
computação de forma integral ou transversal no currículo.

Desafios

“Foram muitas horas de trabalho, pois foi preciso pensar em
todo o cenário da educação brasileira, tendo em vista que ainda há muitas
escolas sem um laboratório de informática, ou com os equipamentos funcionando
mas sem conexão à internet. Diante disso, foi necessário pensar em atividades
que possam atender a todas as realidades das escolas, sendo elas públicas
estaduais, municipais ou mesmo privadas”, conta. O complemento à BNCC
estabelece atividades plugadas que exigem o uso do computador, tablet ou
celular e também desplugadas, que podem ser realizadas sem recurso tecnológico
digital.

Além das escolas, as universidades como um todo também terão
que pensar em como inserir a computação nos cursos de licenciatura. “Futuros
professores terão que dar conta desse conteúdo, pois nem todas as escolas terão
condições de ter um profissional da área para dar conta desse novo e importante
desafio”, analisa Maria Claudete.

Rede

As discussões sobre a temática tiveram o envolvimento
permanente da Sociedade Brasileira de Computação, do Fórum de Licenciatura em
Computação (ForLic) e do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB).
Participaram das discussões e proposições o MEC, a Associação Brasileira das
Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o Conselho
Nacional de Secretários de Educação (Consed), a União Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação (Undime), a União Nacional dos Conselhos Municipais de
Educação (UNCME), assim como instituições educacionais, educadores, graduandos
e pós-graduandos