O tabagismo é o fator preponderante em relação aos casos de
câncer de pulmão. Cerca de 70% das ocorrências são de pessoas que têm ou
tiveram contato com o cigarro, segundo a publicação científica do Reino Unido
The BMJ. O número expressivo faz com que boa parte das campanhas se voltem para
esse público.
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Ao olhar para os 30% restantes, no entanto, observa-se um
grupo que também requer atenção: casos de câncer de pulmão por fatores
modificáveis. Os exemplos são trabalhadores expostos à sílica, amianto e à
metais pesados, além de pessoas de regiões com altos índices de poluição
atmosférica.
“No mínimo 10% dos casos de câncer de pulmão em homens é de
origem ocupacional. Nas mulheres, essa fração é muito menor pelo perfil de
trabalho, que é menos frequente nessas atividades com a exposição. Mas tem
também a exposição ambiental, a poluição atmosférica é responsável por cerca de
5% a 10% dos casos de câncer de pulmão”, aponta o pneumologista Gustavo
Faibischew Prado, coordenador da Comissão de Pneumologia do Grupo Brasileiro de
Oncologia Torácica.
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Ele lembra que há também a exposição ao radônio, um gás que
emana do solo em regiões ricas em minérios que dão origem a ele, como urânio e
rádio. Isso é comum em países do Hemisfério Norte e ao norte da América do
Norte.
“Todos [os fatores] poderiam ter maior controle. Até mesmo o
radônio, que a gente não pode impedir que ele emane do solo, a estratégia de
redução da exposição é a concretagem de lajes de subsolo em edifícios
comerciais ou residenciais”, explica.
O monitoramento do gás se dá da mesma forma que se monitora
a concentração de monóxido de carbono, como é feito em São Paulo. “O único não
modificável são fatores genéticos”, destaca o pneumologista.
Pandemia
A psicóloga Lenise Amorim, de 41 anos, é um destes casos.
“Em outubro de 2020, em plena pandemia, eu recebi o diagnóstico de câncer no
pulmão, já localmente avançado e nessa ocasião eu tinha só 39 anos. Eu era
completamente assintomática e não tinha nenhum histórico de tabagismo e também
nunca convivi com pessoas que fumavam”, relata.
A descoberta ocorreu durante uma ressonância magnética para
investigar um nódulo no pescoço que já estava ali há dez anos.
Segundo Prado, esse tipo de câncer normalmente é encontrado
de forma não intencional por um exame solicitado por outro motivo.
“A gente viu bastante, durante a pandemia, porque, de certa
forma, baixamos muito os limiares para solicitação de exames de imagem, como
tomografia de tórax, para pacientes com sintomas respiratórios suspeitos para
covid. Com isso, a gente teve muito diagnóstico incidental de nódulos
pulmonares e muitas dessas lesões pequenas foram investigadas e diagnosticadas
como câncer de pulmão.”
Ele acrescenta que é comum que essas doenças já sejam
descobertas em estágios avançados. No caso de Lenise, era um estágio 3, de uma
escala que vai até 4. Contudo, o tumor ainda estava localizado apenas no
pulmão.
O médico alerta, no entanto, que não há recomendação para
rastreamento em pessoas que não tem fatores de risco. “É ainda improvável que a
gente venha a propor programas de rastreamento de câncer de pulmão para pessoas
sem fatores de risco, sem histórico de tabagismo, sem exposição a carcinógenos
no trabalho e, nesses casos, muitas vezes o diagnóstico acontece de forma
incidental”, explicou.
Lenise fez o tratamento com medicação durante sete meses e
depois uma cirurgia para retirar o tumor. Ela teve a alteração genética do
tumor mapeada por meio de uma análise genômica e o resultado permitiu que ela
fosse tratada com uma terapia-alvo indicada para o seu perfil e depois passasse
por uma cirurgia.
“[Hoje] Eu não tomo nenhuma medicação. Estou curada”, contou
à Agência Brasil, destacando que ainda será acompanhada para um monitoramento
regular.
O médico pneumologista lembra ainda que atualmente existem
diversas opções para tratamento do câncer de pulmão, “aproximando os pacientes
da cura, o que era um cenário bastante mais desafiador até pouco tempo atrás”.