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Debate tem críticas a Bolsonaro e Haddad em tentativa de romper polarização

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O último debate presidencial antes do primeiro turno foi recheado de discursos de candidatos que se apresentam como alternativa para tentar romper a polarização política protagonizada por Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), que ocupam as duas primeiras posições das pesquisas de intenção de voto. O encontro, entre o fim da noite de quinta-feira (4) e o início da madrugada desta sexta-feira (5), reuniu sete candidatos nos estúdios da TV Globo, no Rio de Janeiro.

Por recomendação médica, Bolsonaro não compareceu ao evento. O capitão reformado, que se recupera de facada sofrida em 6 de setembro, não teria condições clínicas indicadas para integrar o embate, segundo os médicos.

No entanto, ele gravou uma entrevista para a TV Record, que foi veiculada no mesmo horário do debate. Haddad, por sua vez, figurou entre os participantes e foi alvo de diversas ofensivas de adversários como Alvaro Dias (Podemos) e Geraldo Alckmin (PSDB).

Também participaram do debate Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede). O critério usado para definição dos candidatos seguiu a legislação eleitoral, com convite para nomes de partidos ou coligações que tenham pelo menos cinco representantes no Congresso.

O primeiro bloco começou com pergunta de Ciro para Marina. Ao citar a turbulência política que o país encara desde 2014, o ex-governador do Ceará questionou a concorrente se o presidente eleito conseguirá governar o Brasil em meio a cenário semelhante.

— A permanecer esta guerra, em que alguns estão votando por medo no Bolsonaro ou no Haddad, o país ficará quatro anos em situação de instabilidade — disse a candidata.

— As palavras de Marina são sábias, e o brasileiro que está ouvindo que ainda não decidiu seu voto, deve ouvi-las. O que está em jogo aqui não é paixão partidária nem o ódio, mas milhões de desempregados — disse Ciro.

Depois, Alckmin atacou Haddad, criticando o “modelo petista de governar”. Para o tucano, a gestão do PT foi responsável por levar o país à crise econômica e política dos últimos anos.

— O que o candidato Alckmin não reconhece é que, depois da derrota em 2014, o PSDB se associou ao governo Temer para aprovar as chamadas pautas-bomba. Foi isso que levou o Brasil à crise — retrucou Haddad.

A ofensiva realizada pelo tucano contra o PT não seria a única no primeiro bloco. Alvaro teve 30 segundos à disposição para indagar Meirelles, mas usou todo o tempo para manifestar sua contrariedade à sigla de Haddad, ironizando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

— Gostaria de fazer uma pergunta para o candidato do PT, mas não está aqui. Ele está preso em Curitiba — afirmou.

Em outro momento, Haddad aproveitou uma pergunta para Boulos para fazer uma dobradinha “contra o ódio”. Ele relacionou Bolsonaro ao presidente Michel Temer e disse que os dois destroem direitos da população. Em resposta a Haddad, Boulos afirmou que o país “nunca esteve tão perto” de voltar a um período de ditadura, em alusão a uma eventual vitória de Bolsonaro nas urnas.

— Não dá para a gente fingir que está tudo bem. Estamos há meses em uma campanha marcada pelo ódio. Faz 30 anos que esse país saiu de uma ditadura. Muita gente morreu, muita gente foi torturada. Tem mãe que não conseguiu enterrar seu filho até hoje. Outro dia eu conversava com meu sogro e ele contava das torturas que sofreu durante a ditadura militar. Faz 30 anos mas eu acho que a gente nunca esteve tão perto disso que aconteceu naquele momento. Se nós estamos aqui hoje podendo discutir o futuro do Brasil, é porque teve gente que derramou sangue para ter democracia. Se você vai poder votar no domingo, é porque teve gente que deu a vida para isso. E olha, quando eu nasci, o Brasil estava em uma ditadura. Eu não quero que as minhas filhas cresçam em um país com uma ditadura — afirmou Boulos.

Outro tema que provocou discussões entre candidatos foi a reforma trabalhista. Em resposta a Boulos, Alckmin defendeu as mudanças na CLT. Na avaliação do tucano, que se comprometeu a mudar as questões relativas a insalubridade de mulheres grávidas, as medidas não provocaram perda de direitos, o que provocou revolta do candidato do PSOL.

A polarização em uma eventual disputa entre Bolsonaro e Haddad no segundo turno ainda foi mencionada por Meirelles. Em pergunta a Ciro, questionou por que “essa história de salvador da pátria nunca dá certo”.

— Nenhum de nós é dono da verdade. O drama do país é o choque entre o lulismo e o antilulismo. O país dança à beira do abismo com esse tipo de confrontação — respondeu o candidato do PDT, terceiro colocado em pesquisas de intenção de voto.

No terceiro bloco, a candidata Marina Silva alfinetou Jair Bolsonaro antes de questionar Fernando Haddad:

— Eu ia fazer essa pergunta para o candidato Jair Bolsonaro , mas ele mais uma vez amarelou, deu uma entrevista para a Record e não veio para o debate.

Então, a candidata questionou o petista sobre a autocrítica do PT e sobre a polarização eleitoral que vive o país. Haddad defendeu o ex-presidente Lula:

— Quando falam que o Lula é radical e dividiu o país… Quando isso? Ele abriu as portas do Planalto para os mais pobres. Quero reabrir o Palácio do Planalto para os brasileiros, principalmente para os que mais precisam.

Marina discordou:

— É lamentável que você não reconheça nenhum de seus erros. O “bolsa-empresário” foi 5% do PIB. O Bolsa Família, 0,5%. Você poderia reconhecer erros, pedir desculpas, mas você não faz. O Brasil está a beira de ir para o esgarçamento entre a sua candidatura e a de Bolsonaro . Temos que pensar em um projeto de país, não de poder.

Haddad insistiu:

— Como ministro da Educação, trabalhei 18 horas por dia para abrir as portas das universidades para os mais pobres. Tenho ética, tenho uma história sem nenhum reparo. Não tem nada na minha vida que não seja produzir o bem.

Ciro e Meirelles fizeram uma tabelinha relatando a ausência de Bolsonaro.

— Se alguém foge do debate e só vai dar entrevista em uma condição amigável, não está preparado para administrar o país – apontou Meirelles.

Ciro cobrou mais uma vez a presença do candidato líder nas pesquisas e questionou:

— Me assusta uma equipe de três pessoas, Bolsonaro, Mourão e Paulo Guedes, brigando a dias da eleição. Você imagina que isso vai dar certo?

— Não — respondeu Meirelles, arrancando risos do público.

Depois, foi a vez de Alvaro Dias perguntar a Geraldo Alckmin. Alvaro aproveitou para atacar o governo petista, classificando-o como “medalha de ouro na olimpíada da mentira”. O tucano foi no embalo:

— Tivemos a experiência do PT e o resultado foram 13 milhões de desempregados e criminalidade nas alturas. Mas o caminho também não é o radical de direita, que diz que saúde não precisa de mais dinheiro, que quer imposto novo e não tem sensibilidade com mulheres.

— Há uma associação entre o sistema financeiro com mão grande e parte da política que apodreceu. Nesse conluio, o governo enche as burras dos banqueiros de dinheiro — concluiu Álvaro.

Ainda no bloco, Haddad questionou Boulos sobre a atual situação do Ensino Médio no Brasil. O candidato do PSOL lamentou a situação da educação no país e prometeu wi-fi em todas as escolas e salário digno para os professores.

— A reforma de Temer é uma reforma que tira o pensamento crítico — disse Boulos, que ressaltou que as escolas precisam debater questões de gênero, diversidade sexual e racismo.

Haddad discursou sobre ações do governo petista na área da educação:– Demos 2 milhões de bolsas para o Prouni. Mas temos um gargalo no Ensino Médio que precisa ser corrigido. As melhores escolas são as públicas federais, que eu inaugurei 14. Nossa proposta é que essas escolas sejam padrão nos Estados.

O quarto e penúltimo bloco do debate da Rede Globo foi de perguntas sobre assuntos escolhidos por sorteio feito pelo mediador. Os tempos seguiram a mesma dinâmica dos blocos anteriores (30 segundos para perguntas, um minuto e meio para respostas, um minuto para réplica e um minuto para tréplica).

 

Quem abriu a sabatina nessa etapa foi Haddad, que escolheu Ciro para falar sobre o assunto escolhido: previdência. O petista quis saber o que o oponente pensa sobre a proposta de reforma de Michel Temer.

 

— Professor em nenhum lugar do mundo é obrigado a dar 49 anos de aula para se aposentar. Ou policial correr atrás de bandido por esse tempo — disse o pedetista, classificando a reforma como “aberração”.

 

Ciro deu seguimento aos questionamentos. O tema da vez foi segurança, e o escolhido para responder foi Henrique Meirelles. De acordo com emedebista, entre outras ações, é necessário crescimento econômico para que se possa fazer investimento no setor.

 

— O Estado precisa comprar equipamento e contratar policiais — afirmou Meirelles, que também assinalou a importância de se unificar as polícias para que haja mais eficiência.

 

Meirelles continuou no púlpito quando o tópico da vez foi políticas sociais. Para responder sobre o que fazer para que menos pessoas precisem de bolsa família, o emedebista escolheu Geraldo Alckmin. O tucano disse que a questão social envolve múltiplos aspectos, como emprego e casa.

 

— Vamos fazer o salário mínimo crescer acima da inflação – acrescentou.

 

O próximo assunto sorteado foi saneamento. Guilherme Boulos escolheu Geraldo Alckmin e quis saber se saneamento é “negócio” ou direito. O concorrente do PSDB destacou algumas de suas ações à frente do governo de São Paulo, e disse que pretende expandir isso para todo o país. Boulos rebateu dizendo que a população pobre é jogada para a periferia, onde ‘não há nada’.

 

— Pobre tem direito a morar no centro, onde tem saneamento e serviços públicos – ressaltou o socialista.

 

Alckmin escolheu Alvaro Dias para debater educação. O representante do Podemos disse que seu projeto contempla a primeira infância.

 

— Será grande prioridade do nosso governo — ressaltou.

 

Marina Silva e Boulos tiveram a chance de falar sobre impostos. A candidata da rede perguntou o que o socialista faria, caso eleito, para que o povo tenha esperança de que recursos de arrecadações sejam bem investidos. Boulos disse que o Brasil é como Robin Hood ao contrário.

 

— Aqui se tira dos pobres para dar aos ricos.

 

A última questão foi sobre corrupção. Alvaro Dias escolheu Haddad e quis saber o que vai ocorrer com a Operação Lava-Jato em um eventual governo petista. O ex-prefeito de São Paulo lembrou que foram nos governos do seu partido que instituições como Polícia Federal e Ministério Público ganharam mais autonomia para investigar políticos envolvendo em ilícitos. Dias retrucou dizendo que essas eram palavras ao vento.

 

— Haddad disse que Lula está preso injustamente. As provas são cabais, definitivas.

 

Em sua tréplica, o petista disse que que legislação elogiado pelo oponente é toda das gestões petistas.

 

— Nenhum legislação anterior é mais rigorosa do que a que a gente aprovou. A sujeira que era posta para baixo do tapete agora vem à tona para corrigir as falhas do nosso ssitema político.

 

Ao fim, os candidatos tiveram um minuto para fazer suas considerações finais. À exceção de Alvaro Dias, que preferiu centrar seu discurso sobre o combate à corrupção, e de Fernando Haddad, os demais candidatos à Presidência que participaram do debate da TV Globo pediram que o eleitor não leve o ódio para as urnas e vote contra a polarização que tomou conta da corrida eleitoral deste ano.

 

Geraldo Alckmin, que iniciou os comentários finais, disse que o “radicalismo, o ódio e o preconceito não vão levar a nada”.

 

— Vinte por cento do voto se decide nos últimos dias, peço o seu voto — disse o tucano.

 

Ciro Gomes, do PDT, disse que o Brasil viveu quatro anos de ódio e esse filme “parece que está querendo se repetir”.

 

— O que temos hoje é um empate entre Haddad e Bolsonaro. Aprofundar essa divisão não permite conciliar Brasil. Estou ali, no terceiro lugar. Ganho de Haddad e de Bolsonaro no segundo turno com grande folga — disse o pedetista.

 

— Ódio não gera emprego, vingança não cria segurança ou corrupção — disse Henrique Meirelles.

 

— Estou aqui porque sou uma pacificadora, que é muitas vezes mal compreendida. Esse País não tá precisando de força física. Precisa de força moral, de respeito, com seu dinheiro, com a Constituição, com a diversidade — argumentou Marina.

 

— Domingo é dia de barrar atraso. Não vote com ódio nem com medo. Só vamos mudar o Brasil enfrentando de verdade os privilégios— disse Boulos.

 

Um dos polos dessa polarização, Haddad buscou mostrar sua biografia e oferecer uma esperança ao eleitor:

 

— Sou neto de um líder religioso, filho de agricultor familiar. Eles me ensinaram que é preciso ter trabalho e educação. Aprendi com Lula que é possível ter essa possibilidade para todos. Vou trabalhar para dar isso a todos.

 

Segundo um integrante da campanha de Marina Silva, os candidatos não foram autorizados a usar adesivos com seu número no debate desta quinta-feira, como aconteceu no debate anterior, da Record. Para driblar essa restrição, Haddad, Dias e Boulos citaram seus números.