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DNIT inaugura sítio de visitação de primeira paleotoca encontrada em Pelotas

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Um túnel de oito metros de comprimento apresentando no seu interior marcas de garras, pegadas e um abrigo para filhotes. Estes são os primeiros sinais de que, há aproximadamente 10 mil anos, uma espécie de tatu gigante viveu na região sul do Estado. A estrutura que abrigava um Propraopus sp., denominada de paleotoca, foi descoberta por técnicos da Gestão Ambiental da BR-116/392 (STE S.A.) em uma jazida de extração de argila para duplicação da rodovia, no distrito do Monte Bonito, em Pelotas. Após a confirmação, feita em abril de 2014 pelo Núcleo de Estudos em Paleontologia e Estratigrafia (NEPALE) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a toca começou a ser preservada. O projeto elaborado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) por iniciativa da construtora HAP Engenharia será lançado no próximo dia 04.

O caráter inusitado e a possibilidade de deixar um legado desta obra rodoviária para a comunidade foi o que impulsionou a criação do Sítio de Visitação da Paleotoca Gilberto Azevedo de Azevedo, mesmo que a legislação brasileira possua um conjunto de leis ainda em subjetividade de como se aplica a preservação de jazigos fossilíferos. “O DNIT tem desde o início da duplicação da BR-116/392 destinado recursos para a Gestão de Programas Ambientais. Neste caso, a autarquia foi surpreendida com a notícia da existência desta estrutura e pode contar com o apoio de instituições interessadas em preservá-la. Poder deixar este legado das obras para a comunidade pelotense é gratificante”, destacou Vladimir Casa, engenheiro do DNIT.

Por se tratar de uma propriedade privada, licenciada exclusivamente para o empreendimento, a iniciativa precisou ter a anuência dos responsáveis pela área. “Tenho costume de deixar as coisas onde elas estão para que outras pessoas também possam conhecê-las. Esta também era uma característica do Gilberto”, falou Maria Ivonete Hartwig de Azevedo, esposa do proprietário Gilberto Azevedo de Azevedo, o qual faleceu durante o processo de preservação da estrutura. O diretor de obras da HAP Engenharia, Marcus Bicalho, abraçou a ideia que passou de uma curiosidade para uma satisfação. “Hoje estamos nos sentindo importantes por estarmos colaborando um pouco com a história do Rio Grande do Sul”.

Os protagonistas desta descoberta foram reconstituídos em formato de escultura em tamanho real. A fêmea ancestral do atual tatu-mulita, de aproximadamente 1,30 metros de comprimento e 70 centímetros de altura, viveu nesta estrutura acompanhada de dois filhotes, de acordo com a característica da última câmara que remete a um berçário. Com a marca de pegadas de pata traseira e dianteira encontradas no interior, o paleontólogo e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), José Eduardo Dornelles, redesenhou a morfologia deste animal, o que serviu como base para a confecção em resina.

O documentário “O engenheiro da terra” produzido para contar as etapas deste projeto será lançado no dia 04, às 14h, no salão nobre da Prefeitura Municipal de Pelotas. A inauguração do espaço acontecerá após esta cerimônia, no Monte Bonito. Além da preservação da paleotoca e da escultura do animal escavador, o local também levará ao visitante placas informativas e uma ilustração em grafite do interior do túnel. Depois, o sítio ficará aberto para visitação nas sextas-feiras e sábados, perante agendamento com o NEPALE: (53) 3921.1416.

De acordo com a paleontóloga Karen Adami, que coordenou as pesquisas no local, este registro ainda abre espaço para se traçar novas rotas migratórias da existência da Megafauna, uma vez que só se tinham registros de vestígios acima do Rio Camaquã e na região de Santa Vitória, na Argentina e Uruguai. “Este é um registro inédito de estrutura escavada pela extinta megafauna pampeana na região de Pelotas. A escavação atribuída a um tatu pertencente à megafauna é pequena comparada a outras já registradas na América do Sul, no entanto as marcas registradas no seu interior são excepcionais. A identificação do gênero Propraopus amplia o registro no extremo sul do Rio Grande do Sul, possibilitando conhecer os elos perdidos entre a fauna atual e a do passado”.