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Dólar sobe pela quarta vez seguida e vai a R$ 3,753

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A rápida deterioração do ambiente econômico no Brasil fez o dólar novamente avançar ante o real para acima dos R$ 3,75, nesta quarta-feira . Num cenário de estresse, investidores estrangeiros conduziram a busca pela moeda americana no mercado futuro, o mais líquido, puxando as cotações à vista, em função das notícias mais recentes. Entre elas, a expectativa de déficit no Orçamento da União em 2016 e a derrocada da indústria brasileira.

O dólar à vista fechou em alta de 1,68%, aos R$ 3,7530, no maior patamar desde 12 de dezembro de 2002. Em apenas quatro sessões, a moeda americana subiu 19 centavos, ou o equivalente a 5,33%. No mercado futuro, a divisa para outubro avançou 1,61%, aos R$ 3,7940. Em 2016, até agora, a moeda americana já subiu 41,36% ante o real. “Os problemas persistem nas contas do governo e o estrangeiro vai comprando dólares no mercado futuro. O cenário é péssimo”, resumiu um profissional da área de câmbio, que prefere não se identificar.

Desde segunda-feira, investidores aceleraram a busca pela moeda americana em razão da notícia de que a União projeta um déficit no Orçamento de R$ 30,5 bilhões para 2016, o que coloca em xeque a classificação de risco no Brasil. No limite, o medo é de que o País perca em um futuro próximo seu grau de investimento.

Levy De lá pra cá, o ambiente só piorou. Várias casas financeiras revisaram para pior a perspectiva para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2015, com estimativas de retração próximas a 3%. Na terça-feira, o próprio relator do Orçamento, deputado Ricardo Barros (PP-PR), afirmou que o rombo pode ser superior a R$ 30,5 bilhões. Nesta quarta-feira, 2, foi a vez de o IBGE anunciar uma queda de 1,5% da produção industrial em julho ante junho – o 17.º recuo mensal consecutivo. Em paralelo, as mesas de operação especulam sobre o enfraquecimento de Joaquim Levy na equipe econômica de Dilma Rousseff.

“Se não tivéssemos más notícias aqui no Brasil, o dólar até poderia cair ante o real hoje. Isso porque os números divulgados nos EUA pela manhã não foram tão bons assim, o que afasta o aumento imediato de juros pelo Federal Reserve”, comentou o profissional. “Só que todo mundo está em busca de dólar por aqui.” Após subir mais de 1% na abertura, o dólar à vista praticamente zerou os ganhos ainda na primeira hora de negócios. Na mínima, às 9h51, chegou a marcar R$ 3,6940 (alta de 0,08%), após os EUA informarem a criação de 190 mil empregos no setor privado em agosto (abaixo dos 200 mil projetados).

O movimento, no entanto, foi pontual. “A aversão ao Brasil está muito grande. Todos aguardam por uma notícia positiva, mas ela não vem”, afirmou outro profissional de corretora. Em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, o especialista em câmbio Nathan Blanche falou em descontrole e disse que o Brasil adota um regime “descambal”. “Estou retomando um termo que usava na década de 1980, o ‘descambal’, que é o descontrole cambial. À época, tínhamos reservas negativas. Hoje, temos reservas na proporção de 66% de toda a dívida externa, o Banco Central intervém no mercado oferecendo hedge e continuamos num regime de descontrole cambial”, disse Blanche.

“Temos um câmbio dos mais voláteis e inseguros do mundo.” Essa insegurança fez o dólar chegar à máxima de R$ 3,7720 (2,19%) no balcão às 16h08. No mercado futuro, a moeda para outubro chegou a superar os R$ 3,80 no pico da sessão. “Estrangeiros estão comprando bastante no mercado futuro e algumas mesas também falaram de certa demanda física por dólares”, disse o professor de Finanças Alexandre Cabral. Segundo ele, alguns players podem estar começando a mandar recursos para fora, o que eleva a procura pela moeda no segmento à vista.

Para Cabral, ao mesmo tempo, há distorção nos negócios. “A curva de DI, por exemplo, está projetando mais altas da Selic, até pelo menos 0,50 ponto até janeiro. Mas minha percepção é de que o Banco Central não age mais por meio da Selic.” O giro à vista foi, de fato, consistente hoje, o que pode corroborar essa percepção de procura por moeda para fuga do Brasil. Ao mesmo tempo, outros profissionais disseram ao Broadcast que exportadores aproveitaram as cotações mais altas para internalizar recursos, o que também pode ter ajudado a inflar o fluxo à vista.

BC O fato é que, se a demanda por moeda continuar, a pressão para uma atuação do BC no mercado físico vai aumentar. Ainda mais porque esta pode ser a única ferramenta da instituição para segurar as cotações, visto que mais leilões de swap, na atual conjuntura, tendem a ter um efeito limitado.

Apesar da disparada mais recente do dólar, o Banco Central apenas observa. Hoje, se limitou a fazer o leilão de 9.450 contratos de swap (US$ 458,2 milhões) para rolagem dos vencimentos de outubro. No mercado futuro, o dólar para outubro movimentou US$ 17 bilhões.

Para se ter uma ideia do estresse que tomou conta mais recentemente do mercado de câmbio, o índice FXvol, calculado pela BM&FBovespa com base na volatilidade implícita em opções cambiais, atingiu na segunda-feira 20,9280%. Na prática, quanto maior o índice, maior a incerteza. E este nível é comparável com os dos piores momentos da eleição presidencial do ano passado.