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Esposa de sócio da boate Kiss e mais duas pessoas prestam depoimento hoje

Fotos: Airton Lemos/Acústica FM
Fotos: Airton Lemos/Acústica FM

Três depoimentos de sobreviventes
da boate Kiss estão previstos para 
ocorrer nesta segunda-feira (06) no plenário do Fórum Central de Porto
Alegre a partir das 9h. Devem ser ouvidos Stenio Rodrigues Fernandes,
ex-funcionário, Willian Machado, sobrinho do sócio da boate Elissandro Spohr e
vítima sobrevivente, e Nathália Daronch, esposa de Elissandro, também vítima
sobrevivente.

A listagem foi definida pelo juiz
Orlando Faccini Neto após entendimento com os representantes do Ministério
Público e das defesas dos quatro réus. Conforme o andamento dos depoimentos,
outras pessoas podem ser chamadas para serem ouvidas hoje (06). Ao longo desse
domingo (05), três pessoas prestaram depoimento. O último foi de Doralina
Machado Peres que era segurança terceirizada na Boate Kiss há quase 3 anos. A
vítima foi indicada pela defesa de Elissandro Callegaro Spohr (Kiko). 

Ela relata que quando viu a
movimentação achou que era uma briga, e que com fluxo de pessoas dentro do local,
acabou sendo empurrada para dentro da boate. Depois Doralina disse que
desmaiou. Segundo narrou no depoimento, foi socorrida por colega e depois
acordou na ambulância.  Ela não tinha
curso de segurança, apenas seguia as orientações de colegas mais experientes,
conforme afirmou no depoimento.

Em relação à Banda Gurizada
Fandangueira, ela informou que os conhecia, pois via quando chegavam para
tocar. Quanto a Mauro Londero Hoffmann, sabia se tratar de um sócio da Kiss,
mas não tinha contato com ele. Via “às vezes” o empresário por lá. Ao contrário
do sócio Elissandro Callegaro Spohr, com quem tinha contato direto. Kiko sempre
foi educado com os funcionários e tinha uma boa relação com eles. “Tenho um
carinho por ele. Sempre foi uma pessoa amiga da gente”.

 

Depoimento de sobrevivente
emociona familiares de vítimas

O depoimento de Delvanin Rosso de
29 anos emocionou os familiares de vítimas que estavam no plenário do tribunal
do júri nesse domingo (05).  Trazendo
muitos detalhes do dia da tragédia, o sobrevivente mostrou as marcas que
carrega do incêndio aos jurados, e se emocionou. Chegou a ficar em silêncio por
várias vezes, para poder retomar o raciocínio e seguir contando a história do
ocorreu naquele dia.  Delvanin foi
socorrido pelo irmão, que o acompanhava na festa.

Delvani morava no município de
Manoel Viana e estava visitando um amigo naquele final de semana. Era a segunda
vez dele na boate. O grupo de sete amigos chegou por volta da uma hora da
manhã. A fila para entrar na Kiss “dobrava a esquina”. Ele percebeu que o
ambiente interno estava quente. “Estava muito lotada. Fomos para o pub porque
não tinha lugar para ficar”.

Apesar disso, a festa transcorria
normalmente. Até que ele viu um rapaz pulando o balcão da copa, chamando as
pessoas. “Não dei muita bola porque pensei que fosse briga”.

O irmão dele, Jovani, e outros
amigos, estavam dando uma volta naquele momento. “Quando esse menino gritou
‘fogo’, a gente se deu por conta que era sério quando todo mundo se virou para
a saída. Nunca pensamos que seria tão sério. Entrelaçamos os braços para não
nos perder. Fomos muito devagar porque era muita gente”.

Quando os amigos passaram do
canto da copa, as pessoas começaram a ficar mais agitadas. “Comecei a ouvir gritos.
E começou a ficar mais intenso o empurra-empurra. Com isso, soltamos os braços.
E aí, foi cada um por si. Sempre pensei que conseguiríamos sair”. Delvani
recorda que percorreu mais uns 3 metros e as luzes se apagaram. “Comecei a
enxergar a fumaça e a sentir o odor. A situação ficou incontrolável. Tu era
empurrado para onde a massa ia”.

Quando ficou tudo escuro, Delvani
escutava barulho de vidro quebrando. Ele contou que seguiu caminhando conforme
podia. “Chegou uma hora em que percebi que não ia conseguir sair”. A vítima
lembra que foi perdendo as forças e desmaiou. Ele só acordou quando já estava
na calçada.

O irmão dele viu o princípio do
incêndio e conseguiu sair a tempo. Foi ele quem resgatou Delvani. Jovani tirou
a camisa e entrava rastejando pelo chão para puxar as pessoas. “Os homens, ele
puxava pelo cinto; e as meninas, pelos cabelos. Se ele puxasse pelo braço,
tirava a pele das pessoas”.

Delvani falou que o irmão relatou
que os bombeiros ajudaram com uma mangueira e brigadianos alcançaram uma
lanterna para que ele pudesse acessar a casa noturna. “Ele me disse que viu uma
pessoa pesada tendo convulsões dentro da boate. Voltou e disse ao bombeiro, que
não queria entrar. Meu irmão insistiu e eles entraram e resgataram a pessoa.
Depois disso, ele não viu mais o bombeiro”.

Em estado de choque, Delvani
sentia muita dor. “Cada vez que eu gritava, parecia que tinham enterrado uma
faca na minha garganta”. Ele foi levado ao Hospital de Caridade de Santa Maria.
“Parecia uma cena de guerra. As pessoas gritando, pretas, queimadas. E eu
também gritava socorro. Minha pele colou na camisa e puxaram com uma pinça.
Desmaiei e fiquei 1 mês em coma”. Foram mais de 2 meses internado. O jovem
emagreceu 20 kg, teve que reaprender a fazer coisas básicas, como caminhar e se
alimentar.

A vítima foi transferida para o
Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre. “Fiquei enfaixado, imóvel.
Era um prisioneiro do meu corpo. Só conseguia pensar em por que tanta dor e
tanto sofrimento”. O irmão contou a ele que dois amigos, Cássio e Henrique, não
sobreviveram. “Naquele momento eu queria explodir, terminar com tudo, mas nem
isso podia. Apenas escorria as lágrimas. Demorou muito tempo para eu digerir
tudo isso. Mas, graças a Deus, estou aqui”. Ele não lembra de ter visto funcionários
da boate orientando a saída do público. Não observou extintores nem brigadistas
de incêndio.

O depoimento de Delvanin
emocionou familiares. o ex-presidente da Associação dos Familiares e Vítimas da
Tragédia da Boate Kiss, Aderbal Alves Ferreira chorou na plateia do júri.  Depois mais calmo, ele conversou com a
reportagem da Acústica e disse que na visão dele o depoimento foi bastante
contundente

“Eu creio que um depoimento
desses deixa bem claro o sofrimento de todos os sobreviventes e das famílias
das vítimas. Acho que esse esclarecimento vai ter um peso bem forte na
decisão”, afirmou Ferreira.

 

Testemunha passa para a condição
de informante

Pela manhã desse domingo (05), o
engenheiro Tiago Mutti, ex-proprietário da casa noturna, foi rebaixado de testemunha
para a condição de informante. Conforme a promotora Lúcia Callegaro, que faz
parte do júri, Mutti responde a um processo por falsidade ideológica. Ele foi
apontado por ter colocado “laranjas” na titularidade de propriedade
da boate.

O depoimento de Mutti, que foi
indicado pela defesa do sócio Mauro Londero Hoffmann, um dos réus no processo,
terminou pouco antes das 16h30min. Mutti disse que a porta da danceteria era
suficiente para o tamanho do prédio e capacidade de ocupação, para pouco mais de
600 pessoas. Afirmou ainda que a casa noturna passou por adequações
estruturais, conforme Plano de Prevenção contra Incêndios (PPCI) encomendado à
época em que ele auxiliava na reforma da casa noturna, em 2009.

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