A Fecomércio-RS lotou na noite desta terça-feira (10) o auditório do Sicredi Vale do Rio Pardo para a realização da 4º edição do Giro pelo Rio Grande. O evento, realizado na cidade de Santa Cruz do Sul, reuniu mais de 200 pessoas e tem como temática este ano os “Desafios do Brasil em um ano eleitoral”. O tema foi apresentado pelo cientista político, Fernando Schuler, pelo consultor econômico Marcelo Portugal e mediado pelo economista e gerente de Relações Governamentais da Federação, Lucas Schifino.
Às vésperas das eleições municipais, o objetivo do Giro pelo Rio Grande é apresentar os posicionamentos da entidade frente à realidade do Estado e as projeções da economia para este e os próximos anos, tanto no Rio Grande do Sul como no Brasil.
Na abertura, o presidente do Sindilojas Vale do Rio Pardo, Mauro Spode, destacou a resiliência do empresariado diante das dificuldades impostas pelas enchentes que atingiram o Estado e agradeceu à Federação pela escolha da cidade para realizar o evento. “Se há uma característica que define o varejista, é a resiliência. Quando a crise bate em nossas portas, o comerciante abre a janela da superação. Foi isso que vimos na nossa região”, pontuou.
O presidente do Sistema Fecomércio-RS/Sesc/Senac, Luiz Carlos Bohn, reforçou o papel da entidade frente às questões que atingem o setor terciário. “A Fecomércio, como representante do setor que mais emprega e mais gera PIB e renda, tem a obrigação de procurar sempre melhorar o ambiente para as empresas fazerem negócios e crescerem. O Giro pelo Rio Grande está alinhado a essa missão”, enfatizou.
Equilíbrio das contas
Primeiro palestrante da noite, o economista e consultor da Federação, Marcelo Portugal, trouxe a temática do ajuste fiscal. De acordo com o especialista, “nosso principal desafio é fazer o Estado caber dentro do PIB”. Trazendo um comparativo da relação entre arrecadação e gastos dentro da esfera pública, Portugal apresentou números de mais de duas décadas e governos diferentes e destacou que o Brasil já teve diversas tentativas de ajustes fiscais, como o Plano de Ajuste Fiscal de Longo Prazo, de 2005, e o Teto de Gastos, de 2016.
Para este ano, o economista enfatiza que o controle da dívida pública é um desafio. “Já elevamos a dívida em 6,8 ponstos percentuais do PIB. Considerando um PIB estimado em 11,5 trilhões em 2024, isso representa R$ 782 bilhões de reais em um ano e meio”, disse. “O Brasil tem um problema que não consegue controlar a despesa para caber dentro da inflação”, completou.
Questionado sobre o Arcabouço Fiscal, Portugal comentou que a situação é preocupante e o governo não tem um plano a longo prazo. “Se ainda conseguirmos tocar esse ano, o ano que vem já ficará muito mais difícil”, pontuou. Finalizando a apresentação, apresentou um comparativo da arrecadação de ICMS no Rio Grande do Sul entre 2023 e 2024 e afirmou que, mesmo após a enchente, houve um ganho de arrecadação de R$ 530 milhões em relação ao orçado. “O desafio de contenção de gastos não é apenas em nível federal. No RS o problema é similar”, finalizou.
Já o setor de comércio/serviços e a indústria teriam um desempenho também positivo, mas bem mais modesto, em linha com o resultado nacional. Porém, a enchente mudou esse cenário. A agropecuária foi pouco afetada, pois parte significativa da safra de grãos já havia sido colhida. O efeito mais negativo foi sobre a pecuária. No novo contexto, o esperado é um desempenho negativo para o PIB da indústria e dos serviços/comércio, mesmo com ajuda direta da agropecuária via transporte, comercialização e processamento da safra. “O forte desempenho da agropecuária deve permitir um PIB positivo, próximo de 1,5% para o RS”, acredita o economista.
Outro aspecto abordado foi o total de perda de capital das famílias, empresas e da infraestrutura pública, que pode chegar a R$ 34 bilhões. “A enchente atrapalha, mas não é dramática. O problema é o impacto que teremos a longo prazo em virtude da destruição de capital público, privado e de infraestrutura. Essa é uma das maiores diferenças em relação à pandemia. Isso reduz o crescimento potencial da economia gaúcha nos próximos anos”.
Encerrando as apresentações, o cientista político, Fernando Schuler, mostrou um panorama sobre o “Brasil 2024” e o principais pontos de atuação do atual governo, destacando pontos como a Lei das Estatais e o fim das privatizações. Questionado sobre o futuro do País, o especialista destaca que “precisamos de produtividade”, e “não se pode contar” com o índice demográfico para o aumento de renda per capita.
O Giro pelo Rio Grande é um evento anual da Fecomércio-RS que em cada edição traz uma temática de interesse dos empresários do comércio de bens, serviços e turismo do Estado. Para conferir sobre as próximas edições, acesse o site.