Dois sobreviventes da tragédia da Boate Kiss se casaram, no sábado (28), em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul. O incêndio que atingiu a casa noturna da cidade, em 27 de janeiro de 2013, deixou 242 pessoas mortas e outras 636 feridas.
Os noivos Vinícius Martins Pozzer e Daiane Soares Muller lembram bem daquele dia. Eles estavam juntos na festa, dançando perto do palco. Na época, o casal ainda não estava namorando.
“A hora que a faísca que estava no equipamento pegou no teto, a gente ficou olhando. A gente ficou meio sem reação. Aí, surgiu gente com extintor, a gente achou que ia ter uma solução. Quando a gente viu que não tinha o que fazer, que estava todo mundo saindo, a gente começou a sair também. Quando chegou na reta da porta, começou a tumultuar, aí foram apagando as luzes, foi ficando apertado, começou a se espremer. Soltei a mão dele”, conta Daiane.
Vinícius não sabia se a jovem tinha conseguido sair da boate. Ele ficou na porta, procurando.
“Aí foi no momento que eu me virei para respirar, puxar um ar, tentar enxugar as lágrimas, porque era muito choro, acabei encontrando a irmã dela e ela do outro lado da rua”, conta o noivo.
O casal celebrou a união na igreja, junto com a família e os amigos. A vida passou a ter outro significado para eles.
“Eu acho que a gente tem que celebrar a vida todo o dia em que a gente acorda. Isso para nós é um momento de festa maravilhoso, porque eles passaram por uma experiência que não foi muito agradável para a família, então, eu faço questão de comemorar a festa deles hoje com muito amor e alegria”, diz a mãe da noiva, Sonia Soares Muller.
“Acho que eles são muito companheiros, muito amigos, acho que a cumplicidade deles dois é bem bonita. São bem alegres, bem extrovertidos, estão sempre rindo, sempre brincando. A gente acompanhou desde o início, então é gratificante”, relata a madrinha Quevelin Michelin Martins.
Tragédia na boate Kiss
O incêndio começou por volta de 2h30 de 27 de janeiro de 2013, durante a apresentação de uma banda que contou com efeitos pirotécnicos. As chamas no teto se alastraram rapidamente devido ao material inflamável usado como isolamento acústico, o que produziu fumaça preta e tóxica. O fogo foi causado pelo sinalizador.
Segundo testemunhas, centenas de pessoas ficaram desesperadas com o início do incêndio e começaram a correr em busca de uma saída para a rua. Houve tumulto e muitos frequentadores caíram e foram pisoteados.
No fim de 2017, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) considerou que os quatro acusados deveriam ser julgados por um juiz de vara criminal da primeira instância, em Santa Maria, por homicídio culposo (quando não há intenção de matar).
A Constituição prevê júri popular somente em caso de homicídio doloso (quando se assume o risco pela morte ou quando a intenção é explícita).
A decisão do Tribunal de Justiça gaúcho, no entanto, foi revertida em junho desse ano pela Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que decidiu mandar os acusados pelo incêndio a um julgamento popular.
Com isso, os réus Elisandro Spohr e Mauro Hoffmann, sócios da boate, e Marcelo Santos e Luciano Bonilha, integrantes da banda que tocava na noite do incêndio, serão julgados com a participação de pessoas da comunidade, que participam da sentença.
Todos negaram ter conhecimento dos riscos e, atualmente, respondem ao processo em liberdade.
Caberá à Justiça em Santa Maria definir os próximos passos do processo e marcar o julgamento. A defesa dos réus ainda pode recorrer ao Supremo Tribunal Federal.