Inquérito da investigação da morte da ex-vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes apresenta detalhes da motivação e do planejamento do crime. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes levantou, neste domingo (24), o sigilo da investigação e do processo.
Segundo a Polícia Federal, o assassinato está relacionado aos obstáculos que a ex-vereadora poderia representar frente aos interesses em loteamentos ilegais ligados aos irmãos Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, e Chiquinho Brazão, deputado federal, em áreas controladas por milícias no Rio de Janeiro. Marielle defendia o fortalecimento de áreas para moradias sociais, contrariando os interesses das milícias.
O ministro da justiça Ricardo Lewandowski destacou trecho do relatório da PF encaminhado ao STF sobre essas motivações.
A PF aponta a família Brazão como envolta de “uma névoa criminal nunca dissipada em razão das relações político-estatais” por ela construída.
O que diz o inquérito do caso Marielle Franco?
O inquérito indica que os irmãos Brazão contrataram o miliciano Edimilson Macalé, morto em 2021, e o ex-policial Ronnie Lessa para a execução da então vereadora do PSOL; além de um esquema de garantia prévia de impunidade comanda pelo delegado Rivaldo Barbosa na Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio.
Coube a Ronnie Lessa o monitoramento de Marielle. Lessa, que fez uma colaboração premiada com a PF, contratou o também ex-policial Élcio Queiroz para dirigir o carro no momento da execução da ex-vereadora. Em recompensa, Lessa receberia grande extensão de terra em loteamento ilegal planejado pelos irmãos Brazão.
Já o delegado Rivaldo Barbosa teria feito uma combinação com Domingos Brazão para garantir a não identificação dos reais mandantes do assassinato de Marielle. Antes da execução, Rivaldo, que era diretor do departamento de Homicídios, foi promovido a Chefe da Polícia Civil, pelo então interventor da segurança pública no Rio, o general Braga Neto, candidato a vice presidente na chapa de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.
Segundo o inquérito, Rivaldo foi designado pelos irmãos Brazão como arquiteto do crime, e teria inclusive estabelecido que o assassinato não ocorresse na saída da Câmara dos Vereadores, como forma de afastar a hipótese de crime político.
Para a investigação, Rivaldo, enquanto titular da delegacia de homicídio, já recebia vantagens indevidas da contravenção do jogo do bicho para não investigar crimes de homicídios praticados por criminosos.
Para a Polícia Federal, a esquema de sabotagem da investigação como forma de adiar a resolução do crime, com comando de Rivaldo, esbarrou em uma variável que a organização criminosa não esperava: a magnitude da repercussão midiática do crime.
A defesa de Domingos Brazão reforça a inexistência de qualquer motivação que possa vincula-lo ao caso e nega qualquer envolvimento. Ainda segundo a defesa, as delações não devem ser tratadas como verdade absoluta e aguarda que os fatos sejam concretamente esclarecidos.
Já a defesa de Rivaldo Barbosa disse que não vai se manifestar por hora, já que não tiveram acesso aos autos e nem a decisão que decretou a prisão.
Não conseguimos contato com a defesa de Chiquinho Brazão.
Texto: Gésio Passos/Agência Brasil