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No quarto ano de obra, duplicação da BR-116 segue em ritmo lento

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Após três anos de altos e baixos, a duplicação da BR-116 entre Pelotas e Guaíba vai para o quarto ano praticamente parada e sem perspectiva de finalização. Iniciadas em 2012, as obras deveriam ter sido terminadas em 2015, mas uma série de fatores, incluindo dificuldades enfrentadas pelas construtoras e atrasos no repasse de recursos por parte do governo federal, acabaram atrasando o cronograma que hoje segue incerto. Para entender o problema e avaliar o andamento dos nove trechos licitados, o Diário Popular percorreu os 211,22 quilômetros da obra e mostra, em dois capítulos, o que encontrou.

Um terceiro falará sobre a situação do contorno de Pelotas e o impacto da construção no dia a dia dos moradores do entorno. A ideia é demonstrar a realidade vivida por quem convive com as obras nos dois empreendimentos. Problemas na sinalização de trânsito e incertezas quanto as desapropriações são apenas algumas das barreiras identificadas pela reportagem, sem contar acessos confusos e perigosos, responsáveis por causar transtornos aos motoristas. No primeiro capítulo da série A passos lentos para o progresso você confere como estão os quatro primeiros lotes da duplicação que atingem os municípios de Guaíba, Barra do Ribeiro, Mariana Pimentel, Sentinela do Sul, Tapes e Arambaré.

Dividida em nove lotes, as obras de duplicação da BR-116 iniciam no quilômetro 300,54, em Guaíba, a 31 quilômetros da capital gaúcha. O chamado lote 1 está sob a responsabilidade da construtora Constran, que também cuida das obras do lote 2, entre os quilômetros 325 e 351 da BR. A empresa é uma das poucas a manter certo ritmo nos trabalhos, apesar de ter reduzido bastante o número de funcionários no último ano, conforme explica o gerente de contrato dos dois trechos, Ricardo Pontes. “Chegamos a ter 550 operários e hoje estamos com 89. Se até março nada mudar, teremos que encerrar o contrato.”

Segundo Pontes, mais de 8,5 quilômetros nos dois lotes estão parados devido à morosidade nas desapropriações. Além disso, o governo federal, através do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), chegou a atrasar cinco meses de pagamentos às construtoras, tornando praticamente inviável manter as obras a pleno. A promessa de normalização dos repasses ficou para março, no entanto, desde janeiro a União vem pagando as parcelas em atrasos, dando fôlego as obras em alguns lotes. Enquanto isso, o governo anunciou a liberação de R$ 47,9 milhões do orçamento para as obras em 2016, valor 70,4% inferior ao disponibilizado em 2015 – cerca de R$162 milhões.

 

O vai e vem na BR

A incerteza quanto ao futuro também preocupa o comerciante José Bunilha, 70. Dono de um pequeno comércio construído à beira da BR, na altura de Barra do Ribeiro, a dúvida dele está relacionada ao problema levantado por Pontes referente às desapropriações. Bunilha não sabe se vai precisar deixar o espaço e aguarda posição do Dnit sobre a questão. “Uns dizem que vai ter de desapropriar, outros que não vai precisar. Enquanto isso vou levando.” Ele amarga ainda prejuízo de R$ 2 mil causado pela demissão de parte dos funcionários da Constran. “Vendia fiado e acabei perdendo dinheiro. Para um comércio pequeno é muita coisa.” E o Poder Público também está preocupado com a demora nas obras.

Segundo o prefeito de Guaíba, Henrique Tavares (PTB), os desvios construídos junto aos acessos do setor industrial do município tem causado transtornos, principalmente para o tráfego de veículos pesados. Atualmente, Guaíba depende muito da BR-116 tendo em vista a presença de empresas como a CMPC – Celulose Riograndense. A cada três minutos, um caminhão bitrem circula pela rodovia em direção a cidade. Um viaduto deve ser construído no trecho que liga a CMPC a BR, tudo para reduzir o fluxo de caminhões por dentro do município. No entanto, a obra do viaduto está parada, assim como as construções de outras obras de arte – pontes e viadutos – da duplicação.

 

Interrompidas

O cenário identificado nos lotes 3 e 4 das obras de duplicação da BR-116 é de abandono. Em vários trechos o mato voltou a tomar conta das vias, enquanto em outras as proteções de encostas estão desmoronando, prova de que parte do trabalho precisará ser refeito. Ao ser procurada, a construtora paranaense Ivaí, responsável pelo lote 3, preferiu não se manifestar sobre o assunto, mas admitiu atrasos nos repasses por parte do governo federal. Informações dão conta de que a empresa teria pedido ao Dnit a paralisação do contrato, fato não confirmado pelo órgão. Já o lote 4, domínio do consórcio Trier/Ctesa, também está parado pelo mesmo motivo, o que preocupa a aposentada Maria Santos, 67.

Maria mora entre os quilômetros 382 e 381 da BR e viu o acesso a sua casa ser praticamente destruído para dar espaço às obras. “Eles mal deixaram um espacinho para gente entrar em casa. Meu marido quase caiu de carro várias vezes ali.” Agora, ela aguarda a reforma do trecho, o que não deve ocorrer tão cedo já que a empresa também teria pedido a suspensão do contrato. De acordo com Ricardo Pontes, da Constran, em reuniões realizadas com o Dnit algumas empresas já teriam apontado a possibilidade de estarem falidas, enquanto outras tem a intenção de encerrar o contrato em abril, quando esse acaba. “Do jeito que está, essa obra vai até 2020 e não sei se acaba não.”

 

Prefeituras mobilizadas

Assim como a prefeitura de Guaíba tem acompanhado de perto o andamento das obras de duplicação da BR-116, outros municípios estão interessados no projeto. Em Arambaré, a 160 km de Pelotas, a preocupação é com as dificuldades de acesso ao município, já que a entrada da cidade ocorre a partir da RS-350, cujo início é na 116. Conforme a prefeita Joselena Scherer (PDT), a localidade praiana está em plena temporada de verão, prejudicada pela dificuldade enfrentada pelos turistas para chegarem ao lugar. Além disso, ela confirma um aumento no número de acidentes no entorno do acesso devido à sinalização precária. “Nos fins de semana, o engarrafamento chega a 30 km. A noite então o risco é maior ainda.”

De acordo com o prefeito de Tapes – localizada a 168 km de Pelotas -, Silvio Rafaeli (PDT), os prefeitos da região tem conversado sobre o problema e pressionado a União e o Dnit atrás de uma solução. Não se descarta, inclusive, a possibilidade de pedir ajuda aos deputados gaúchos e a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), que ajudará na questão caso seja solicitada. Enquanto isso, outros seis municípios, incluindo Pelotas, padecem com os atrasos na duplicação. Na edição de amanhã você confere os impactos das obras nessas cidades e a posição do Dnit sobre o projeto.