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Patricia Palermo, uma batalhadora da economia didática

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O ano iniciou com novidades no Conversa Boa, um novo formato de entrevista incrementa o programa. O bate papo que tem por objetivo traçar um perfil pessoal e profissional do convidado estreou em grande estilo. Patrícia Palermo é a primeira mulher economista-chefe da Fecomércio e vem de uma família simples, mas que sempre a incentivou  estudar e a correr atrás de seus objetivos, sem ter pena de si ou se sentir incapaz de transpor obstáculos. Além disso, enfrentou um câncer, e tem por objetivo levar conhecimento as pessoas para que tomem decisões com consciência. Uma mulher batalhadora, competente e a perfeita inspiração para começar o ano com o pé direito e força total.

 

Conversa Boa: Estudar e trabalhar com economia, sempre esteve nos teus planos?

 

Patricia Palermo: Nunca. Nunca pensei na minha vida que eu iria fazer economia. Tinha um rapaz que me “cantava” na praia, quando eu era jovem, e ele veio me contar na época que tinha passado em economia, e eu pensei: nossa, coitadinho, não tinha coisa melhor para passar?!  Eu fiz vestibular para farmácia, cursei um ano e meio e fiquei muito infeliz. Eu era boa aluna, tinha boas notas, mas não me via fazendo aquilo no meu futuro. Um dia, eu conheci a economia através de um economista que falava sobre pobreza. E em uma viagem de ônibus até o campus do Vale, da UFRGS, eu decidi que faria economia. Ou seja, eu saí da minha casa fazendo farmácia, e cheguei ao campus quase matriculada em economia. Eu iniciei a estudar e foi amor a primeira vista. Eu tinha posições ideológicas e visões de mundo, de uma forma que fui como uma “esponja”, aberta a aprender coisas novas. Depois da faculdade, fiz mestrado e douturado, tudo em Economia. Portanto, é algo que eu gosto muito.

 

CB: Durante a faculdade, tu recebeste por duas vezes o prêmio Jovem Pesquisador do CNPQ. Tu sempre foste estudiosa ou tu te tornou estudiosa quando te descobriste na Economia?

 

PP: Eu sempre fui muito estudiosa e vim de uma família muito pobre, que tinha muitas carências. Minha mãe é alguém, que por infelicidade do destino, só pode terminar seu Ensino Médio depois dos 30 anos. Porém ela sempre me alertou que podemos mudar o nosso destino estudando e já que não temos a melhor vida que poderíamos ter, podemos construir uma vida melhor a partir do estudo. Então eu via no esforço da minha mãe e do meu pai uma impulso para me esforçar também. E enxergava no estudo uma saída para eu construir uma vida melhor pra mim no futuro e para os meus pais. Eu percebia que através dos estudos, algo que eu dedicava esforço, tinha reconhecimento por aquilo, e tinha possibilidade de avançar. Isto foi muito bom pra mim, porque eu sempre estudei com bolsas em colégios particulares, eu trocava com o colégio a questão de eu me dar bem e eles me darem bolsas. Essa ideia de eu me esforçar e ser um bom exemplo para os meu colegas, acabava repercutindo para eu ter condições de continuar me mantendo no colégio, que com certeza que se dependesse exclusivamente da capacidade financeira dos meus pais eu não conseguiria.

 

CB: E hoje tu és primeira mulher a ocupar o posto de Economista-Chefe da Fecomércio.  Tu consideras o mundo dos negócios machista?

 

PP: Eu tenho falado bastante sobre isso. Eu acho ele um mundo povoado por homens, mas ao longo da minha vida eu tive mais palavras machistas e reações machistas vinda de mulheres do que de homens. Tem uma frase muito fácil e muito bonita de ser dita que é a seguinte: lugar de mulher é onde ela quer estar e faça força para estar. Então se a gente vai e se apresenta para um determinado ambiente de trabalho, tem competência para isso e coloca a “cara a tapa”, corre os riscos, as portas vão se abrindo. E isso eu queria deixar muito claro a todas as mulheres e meninas. O nosso futuro quem constrói somos nós. Se você tem que passar por um rio para chegar ao outro lado, construa uma ponte. Não espere que alguém faça por ti e não tenha medo desse mundo que todo mundo diz que é perigoso e cruel com as mulheres, vai lá e se apresenta. Se a gente precisa de pessoas que ocupem posições, porque não nós as ocupemos? Se a gente fizer nossa parte, estará garantido.

 

CB: Na tua trajetória família e profissional se percebe que tu és uma guerreira, e imagino que desta mesma forma tu enfrentaste um câncer. A tua vida mudou muito depois disso?

 

PP: As pessoas me perguntam muito se eu sou uma pessoa melhor depois do câncer. Não, eu sempre fui uma pessoa boa, e vou continuar sendo. Câncer não é castigo, é uma doença, é uma fase da nossa vida. E eu vou dizer para você, que se eu pudesse voltar no tempo eu não teria, porque é muito ruim. É muito ruim perder cabelo, se sentir enjoada, ter diarreia de manhã, a tarde e a noite. É muito ruim fazer cinco, seis, oito horas de quimioterapia.  É muito ruim você se olhar no espelho e não se reconhecer. Eu sou uma mulher vaidosa, você pode ver que eu estou cheia de rímel, batom, cabelo escovado, e tudo mais. Mas essa fase toda, me mostrou como eu sou cercada de gente que gosta de mim, como eu sou cercada de amor. Eu sempre pensei que eu fosse casada com um cara legal, quando tive câncer eu tive certeza. Meu marido foi ímpar nesse período, porque eu vi que ele não estava do lado apenas de um “corpinho”, ele estava do lado de uma mulher com suas fraquezas, suas debilidades, suas fragilidades. Eu via na minha filha, uma menina que na época tinha cinco para seis anos de idade, uma fortaleza e uma sabedoria que eu não sabia que uma criança era capaz de ter. Eu comento que eu e ela temos uma relação muito próxima, somos muito parecidas fisicamente e temos um temperamento que se parece também, e eu me lembro que conversávamos e eu explicava pra ela da gravidade da doença, e ela me perguntava se ela também iria perder o cabelo. Porque ela achava que a já que somos iguais ela perderia também. E eu explicava que não, pois somos parecidas, mas não iguais, eu tenho minha vida, ela a dela. E eu tinha muito medo de como seria no dia que ela me visse nua e com as cicatrizes que o câncer deixou em mim. Mas nunca vou me esquecer no dia que estávamos juntas e ela me disse: “mãe eu amo tuas cicatrizes porque elas mostram que tu és uma guerreira que venceu muitas batalhas”. E quando uma criança diz algo assim é sinal de que ela passou por muitas das coisas que as vezes a gente fica se prendendo. Afinal, quando você esta tratando um câncer, há altos e baixos, nem todos os dias são bons. E a minha filha me dizia: mãe ser bonita é importante pra ti né?! Então ri, mãe! Porque tu ficas muito mais bonita rindo que chorando. E eu acho que foi um momento de muito aprendizado, e se eu puder dizer para as pessoas que estão nesse momento agora que isso tudo passa. Esta é a mensagem que eu quero deixar!

 

CB: Tu comentas que uma das tuas grandes motivações é lutar pelo direito das pessoas entenderem o mundo que elas vivem. Isto se refere aos aspectos econômicos, pessoais…

 

PP: Basicamente, eu estou falando em economia. Até porque isso de falar sobre a própria vida é um tanto recente pra mim. Mas o que eu acho fantástico na economia é que eu sempre pensei o seguinte, há poucas profissões com tanta mídia como a economia. Se você ligar os telejornais, quase diariamente nós vemos economistas. Mas o que é a tragédia disso, é que eles não conseguem comunicar, que é tornar algo comum, algo que sai da minha boca, entra no seu ouvido e você seja capaz de entender. Eu sempre fui dessa ideia de que é necessário termos didática para explicar questões econômicas, porque as pessoas que entendem melhor o mundo que vivem, tomam melhor suas decisões. E essas decisões acertadas melhoram a vida de todo mundo, seja de forma particular ou coletiva.