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Pecuaristas gaúchos buscam exemplo uruguaio para organização da cadeia

Foto: Eduardo Marcanth Rosso / Divulgação
Foto: Eduardo Marcanth Rosso / Divulgação

Um grupo de trabalho constituído pelo Instituto Desenvolve
Pecuária  busca mirar o Uruguai como um
dos exemplos para o Rio Grande do Sul. A pecuária gaúcha e uruguaia tem rebanho
bovino muito parecido, assim como o clima e o solo. No país vizinho são 11 milhões
e 800 mil cabeças e no Rio Grande do Sul 11 milhões 150 mil, conforme
levantamento da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural
(Seapdr). No entanto, o número no nascimento de terneiros é um dos fatores que
diferenciam a produção entre o Uruguai e o nosso Estado.

O médico veterinário Fernando Costabeber, associado do
Instituto Desenvolve Pecuária e que foi palestrante sobre o tema durante o
Fórum da Cadeia da Carne Bovina realizado em julho na Farsul, fala sobre as
diferenças e semelhanças entre a pecuária uruguaia e a gaúcha. Segundo ele,
apesar de o Uruguai ser um pouco menor que o Rio Grande do Sul, o Estado gaúcho
tem uma área agrícola muito maior, porém as pecuárias são muito semelhantes em
tamanho. “Os números da Secretaria da Agricultura são informados pelos
produtores, enquanto que no Uruguai todo o gado é rastreado. O terneiro recebe
um chip em um brinco oficial que está no sistema do Instituto Nacional de
Carnes (Inac)”, explica, ressaltando que o órgão público privado foi fundado em
1984 com o objetivo de organizar a cadeia da carne. “A criação do Instituto
visou oferecer uma competição justa entre as indústrias frigoríficas com o
controle da qualidade da carne e, consequentemente, valorizando e aumentando a
produção”, destaca. 

De acordo com Costabeber, o Uruguai possui 35 frigoríficos
que estão conectados com o Inac e têm o mesmo procedimento de abate com
balanças oficiais que medem o peso do animal antes e depois de serem abatidos,
além da mesma preparação de toalete da carcaça, onde o produtor é remunerado.
Já no Rio Grande do Sul, ele salienta que o Estado tem mais de 100 frigoríficos
operando. “Dos 35 frigoríficos uruguaios, 19 exportam para a China. No caso do
nosso Estado, temos apenas uma empresa, com três plantas credenciadas, que
exporta para a China que é hoje o grande mercado de demanda de exportação do
mundo”, observa.

Costabeber coloca também que do ponto de vista racial entre
os rebanhos uruguaio e gaúcho há pouca diferença. Afirma que no Uruguai são
mais trabalhadas as raças Hereford e Angus, pouco sangue zebuíno, e o Rio
Grande do Sul tem mais raça sintética. Na questão de nascimentos é que ocorre
uma maior diferenciação. Conforme o veterinário, o Estado gaúcho tem em torno
de 5 milhões e meio de matrizes com mais de 24 meses, que deveriam estar em
reprodução, mas o número de nascimentos é bem maior no Uruguai,  com basicamente o mesmo número de vacas. “No
ano passado, o Rio Grande do Sul  teve 2
milhões 420 mil terneiros nascidos e o Uruguai, 2 milhões 880 mil. São 460 mil,
ou 20%, a mais. Se arredondarmos o número para 500 mil terneiros que o Uruguai
produz a mais, a R$ 2 mil cada, valor de mercado hoje, isso significa R$ 1
bilhão de faturamento da pecuária uruguaia em relação à gaúcha só na produção
de terneiros. É um valor imenso que deixa de entrar em toda a economia do
Estado”, sinaliza.

O veterinário aborda ainda a questão da produção de carne. O
Uruguai produziu em torno de 688 mil toneladas de carne, mais de 50% em cima da
produção gaúcha, que, segundo o Nespro, ficou em 411 mil toneladas, com um
rebanho muito semelhante. O valor da tonelada exportada pelos uruguaios em 2021
também foi bastante superior, não só em relação ao Rio Grande do Sul como ao
Brasil. “O nosso Estado exportou a tonelada a 6 mil 160 dólares contra 6 mil
860 dólares da média brasileira. Já o Uruguai conseguiu um  valor 20% maior do que a média brasileira, de
7 mil 409 dólares. Em relação às receitas de exportações da cadeia da carne, na
comparação com o Brasil, que exportou 9 bilhões de dólares, o Uruguai embarcou
um terço disso, 3 bilhões, fora os valores de terneiros em pé, que
representaram mais de 193 milhões de dólares. “E o nosso Estado exportou 175
milhões de dólares, um valor extremamente baixo, um pouco mais de 2% do total
brasileiro. Portanto, o Rio Grande do Sul é praticamente insignificante em
termos de exportação de carne bovina”, salienta Costabeber.

Dentro do contexto histórico, segundo ele, a
carne bovina é o principal produto das receitas cambiais e do Produto Interno
Bruto uruguaio. Porém, no contexto gaúcho, representa muito pouco, embora o
Estado tenha sido no início da década de 80 o grande produtor do Brasil, com
cerca de meio milhão de toneladas de carne bovina, ou seja, 25% dos 2 milhões
de toneladas produzidas pelo país. Hoje os números brasileiros devem estar
perto de 10 milhões de toneladas e o Rio Grande do Sul com pouco mais de 400
mil toneladas. “Como são só estimativas, temos menos de 5% da produção
nacional. Então, o Brasil da década de 1980 para cá aumentou em cinco vezes a
produção de carne bovina e o nosso Estado diminuiu a sua produção”, finaliza
Costabeber


Texto: Rejane
Costa / AgroEffective