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Reportagem mostra fraude na fila do SUS em São Lourenço do Sul

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Políticos montaram esquemas em todo o país para furar a fila do Sistema Único de Saúde (SUS) em troca de votos. Produzida pela RBS TV, a denúncia exibida neste domingo pelo Fantástico revelou casos em três Estados. No Rio Grande do Sul, um assessor do deputado federal Giovani Cherini (PR) apareceu como suspeito de participar de uma fraude que oferece exames pelo sistema público, em tempo recorde, em troca de 50 reais.

A investigação da equipe da RBS TV começou pela cidade de Guarapuava (PR), onde 44 mil pessoas aguardam por consulta médica pelo SUS. Lá, três vereadores foram afastados porque tinham acesso privilegiado ao sistema de marcação de um consórcio que atende também outras duas cidades da região. Escutas telefônicas mostram os políticos e seus assessores atendendo a pedidos de eleitores que buscavam consultas, exames e cirurgias.

Em Caldas Novas (GO), 14 dos 15 vereadores foram processados pelo Ministério Público porque montaram uma central paralela de marcação de consultas, para atender a eleitores. O atendimento a essas pessoas era feito em tempo recorde. Dois ex-secretários de Saúde e um deputado estadual, que na época era vice-prefeito da cidade, também teriam participação no esquema.

Já no Rio Grande do Sul, a fraude foi descoberta em São Lourenço do Sul, no sul do Estado, onde um frentista de um posto de gasolina foi flagrado pela equipe da RBS TV negociando exames de imagem pelo SUS, em troca de 50 reais, sem passar pela fila do sistema. Candidato não eleito a vereador na cidade, Altair fonseca, conhecido como o Caco do Posto (PDT), disse que a fraude é operada pelo deputado federal Giovani Cherini (PR) e por um auxiliar dele:

— Faz três anos que eu venho fazendo isso para o deputado Cherini. Se amanhã ou depois der uma zebra, ele pode ser até cassado por causa disso daí, admitiu, sem saber que estava sendo gravado.

A reportagem acompanhou o passo a passo da fraude. O dinheiro pago pelo exame dá direito a um serviço completo: quando chegam em Porto Alegre, os pacientes são recebidos pelo assessor do deputado Cherini, Martinho de Brum. Ele é responsável por levá-los até a clínica Radicom, credenciada pela Secretaria Municipal de Saúde, gestora do SUS na Capital.

Enquanto aguardava pelo atendimento, Martinho deu mais detalhes do esquema. Disse que era o responsável por “controlar” o comércio de exames e que os R$ 50 seriam destinados a um certo “doutor”. Ele ainda tentou recrutar para o esquema um integrante da equipe de reportagem, pensando que conversava com um morador do Interior.

— (Tu) Vai ser o nosso representante lá daí. Vou botar lá. Aí ele (Cherini) vai te ligar no dia do teu aniversário. Qualquer coisa a gente faz contigo. Indicar os pacientes. Pode ser até um cabo eleitoral – disse Martinho.

A fraude prejudica pacientes como o aposentado Sílvio Gusmão, de São Lourenço do Sul, que está há um ano na fila para realizar uma ressonância pelo SUS, a mesma que o frentista e o assessor do deputado Cherini conseguem em dois dias. Ele vive numa cadeira de rodas e vê sua saúde piorar a cada dia:

— Ultimamente piorou a situação das pernas, ficou muita rigidez. A dor aumentou também nas costas – lamenta Sílvio.

Já os beneficiados pelo esquema ilegal chegam a receber o resultado dos exames em casa, com o santinho de Caco do Posto anexado ao laudo. Ele deixou claro o benefício eleitoral que pretendia obter com a fraude para furar a fila do SUS.

— É o que eu digo sempre, se eu achar que eu mereço, me ajude no voto. E ele (deputado) também – afirmou.

Mais tarde, confrontado pela equipe de reportagem, o frentista negou participação no esquema. Assim como o deputado federal Giovani Cherini, que anunciou que irá demitir o assessor Martinho de Brum.

— Jamais autorizei, jamais comunguei com coisa ilegal e irregular. E vou dizer mais: se comprovar isso aqui eu peço renúncia aqui da Câmara, se comprovar qualquer tipo de participação — afirmou Cherini.

Depois de checar os dados de uma das pacientes, a Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre confirmou que o exame foi pago pelo SUS, sem passar por qualquer regulação, ou seja, sem fazer parte da fila. E anunciou abertura de auditoria. Já a direção da clínica Radicom garantiu que desconhecia o esquema e que abriu uma investigação interna.