Search
[adsforwp-group id="156022"]

RS tem 55 vítimas de estelionatários por dia

img_18588_foto_1.jpg

“Será que isso não é golpe?”. Quando essa dúvida surgiu já era tarde para uma aposentada, moradora da Região Metropolitana. Uma dupla tinha escapado com seus R$ 5 mil. Em média, por dia, 55 vítimas de golpistas procuram a polícia no Rio Grande do Sul. Entre janeiro e setembro deste ano, segundo a Secretaria da Segurança Pública, foram 15.032 registros — 1,2 mil a mais do que no mesmo período de 2017.

Marisete de Fátima de Oliveira, 47 anos, aposentada há quatro meses, é autora da inquietação que abre esse texto. Na terça-feira, pretendia pagar algumas contas no centro de Sapiranga. Passou no banco e sacou pagamentos atrasados da aposentadoria. Estava ansiosa por receber a quantia. Caminhava pela rua quando viu um rapaz passar apressado e deixar cair um envelope com dinheiro. Outro homem pegou rapidamente..

— Vamos dividir? — sugeriu para a aposentada.

— Não, é dele. Tu tem de entregar. Não se deve ficar com o que não é da gente — repreendeu Marisete.

Enquanto discutiam, o suposto dono do dinheiro retornou e a aposentada fez o homem devolver o envelope. Grato, o jovem disse que trabalhava próximo dali e daria uma gorjeta aos dois. O homem foi o primeiro a buscar a recompensa e voltou dizendo à mulher que era a vez dela. A aposentada atravessava a rua, quando se deu conta que tinha deixado a bolsa. Voltou correndo, mas era tarde. Os dois tinham sumido com seus R$ 5 mil. Só restou o malote que o rapaz deixou cair.

— Meu Jesus amado, e agora? — lamentava Marisete.

A aposentada pegou o pacote, acreditando que havia dinheiro dentro. No trajeto para casa, contou a história a um taxista que lhe alertou: “o malote deve estar vazio”. Quando abriu, só encontrou jornal enrolado. A aposentada procurou a Polícia Civil, e o caso é investigado.

— Fiquei desatinada. Me levaram tudo. É duro saber que um dinheiro que tu sofreu para ganhar te levam assim. Dói na gente isso. Não quero que aconteça com outras pessoas — diz.

Entre os golpes mais comuns, além do falso pacote de dinheiro, que a aposentada foi vítima, está o conto do bilhete premiado. A trapaça também envolve uma espécie de teatro por parte dos golpistas, que inserem a vítima em um enredo. Mulheres idosas costumam ser os principais alvos.

— O idoso é uma vítima muito fácil para crimes de estelionato, por ser uma pessoa crédula e pelo fato de que gosta de conversar. Tem vergonha de ser mal educado — explica a delegada Larissa Fajardo, titular da Delegacia do Idoso de Porto Alegre.

A Capital concentra quase um quarto dos estelionatos no Estado (24%). Acostumada a atender casos esse tipo, a delegada diz que o poder de convencimento do estelionatário é alto. Aproveitam que a vítima não tem a mesma capacidade de raciocínio, por conta da idade, e falam sem parar. O golpe, em geral, envolve promessa de recompensa.

— Tem casos em que as vítimas andam de carro com pessoas que nunca viram. Levam dentro de casa. Entregam dinheiro, joias. Um deles é sempre alguém bem vestido, que fala bem, tem profissão de vulto. E outro diz ser do Interior, fala errado — relata Larissa.

Envolvidas na trama, as vítimas demoram até mesmo para acreditar que é um golpe. Nos casos em que são interceptadas por policiais ou algum funcionário de bancos, muitos não aceitam a verdade. Quando se convencem, surge a vergonha e o receio de contar aos familiares.

— Às vezes, inventam que foram extorquidos, ameaçados com armas, dopados. Não querem admitir que caíram no golpe. Alguns choram. A principal orientação é não dar chance para o estelionatário começar a falar porque depois fica bem difícil se livrar disso — alerta a delegada.

Para a polícia Passo Fundo é o berço dos golpistas

Um dos pontos que desafia a investigação é o fato de esses criminosos mudarem com frequência de município e de aparência. Em setembro, duas mulheres e um homem foram presos no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, enquanto tentava enganar uma vítima com o conto do bilhete. Os três eram naturais de Passo Fundo.