A ocorrência de casos de infecção por coronavírus em gestantes e, principalmente, em puérperas (mulheres que deram à luz há pouco tempo) preocupa as autoridades estaduais de saúde. No Rio Grande do Sul, segundo dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe, 60 gestantes foram hospitalizadas em consequência da Covid-19 e uma delas morreu. Entre puérperas, o número de hospitalizações pela doença foi menor (18), mas com desfecho de óbito de cinco mulheres. Os dados, entretanto, são parciais e precisam ser qualificados.
“O risco de letalidade parece maior entre as puérperas, mas é tudo muito recente e estamos analisando caso a caso para avaliarmos os fatores envolvidos”, afirma a coordenadora da Divisão de Políticas dos Ciclos de Vida da Secretaria da Saúde (SES), Gisleine Lima da Silva.
A Seção de Saúde da Mulher e a Coordenação Estadual da Atenção Básica pedem reforço aos serviços prestados nos municípios para identificação e monitoramento dos sintomas da Covid-19 nessa população, em especial se a gestante ou puérpera for portadora de comorbidades, como diabetes, obesidade, doenças cardíacas ou respiratórias.
De acordo com a nota de alerta da SES sobre o assunto aos serviços da rede de atenção à saúde da mulher, as mudanças fisiológicas no organismo da gestante e da puérpera levam a uma predisposição a infecções graves, inclusive respiratórias, e as alterações anatômicas reduzem a tolerância à hipóxia (diminuição das taxas de oxigênio nos tecidos).
Gisleine destaca que esse é um grupo prioritário para testagem diagnóstica da Covid-19 por RT-PCR (teste de biologia molecular). A orientação da SES aos serviços de saúde é de acompanhamento diário das gestantes e puérperas que apresentem sintomas por cerca de 14 dias. A coordenadora salienta a importância de se garantir a “longitudinalidade do cuidado à mulher e ao recém-nascido”, ou seja, o cuidado integral da saúde destes indivíduos ao longo do tempo. “É um atributo da Atenção Básica em Saúde”, esclarece.
“Temos uma boa qualidade de assistência obstétrica no Rio Grande do Sul. Vimos em outros Estados casos de gestantes e puérperas que não tiveram acesso à UTI e ao suporte ventilatório. Esta não é nossa realidade”, afirma Gisleine. “Porém, neste momento se torna ainda mais importante mantermos os atendimentos de pré-natal, com a realização de todos os exames necessários a cada trimestre da gestação.”
O pré-natal é essencial para identificar precocemente infecções associadas à gestação e infecções sexualmente transmissíveis. A coordenadora ressalta, ainda, a importância de orientar as mulheres quanto ao planejamento reprodutivo com inserção de métodos de longa duração. “Estes métodos são uma importante estratégia para redução do óbito materno”, conclui Gisleine.