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Situação da Santa Casa de São Lourenço do Sul é crítica, admite provedor

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A Santa Casa de Misericórdia de São Lourenço do Sul fechou na sexta-feira (24) o Bloco Cirúrgico, a Maternidade e a Pediatria da instituição. Segundo o provedor do hospital, José Ney Lamas, são setores que estavam sem uso pela greve dos médicos anestesistas, pediatras, obstetras, radiologistas e cirurgiões gerais, que já dura 48 dias.

Os profissionais estão com salários atrasados desde setembro de 2016 e, diante da inexistência de acordo, suspenderam o atendimento. Os das demais especialidades aceitaram a proposta de pagamento parcelado em 36 vezes. A dívida da instituição, entre impostos, FGTS, bancos e fornecedores, chega a R$ 20 milhões.

A situação é crítica, reconhece o provedor, que está no cargo há 18 anos e diz nunca ter enfrentado uma greve. Afirma que durante esse período à frente da direção do hospital também não houve correção da tabela dos procedimentos do Sistema Únicos de Saúde (SUS), o que dificulta muito, pois todos os custos enfrentaram diversas correções ao longo dos anos. Diz que de cada R$ 100,00 que a Santa Casa gasta, recebe R$ 60,00 do SUS.

Sem atendimento obstétrico no município, as parturientes são encaminhadas para Jaguarão e Piratini, podendo Camaquã também atender essas pacientes aos domingos, visto que Piratini não tem plantão obstétrico nesse dia. De acordo com a secretária de Saúde, Arita Bergmann, os casos clínicos eletivos sempre foram feitos em Pelotas e o atendimento pediátrico que não é urgência e emergência nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs).

Cirurgias eletivas quase não eram feitas na cidade mesmo. Nos últimos sete meses, o total foi de 15, relata a secretária de Saúde. Os casos cirúrgicos são enviados para Pelotas e Rio Grande, não havendo leitos, vão para Porto Alegre ou Jaguarão, completa Lamas.

O provedor atribui a grave crise financeira por que passa o hospital ao fato de a casa de saúde atender mais de 80% de pacientes do SUS, quando deveria ficar na faixa dos 60%. O hospital possui 120 leitos, sendo que desses 30 são disponibilizados ao atendimento em saúde mental. A secretária tem outra opinião. Diz que a Santa Casa de São Lourenço gasta 155% de sua receita. O orçamento é de R$ 1 milhão e os gastos superam esse valor em R$ 500 mil. “Tem que diminuir custo para poder se enquadrar dentro da receita, senão fica com déficit”, frisa Arita, ao acrescentar que isso é matemática pura.

Estão mantidos os serviços de urgência e emergência, nefrologia, saúde mental e leitos clínicos. O Pronto-Socorro atende de 200 a 230 pacientes ao dia. Nos últimos 30 dias foram avaliadas 78 gestantes e 32 encaminhadas para atendimento fora, além de 25 pacientes para cirurgias. O transporte dos pacientes fica a cargo do município.

Para a agricultora Rosinara Andradas Mendes, 34, a situação atual do hospital é ruim para a população. “Já ouvi falar de várias pessoas que tiveram que ir para Pelotas, Rio Grande, é tudo difícil”, comenta. A dona de casa Indria Oliveira da Luz, 22, precisou de atendimento pediátrico e levou seu filho de dois anos ao PS. O menino caiu e estava com uma dor abdominal. Foi submetido a exame de raios X, medicado e liberado. Mas se precisar consultar com um pediatra diz que terá de pagar pelo atendimento, pois não possui plano de saúde.

 

Plano B

Entre as possibilidades para amenizar a situação, a única que a direção trabalha como viável no momento é obter um empréstimo bancário para pagar os salários dos médicos. Para isso, no entanto, eles próprios seriam os avalistas. Lamas e a esposa já contraíram vários financiamentos para o hospital e, de acordo com ele, não podem mais, pois os bancos não aceitam. Ele acha que essa hipótese poderá ser aceita pelos profissionais, mas ainda não houve negociação nesse sentido. 

Outra negociação paralela diz respeito ao atendimento às gestantes nos domingos. Como Piratini não tem plantão, a secretária de Saúde tenta agilizar com Camaquã. Aguarda uma resposta quanto ao termo aditivo proposto nesta semana.

 

O que dizem os médicos

O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), segundo nota divulgada, vai notificar o Ministério Público local a respeito da medida (fechamento dos setores na Santa Casa), que entende impedir o atendimento à população do município. O Sindicato considera que a decisão foi arbitrária e deveria ter atendido prazos legais de notificação aos usuários do SUS e aos órgãos competentes, apesar da greve dos profissionais. 

Eles não têm previsão de término do movimento, pela falta de perspectiva de acordo. O hospital quer pagar os valores atrasados em 36 meses, mas os médicos querem a quitação em seis meses ou em 12, com juros. O Simers informa que todas as contrapropostas apresentadas pelo corpo clínico foram rechaçadas pela administração da Santa Casa. 

Reforça ainda que, conforme dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES), a Santa Casa recebeu cerca de R$ 1,4 milhão em valores atrasados do governo do Estado no final de janeiro, que deveriam ser utilizados para o pagamento de médicos e funcionários. Os médicos em greve reivindicam condições dignas de trabalho e o pagamento dos valores em atraso.

 

Os números da Santa Casa

Dívida: R$ 20 milhões

Total de médicos: 28

Em greve:

* Dois anestesistas

* Cinco pediatras

* Três obstetras

* Dois cirurgiões

* Dois radiologistas

Total de funcionários: 270 (estão com os salários em dia)

Total de leitos: 120 (30 psiquiátricos e 80% para pacientes do SUS) 

* A direção negocia com o Estado a abertura de mais oito leitos para jovens até 17 anos na saúde mental