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Impasse

“Todas as delegacias hoje têm menos da metade do efetivo que deveriam ter”, aponta Associação dos Delegados de Polícia do RS

A declaração do presidente da Asdep ocorre após a entidade emitir nota que rebate críticas da chefia da PC-RS às equipes da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher.

Dados da Associação dos Delegados de Polícia do Rio Grande do Sul (Asdep) apontam que há uma defasagem histórica no quadro de servidores da Polícia Civil.

Impasse na Polícia Civil

Atualmente, o efetivo da corporação gaúcha fica em torno de 5.100 agentes, entre escrivães, inspetores, investigadores e delegados.

“Nosso quadro de servidores é pequeno em todos os lugares. A polícia tem um efetivo muito aquém. Na comparação com 1980, há 45 anos, nós tínhamos mais policiais do que hoje. Olha o que cresceu a população, o número de cidades.

A criminalidade aumentou muito e nós temos menos gente hoje do que tínhamos há 45 anos. Então, a gente enxuga gelo. Nós temos quase 80 delegacias no Estado com apenas um servidor”, ressalta o presidente da Asdep, Guilherme Wondracek.

A manifestação ocorreu após críticas do chefe de Polícia do RS, Fernando Sodré, às equipes da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher. Sodré cobrou publicamente duas delegadas pelo vazamento da informação de que 307 mulheres que foram à Deam deixaram de finalizar a ocorrência, conforme revelou a repórter Adriana Irion, de Zero Hora.

Reclamações da categoria chegaram à Asdep, que emitiu uma dura nota direcionada ao comando da corporação, à Secretaria de Segurança Pública e ao governador Eduardo Leite (leia a íntegra abaixo).

Durante a manhã desta segunda-feira, a Ugeirm, que representa os inspetores e escrivães da Polícia Civil, também se manifestou por nota, ratificando que a falta de servidores nas DEAMs e em outras delegacias da corporação tem prejudicado o trabalho.

“O que ocorre nas DEAMs vai muito além do simples registro de ocorrência. Os (as) policiais civis lotados(as) nessas delegacias acumulam funções que, para garantir um atendimento adequado, envolvem: escuta qualificada e humanizada; orientação jurídica; gerenciamento de situações de crise emocional; acionamento de serviços de saúde para atendimento emergencial; acompanhamento das vítimas até abrigos especializados; além da custódia de presos, com a garantia de alimentação e segurança.

Todas essas funções são realizadas com um número insuficiente de profissionais e em condições estruturais precárias. Essa sobrecarga diária compromete a saúde física e mental desses(as) servidores(as), levando vários deles(as) ao adoecimento.

É completamente inadmissível que uma unidade, com tamanha relevância social e demanda crescente, continue operando com uma estrutura deficiente e um efetivo defasado”, diz um trecho da nota (leia a íntegra abaixo).


Últimas medidas do governo para combater feminicídios

A Divisão de Proteção e Atendimento à Mulher da Polícia Civil anunciou, nesta segunda-feira, que vai começar a busca ativa das 307 mulheres que desistiram do registro de ocorrência nos últimos três meses, após os dados revelados pela imprensa.

Também foi prometido, na semana passada, o aumento dos plantonistas na 1ª Deam. Serão seis por turno para atender à demanda. O reforço foi garantido com a adoção de medidas administrativas de manejo pessoal na Polícia Civil. Sodré comentou que o número ideal seria de oito servidores, conforme informado a ele pelas delegadas.

A delegada Tatiana Bastos assumiu, nesta segunda-feira (5), a titularidade do Departamento de Proteção a Grupos Vulneráveis (DPGV), repartição que chefia as delegacias de atendimento à mulher no Rio Grande do Sul.

Notas das entidade de classe

 

NOTA DE APOIO E SOLIDARIEDADE

O governo parece estar mais preocupado com eventuais danos à pretendida candidatura do Sr. Eduardo Leite à presidência da república do que realmente encontrar soluções para o recente aumento exponencial de crimes de feminicídio no RS, haja vista a forma encontrada para tentar se desvincular do ocorrido: substituir e admoestar policiais dedicados e promover verdadeira “caça às bruxas” em busca de responsáveis por publicizar para a imprensa o número de mulheres que teriam desistido de registrar ocorrências policiais nos últimos meses pela demora do atendimento nas delegacias especializadas, o que se depreende de manifestações do Secretário da Segurança Pública, concretizadas pela vistoria do Chefe de Polícia à 1ª DEAM na última sexta-feira (02/05).

É preciso considerar que o referido aumento nos casos de feminicídio, apesar de altamente preocupante e lamentável, parece ser absolutamente incidental, nada indicando que represente uma tendência.

Porém, não nos parece a melhor solução expor e substituir delegados, ao invés de enfrentar as verdadeiras causas, que são a quantidade insuficiente de delegacias especializadas no atendimento da mulher e de policiais em número adequado para atender à demanda das DEAMs, bem como deficiências na legislação vigente e nos meios disponibilizados para o acolhimento das vítimas potenciais de futuros feminicídios.

Desta forma, a ASDEP se solidariza com as delegadas, delegados e demais servidores das DEAMs, incansáveis e inteiramente dedicados à causa de oferecer acolhida às mulheres vítimas de violência – apesar da reconhecida carência dos meios que o estado lhes disponibiliza para o enfrentamento da demanda de trabalho – e espera que o governo do Estado, ao invés de punir e buscar “culpados”, promova a devida valorização dos profissionais da área, suprindo as necessidades dos órgãos policiais especializados.

Porto Alegre, 3 de maio de 2025.

GUILHERME YATES WONDRACEK,

Presidente da ASDEP-RS.

Nota de apoio da UGEIRM/Sindicato aos (às) servidores (as) da DEAM de Porto Alegre

A UGEIRM Sindicato manifesta total apoio e reconhecimento aos (às) servidores (as) da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Porto Alegre, Agentes e Delegados (as). Esses (as) policiais civis vêm enfrentando uma rotina de trabalho extenuante, em meio a um contexto de efetivo reduzido, acúmulo de funções e ausência de suporte institucional compatível com a complexidade da unidade.

A DEAM da Capital é referência estadual no atendimento às mulheres vítimas de violência. Diariamente, esta Delegacia recebe mulheres não apenas de Porto Alegre, mas também de diversas cidades da Região Metropolitana e do interior do estado.

O que ocorre nas DEAMs vai muito além do simples registro de ocorrência. Os (as) policiais civis, lotados(as) nessas Delegacias, acumulam funções que, para garantir um atendimento adequado, envolvem: escuta qualificada e humanizada; orientação jurídica; gerenciamento de situações de crise emocional; acionamento de serviços de saúde para atendimento emergencial; acompanhamento das vítimas até abrigos especializados; além da custódia de presos, com a garantia de alimentação e segurança.

Todas essas funções são realizadas com um número insuficientes de profissionais e condições estruturais precárias. Essa sobrecarga diária compromete a saúde física e mental desses (as) servidores (as), levando vários deles (as) ao adoecimento. É completamente inadmissível que uma unidade, com tamanha relevância social e demanda crescente, continue operando com uma estrutura deficiente e um efetivo defasado.

A UGEIRM reforça que o trabalho desenvolvido pelos(as) plantonistas da DEAM é essencial para salvar vidas. Trata-se de uma atuação especializada, sensível e de altíssimo impacto social, exigindo preparo técnico, empatia e dedicação — características que esses(as) profissionais demonstram com excelência, mesmo diante do abandono por parte do Estado.

A luta por uma Polícia Civil forte e valorizada passa, necessariamente, pelo respeito e reconhecimento aos (às) servidores que estão na linha de frente do enfrentamento à violência contra a mulher. Os (as) policiais da DEAM de Porto Alegre são exemplos de compromisso com o serviço público e merecem respeito, valorização e condições dignas de trabalho.

A UGEIRM reitera que problemas de natureza tão complexa, como os enfrentados pela Delegacia de Atendimento às Mulheres de Porto Alegre, só podem ser resolvidos com diálogo, investimentos e valorização dos servidores que estão na linha de frente da proteção às mulheres.

A escuta aos servidores, combinada com a vontade política do Governo, é a única fórmula capaz de garantir a superação de momentos de crise, como o que agora é vivido pelos(as) policiais da DEAM de Porto Alegre e que se repete em várias unidades policiais do estado.

O Sindicato vem, há anos, denunciando e cobrando do Governo do estado melhores condições de trabalho e reposição do efetivo da Polícia Civil. Os problemas enfrentados pela DEAM de Porto Alegre são a expressão mais visível de uma realidade que atinge toda a Instituição. As DEAMs da Região Metropolitana e do Interior, além das diversas DPPAs do estado, enfrentam problemas semelhantes que são normalmente invisibilizados.

O trabalho árduo dos plantonistas é a porta de entrada e a face mais próxima da Polícia Civil, e do próprio Estado, com a população mais necessitada. Porém, esse trabalho incansável e de alta complexidade não gera repercussão na mídia, como as Operações Policiais, só se tornando notícia em momentos de crise como o que estamos vivendo na DEAM de Porto Alegre.

Nós, da UGEIRM, esperamos que após a superação dessa crise na DEAM de Porto Alegre, o governo do estado e a própria mídia prossigam empenhados em garantir condições dignas para esses (as) servidores.

A Polícia Civil só é eficiente quando está próxima da população, que é a razão da sua existência. Essa proximidade é efetivada, principalmente, pelos plantonistas que estão atrás do balcão das Delegacias atendendo, ouvindo, acolhendo e resolvendo os problemas da população que, na maioria das vezes, só conta com esse braço do Estado.