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Tráfico de drogas sintéticas aumenta no Rio Grande do Sul

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Venda para consumidores de alto poder aquisitivo, facilidade de transporte de grandes quantidades em pequenos volumes e, em geral, ausência de relação com a violência característica do comércio de drogas como maconha e cocaína. 

Atrativos para traficantes e empecilhos para o trabalho da polícia, esses são os principais fatores para o avanço do tráfico de drogas sintéticas no Rio Grande do Sul. Números do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) mostram que as apreensões de LSD de janeiro a abril deste ano (1.423 unidades da substância) já somam quase o dobro do que foi encontrado em todo o ano passado (787 unidades).

No mesmo período, a localização de ecstasy já alcançou 40% do total recolhido em 2014, quando o recorde de apreensão em ação única foi batido três vezes — o último com 1.502 comprimidos.

Focadas no público jovem e de classes média e alta, as drogas sintéticas circulam em boates e festas rave. Conforme o diretor de investigações do Denarc, delegado Leonel Carivali, a possibilidade de acumular lucro rapidamente tem motivado um perfil de tráfico no qual o vendedor circula no próprio mercado:

— Com as sintéticas, a droga tem circulado nas camadas de classe alta e média não só para compra, mas também muito pela venda, praticada por pessoas desse próprio meio.

Segundo o delegado, não são raros os casos de usuários que, a partir da própria rede de amigos, colegas — muitos são universitários — e contatos com frequentadores de festas onde ocorre o consumo do das chamadas balas (ecstasy) e doces (LSD), veem uma oportunidade de ganhar dinheiro fácil.

— Estimamos que entre 30% e 40% das prisões que realizamos neste ano sejam de jovens de classe média e alta — afirma o delegado Emerson Wendt, diretor do Denarc.

Ao contrário do comércio ilegal de maconha e cocaína, que se estabelece em estrutura semelhante a de empresas — com vários degraus hierárquicos até a venda direta ao usuário — o traficante de drogas sintéticas lida com poucos intermediários e, algumas vezes, atua quase como autônomo, explica Wendt. 

Além disso, os vendedores costumam ir ao encontro do seu círculo de clientes, sem necessidade estabelecer domínio ou proteção violenta de um território — a maioria dos envolvidos não anda armado.

Efeito devastador em médio prazo

A proliferação das drogas sintéticas ainda se concentra na Capital e Região Metropolitana, mas também tem ganho força em grandes centros do Interior, como Serra e Campanha. 

Nesta terça, a 1ª Delegacia de Polícia (DP) de São Leopoldo prendeu dois jovens em Esteio, no bairro Parque Primeira, com 200 pontos de LSD e 60 quilos de maconha. No sábado, a Operação Ecstasy da 2ª DP de São Leopoldo prendeu 15 suspeitos de atuar no Vale do Sinos.

Uma das principais preocupações da polícia e de profissionais da saúde é a falta de consciência quanto à gravidade dos riscos à saúde pelo uso das drogas sintéticas, cujos efeitos devastadores costumam aparecer em médio a longo prazo.

— É diferente do crack, em que o estrago fica exposto rapidamente. As famílias desses jovens, que vão à academia e mantêm corpo aparentemente saudável, demoram a perceber que estão fazendo uso de substâncias com efeitos irreversíveis — comenta Carivali.

O aumento da circulação de drogas sintéticas no Rio Grande do Sul, segundo o Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), tem como principal origem carregamentos vindos de São Paulo e, em especial, Santa Catarina. No último dia 18, em Gravataí, a Polícia Federal (PF) prendeu um casal que trazia de carro, pela freeway, um lote com 3.759 comprimidos de ecstasy adquiridos no Estado vizinho.

Enquanto a importação pela fronteira de países da América Latina continua sendo a principal porta de entrada para maconha (Paraguai) e cocaína (Bolívia, Colômbia e Peru), os órgãos de segurança têm percebido o crescimento da produção nacional dos entorpecentes sintéticos.

— Tem sido bastante comum os traficantes aqui no Brasil mesmo montarem laboratórios artesanais para transformar insumos químicos em entorpecentes — afirma o chefe da Delegacia de Repressão a Drogas da PF no RS, delegado Fabricio Argenta.

O Estado já tem registros desse método de organização. Em abril, uma operação da 1ª delegacia do Denarc desmontou em Gravataí uma pequena fábrica do entorpecente conhecido como special K (ou ketamina) — composto produzido a partir de um anestésico para cavalo. 

É uma substância forte e que resulta em alto lucro para os traficantes, pois é de produção barata. No local, foram encontrados os materiais para fabricação e 700 cápsulas da droga, além de pequenas quantidades de ecstasy e maconha.

Comércio ilegal mira academias

Conforme Argenta, parte das drogas sintéticas ainda ingressa no país mediante importação, vinda principalmente da Europa, mas a operação de contrabando exige um nível de organização mais complexo, em razão do rígido controle nos aeroportos.

— Em geral, se dá pela mesma pessoa que serve de mula para levar maconha e cocaína até a Europa. Ela volta com as sintéticas, que lá são mais baratas pelo grande volume de fabricação — explica Argenta.

Outra vertente que tem chamado atenção da polícia é o comércio de entorpecentes para frequentadores de academias. Na segunda-feira passada, operação da 1ª delegacia do Denarc prendeu um dos maiores fornecedores desse mercado. 

O homem, de 28 anos, foi detido em um posto de combustíveis no bairro Sarandi, na Capital, em um veículo com quase 3 mil comprimidos de anabolizantes, anfetaminas e esteroides — carga avaliada em R$ 30 mil. O universitário buscava os entorpecentes no Paraguai, no Uruguai e na Argentina e repassava a revendedores.