Imagine acordar de repente, ver o ambiente ao redor com clareza, mas não conseguir mover um único músculo. Pior: sentir uma presença estranha, como se algo sombrio estivesse no quarto. Essa é a realidade de quem passa pela paralisia do sono, um fenômeno mais comum do que se imagina e que agora conta com estudos aprofundados para explicar suas causas.
O psiquiatra Baland Jalal sabe bem como é. Aos 19 anos, acordou imobilizado, com a sensação de estar sendo estrangulado por uma criatura invisível. Tentou gritar, chamar os pais, mas nenhuma palavra saiu. Hoje, aos 39, Jalal se dedica a entender esse fenômeno que mistura ciência e experiências aterrorizantes.
O episódio mudou sua vida. Doutor em psiquiatria e pesquisador da Universidade de Harvard, Jalal é referência no assunto e atende pacientes que enfrentam episódios recorrentes de paralisia do sono.
O que acontece com o corpo?
Segundo a Cleveland Clinic, cerca de 30% das pessoas no mundo já passaram por isso pelo menos uma vez. A maioria dos episódios dura poucos minutos, mas para quem sofre de forma recorrente, pode ser um verdadeiro pesadelo acordado.
A paralisia ocorre durante as transições para dentro ou fora da fase REM do sono — período em que os sonhos são mais intensos e o corpo naturalmente fica imóvel para evitar movimentos perigosos durante os sonhos. O problema surge quando a mente desperta antes que o corpo saia dessa paralisia.
Alucinações assustadoras
Cerca de 40% dos casos envolvem alucinações: sons, toques ou visões bizarras, como seres que se aproximam da cama ou pressionam o peito da vítima. Para 90% das pessoas, essas visões são assustadoras e realistas. Muitas relatam fantasmas, figuras semelhantes a gatos, alienígenas ou até seres que tentam matá-las.
Em suas pesquisas, Jalal descobriu que o conteúdo das alucinações varia conforme o país. Egípcios, por exemplo, relatam ataques de gênios malignos; já italianos veem bruxas. Em locais como Dinamarca ou Polônia, as explicações são mais científicas, e o medo é menor.
Para Jalal, as figuras vistas durante os episódios não são apenas sonhos que escapam para a consciência. Elas estão relacionadas ao estado de alerta do cérebro em contraste com a inércia do corpo. A ciência, aos poucos, tem jogado luz sobre esse fenômeno que, embora apavorante, tem explicação e tratamento.