Durante a expedição do navio HMS Beagle, que percorreu o mundo entre 1831 e 1836, o jovem Charles Darwin teve no Brasil uma experiência que marcou não só sua carreira científica, mas também sua visão moral do mundo.
Com apenas 22 anos, o naturalista britânico desembarcou primeiro em Salvador, em fevereiro de 1832, e depois passou cerca de três meses no Rio de Janeiro. Entre a beleza da natureza tropical e a crueldade da escravidão, Darwin conheceu os dois extremos do país — e não saiu ileso.
A chegada ao Brasil foi um choque positivo para Darwin. As matas tropicais o deixaram maravilhado e ele até escreveu em seu diário que eram mais belas do que tudo que já tinha visto.
Nos meses que passou por aqui, ele explorou trilhas, observou aves, insetos e plantas, e coletou amostras que, anos mais tarde, ajudariam a fundamentar a teoria da seleção natural.
O horror da escravidão
Mas o fascínio pela natureza rapidamente foi confrontado por outra realidade: a escravidão. Em Salvador, viu um homem chicotear uma mulher em público — cena que o marcou profundamente. Já no Rio, presenciou castigos físicos e o uso de pessoas escravizadas como criados domésticos. Indignado, chegou a romper com um anfitrião brasileiro que defendia a prática.
Para Darwin, aquilo era mais do que um choque cultural — era uma afronta moral. Em anotações publicadas no diário de bordo da viagem, ele escreveu: era impossível ver essas cenas e não se sentir horrorizado. Ele afirmou que nenhum terremoto ou fera da selva causou tanto espanto quanto a brutalidade urbana contra seres humanos.
O naturalista também reconheceu o envolvimento da Inglaterra na escravidão. Ainda no diário, ele rezou pelo fim da escravidão. A passagem de Darwin pelo Brasil ficou gravada em sua memória — não apenas pelas cores da floresta, mas pelas sombras da opressão.